Fernando Collor foi “vendido” como o ‘caçador de marajás’ pela grande mídia. Ganhou o segundo turno de Lula e assumiu a presidência em 1990
Os “jovens há mais tempo” hão de se lembrar que ser servidor público, no Brasil, já foi motivo de júbilo e lisonja. Eram outros tempos, quando o funcionalismo era, efetivamente, reconhecido como um Longa manus do Estado.
A situação começou a se modificar em 1989, na primeira eleição direta para a Presidência da República, após os anos de ditadura. Fernando Collor foi “vendido” como o ‘caçador de marajás’ pela grande mídia. Ganhou o segundo turno de Lula e assumiu a presidência em 1990. O resto todos sabemos o que aconteceu. Collor foi o primeiro Presidente a sofrer processo de impeachment por corrupção e foi defenestrado do poder no crepúsculo de 1992.
Mesmo assim, a grande mídia não aprendeu. Embevecida por se autoproclamar como o “quarto poder”, as grandes corporações midiáticas sempre quiseram dar as cartas na política. Na verdade, isso não é uma novidade. Isso já aconteceu em priscas eras com Assis Chateaubriand, Samuel Wainer, entre tantos outros.
O problema para nós, servidores, é quando começamos a ser vilipendiados por estas corporações que, para defender os seus interesses, elegeu-nos como os vilões da sociedade e responsáveis por todos os desvios dos governantes e suas malversações de recursos.
Pergunto: está mais que comprovado que havia no estado do Rio de Janeiro, um mega esquema de desvios bilionários, cujo maior responsável foio ex-governador Sérgio Cabral Filho. Sem recursos, o Rio beira à falência e seus servidores, sem salários, foram às ruas. Então por que, a grandemídia execra tais servidores por um legítimo movimento grevista?
As questões não param por aí. Estamos às voltas de uma nova proposta de emenda constitucional que não apenas “reforma” a Previdência como, praticamente, a extingue. E aí, mais uma pergunta. Por que nós somos os responsáveis quando está mais que comprovado os bilhões de reais desviados e que estão devidamente listados pelo Procurador-geral da República Rodrigo Janot e sua lista fechada que livremente circula pela Internet?
O exercício ético do Jornalismo, em tempos temerosos, deveria permear nossa grande mídia para noticiar o que realmente o que vale a pena, como se há déficit na Previdência – o que é uma falácia – ou instruir a população como podemos reconstruir o País por meio do volto, nossa única arma.
Porém, ao se vender para os polpudos anúncios oficiais, a grande mídia se perdeu. Cada vez mais goza de menos credibilidade e vê a concorrência do jornalismo de luta crescer, algo, ressalte-se, importantíssimo.
Não vejo como a grande mídia sairá deste imbróglio. É um caminho sem volta.
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Sylvio Micelli. 46, é jornalista, escritor e servidor do Judiciário de São Paulo. É Diretor de Imprensa da ASSETJ-SP, FESPESP, CNSP e da Pública-SP e tem cinco livros institucionais publicados.
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