São Paulo 11/3/2021 – Estima-se que até 15% dos casais precisarão de algum tratamento para engravidar
A incorporação da pílula anticoncepcional no cotidiano das mulheres, nos anos de 1960, foi um dos fatores que permitiu a conquista, gradual, de mais participação no mercado de trabalho, além de maior liberdade sexual. Segundo a Dra. Paula Fettback, ginecologista especializada em fertilidade de alta complexidade, a Reprodução Assistida é outro grande avanço que levou à liberdade das mulheres em relação à escolha do momento ideal para a maternidade.
É o que mostram estudos como este, da Universidade Harvard (EUA), em que os autores explicam como a pílula teve um papel fundamental nessa mudança. Os pesquisadores demonstraram que, à medida que as autoridades nos EUA liberavam o acesso à pílula, aumentava o número de matrículas de mulheres em cursos, assim como os seus salários. No entanto, apesar de a pílula ter colaborado para uma melhor escolha, muitas mulheres se depararam com uma situação paradoxal, entre o sucesso na carreira profissional e o sonho de construir uma família, este, muitas vezes, posto em segundo plano pelo tempo e, quando a tão esperada estabilidade financeira finalmente chegava, a idade do óvulo tornava-se um empecilho ao sonho da maternidade.
A Dra. Paula reflete a respeito: “Com o maior controle da nossa fertilidade ao longo dos anos, a maternidade tem ficado para mais tarde e o papel da mulher como mãe também tem sido debatido – precisamos mesmo ser mães aos 20 e poucos anos?”, afirma e complementa: “A decisão passou a estar cada vez mais nas mãos das mulheres, principalmente com o congelamento de óvulos e técnicas como a fertilização in vitro”.
Mesmo com tanta informação disponível, a infertilidade ainda está rodeada de tabus. O peso do sucesso da fecundação, por exemplo, costuma ficar centralizado na mulher e, por isso, é preciso reforçar a comunicação sobre o tema. Estima-se que até 15% dos casais precisarão de algum tratamento para engravidar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a infertilidade afeta de 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, cerca de 8 milhões de indivíduos podem ser inférteis (ASRM e ESHERE – OMS).
Mas e o envelhecimento do corpo?
A criopreservação de embriões e gametas (oócitos) – o termo técnico para congelamento de óvulos – foi desenvolvida na década de 1980 e, naquela época, ficou restrita a pacientes com problemas de saúde graves, mas que desejavam ter um bebê em um outro momento. Entre 2012 e 2013, a American Society for Reproductive Medicine e o ESHERE popularizaram o procedimento, declarando que a técnica de congelamento de óvulos não era mais considerada pelas sociedades médicas como experimental e, desta forma, abriu caminho para que o congelamento eletivo de óvulos crescesse. Nos últimos anos, esse procedimento tem ganhado popularidade, graças a pessoas influentes falando abertamente sobre sua decisão, além, também, do avanço das conversas em torno da maternidade, carreira, feminismo e outros aspectos que rondam a vida da mulher.
A grande diferença entre os métodos de reprodução assistida e o congelamento é que este não se destina às mulheres que já optaram por uma gravidez. O principal público que busca pelo procedimento é quem deseja adiar a decisão da maternidade por diversos motivos, seja porque não está com um relacionamento estável, ou pelo foco na carreira, ou com alguma doença que necessita de mais atenção ou, ainda, por querer adiar a decisão da maternidade. Nos últimos três anos, por exemplo, a procura por congelamento de óvulos aumentou em 50% na Clínica Mãe, onde a Dra. Paula atende em São Paulo e em Londrina, PR.
A verdade é que a Medicina ainda não conseguiu retardar o envelhecimento ovariano e, infelizmente, quando a mulher chega aos 37 anos, a maternidade acaba sendo um peso para muitas mulheres que ainda não decidiram se querem – ou se chegou a hora – de gerarem uma vida.
Há uma grande pressão da sociedade, ainda, em associar a maternidade ao sucesso feminino e o congelamento de óvulos tem sido uma opção para aquelas que não querem carregar mais essa “pedra em sua bolsa”, diante de outras questões que já enfrentam na rotina. “Queremos encorajar as mulheres a entenderem mais sobre sua fertilidade, seu ciclo menstrual e as opções que existem para que elas se empoderem dessas informações e tomem a decisão que mais cabe em sua vida”, explica a Dra. Paula. “O importante é saber que não há uma obrigação da mulher ter que engravidar até os 35 anos para não perder a chance de ser mãe. Está tudo bem se não quiser ser mãe, ou preferir adiar. Felizmente, a Medicina evoluiu para que tenhamos escolha e poder sob a nossa vida”, conclui.
Sobre a especialista
A Dra. Paula é ginecologista especialista em infertilidade com ênfase em alta complexidade. É doutora pela Faculdade de Medicina da USP. Atua com reprodução assistida desde 2006. Possui consultório em São Paulo e no Paraná.
Website: https://www.clinicamae.med.br/
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