Paulista, Nelson começou a carreira no estado natal, mas foi no Rio de Janeiro que se consolidou e ganhou projeção. Dessa época, da década de 1950, o público vai poder conhecer ou rever a zona norte do Rio. “Ele traz essa experiência do neo-realismo italiano e dá uma nova cara para o cinema brasileiro”, comenta Gomes sobre os filmes dessa fase do cineasta, que inclui Rio 40 graus, o único longa que não será exibido devido a pendências judiciais.
A ligação com a literatura também é uma vertente explorada pela programação. Essa relação será discutida em uma masterclass da pesquisadora Angélica Coutinho, no dia 18. Saíram dos livros para as telas, pelo olhar de Nelson, o conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa; o romance Vidas Secas, de Graciliano Rmos; e a peça Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues.
Documentários
Como marca constante, Gomes destaca a preocupação do cineasta com temas sociais e políticos. “Ele faz Brasília 18% usando toda a mítica que a cidade envolve. Tem o que está ali no entorno do poder, política e conexões entre público e privado. Esse olhar para o que está acontecendo no mundo hoje”, diz sobre o último longa de ficção do diretor, lançado em 2006.
O cineasta realizou mais três documentários, dois deles sobre o músico Tom Jobim. Em A Música Segundo Tom Jobim, imagens de arquivo mostram as composições do brasileiro por diversos intérpretes e em várias línguas. A Luz do Tom reúne depoimentos sobre o músico. “Ele mostra a diversidade do personagem, que é o Tom Jobim, mas também a diversidade dele como realizador, como ele está aberto a experimentar e fazer coisas diferentes do que está acostumado”, destaca o curador.
Essa postura, de continuar depois de tanto tempo de atividade e se desafiando constantemente, é, na opinião de Gomes, uma inspiração para os artistas mais jovens. “Acho que isso é sempre um respiro para quem está começando. Para os novos cineastas, serve como estímulo. Nelson Pereira ainda está filmando, atento ao que está acontecendo e aberto a experimentar”.