Editorial: a imprensa precisa combater a “burrocracia”

A ‘burrocracia’ brasileira atrapalha o desenvolvimento de novos empreendedores, sejam eles comunicadores ou não. Isso precisa ser denunciado pela imprensa

Já pensou ter de autenticar em cartório todas as letras das músicas que você pretende tocar livremente em meio a uma roda de samba com os amigos, como se fosse uma apresentação à imprensa? Ter de apresentar a nota fiscal do cavaquinho – ou qualquer outro instrumento – para poder participar da brincadeira? Saber se o local tem extintor de incêndio para, aí sim, batucar a caixa de fósforos? E ter a ‘burrocracia’ de só tocar tantan com a presença de um fiscal?

Todas as ações descritas acima são, com razão, inimagináveis. O pagode com esse formato “travado”, porém, serve como base para a Endeavor fazer analogia com a burocracia presente no dia a dia dos brasileiros – sobretudo para empreendedores. De forma cômica, a organização faz alerta para um assunto sério em sua campanha publicitária: os malefícios da ‘burrocracia’ no Brasil. Com o lema de “a burocracia para tudo”, a ação conta com site especial e dois vídeos circulando na mídia.

No Brasil, a ‘burrocracia’ não chegou às rodas de samba, ao menos por enquanto, mas está presente na rotina de quem resolve empreender – e nem estamos falando somente da alta carga tributária. Com dados do Banco Mundial, a Endeavor sinaliza que, em média, demora-se 79 dias para conseguir abrir uma empresa no Brasil. A título de comparação: no México, o tempo gasto é de oito dias. Em um país em que cada vez mais profissionais da comunicação partem para o empreendedorismo (para termos o nosso setor como exemplos), tal informação é desalentadora.

Só para reforçar: é BEM MAIS FÁCIL empreender no México do que no Brasil (Imagem: reprodução/Endeavor)

Atrapalhando jornalistas-empreendedores

Para seguir no mundo do Comunique-se, que neste ano lançou a categoria ‘Empreendedorismo’ no Prêmio Comunique-se, vale pensar na situação de “jornalistas-empreendedores”. Seja por necessidade (menos oportunidades em redações) ou por inspiração, profissionais da comunicação têm investido em seus próprios negócios. A ‘burrocracia’ brasileira está lá, presente desde o início, para atrapalhar o surgimento e a estruturação de projetos inovadores na área de comunicação. Sabemos que o mesmo ocorre em todos os outros setores no país.

A ‘burrocracia’ transforma a arte de empreender em dor de cabeça

Abrir uma empresa no Brasil demora, por mais que o empreendedor faça tudo certo e siga rigorosamente os processos legais. A ‘burrocracia’, que exige excesso de impostos e emissões desnecessárias certidões, transforma a arte de empreender, que deveria ser facilitada e valorizada pelas esferas governamentais e pelos órgãos reguladores, em dor de cabeça. Por aqui, chegam relatos de comunicadores que reclamam das travas burocráticas. Há casos em que o profissional admite: não vê a hora de ter a possibilidade voltar a ser funcionário em algum veículo, por exemplo. Desistência da carreira empreendedora? Não! Desistência da ‘burrocracia’.

“O excesso de burocracia no ambiente de negócios do Brasil é um dos principais entraves para o desenvolvimento. Assim, o objetivo da campanha ‘Burocracia Para Tudo’ é criar um grande movimento pela desburocratização, unindo empreendedores, organizações que apoiam o empreendedorismo, gestores públicos e cidadãos, que acreditam e querem contribuir para mudar esse cenário”. É o que afirma, de modo preciso, a equipe da Endeavor na ação para a imprensa.

Sobre apoio, a Endeavor pode contar desde já com o Comunique-se. É interessante, contudo, que a imprensa de forma geral participe da ação. Pode ser por meio de divulgação em espaços publicitários. Além disso, deve-se desenvolver pautas sobre o tema. O ‘Jornal Nacional’ fez isso nesta semana. Órgãos de mídia precisam dar voz a isso, mostrar exemplos de como a burocracia atrapalha na geração de empregos. Prejudicando, inclusive, a área da comunicação. Consequentemente, o público em geral terá cada vez mais noção de que a “’burrocracia’ para tudo”.

Como seria uma roda de samba com a ‘burrocracia’?

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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