São Paulo (SP) 29/10/2020 – Mesmo empresas líderes de mercado e de qualidade já perceberam que devem se transformar totalmente. Do contrário, não vão conseguir competir
O complexo contexto atual está exigindo das empresas a busca por uma transformação profunda em processos, produtos, serviços e formas de se relacionar com mercados e clientes. A avaliação é de especialistas em gestão e de líderes de companhias.
Trata-se do chamado “lean turnaround”, um dos conceitos do sistema lean, filosofia de gestão inspirada no modelo Toyota, que significa promover mudanças radicais na maneira tradicional de se gerir uma organização.
É o caso do Grupo IOV (Instituto de Oncologia do Vale), rede de clínicas da região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, que vem buscando um lean turnaround há cerca de 10 anos, quando passou a adotar a gestão lean em suas unidades de São José dos Campos e de Taubaté.
Segundo o médico oncologista Carlos Frederico Pinto, CEO da empresa, isso vem alterando profundamente todos os processos de gestão da companhia. E gerou uma série de resultados. Triplicou, por exemplo, a capacidade de atendimento em algumas unidades e aumentou em pelo menos quatro vezes a segurança dos pacientes.
O médico explica que a base dessa transformação foi tornar a organização um ambiente em que, cotidianamente, todos, do porteiro ao presidente, têm como objetivo principal revelar e resolver problemas, com o foco na melhoria contínua dos processos, na eliminação de desperdícios e no aumento da agregação de valor aos clientes.
“Isso teve um impacto muito grande e foi o principal responsável pelas profundas transformações que tivemos, pelo lean turnaround que temos buscado”, resumiu o CEO.
Aminadab Nunes, partner da CI&T, uma das maiores empresas de soluções digitais do Brasil, acredita que o lean turnaround está ligado à transformação digital que ocorre nas companhias nos últimos anos.
Segundo ele, os efeitos da pandemia aceleraram essa digitalização, fazendo-a passar de “estratégica” para “urgente”, estimulando as organizações a buscarem uma transformação mais abrangente.
“Para alguns, trata-se de acelerar uma agenda já em andamento, mas para muitos, significa colocar de pé um turnaround completo que se estenda a desde encontrar novas alavancas de crescimento e diferentes formas de se conectar com o consumidor até a reinvenção da própria cultura de execução e liderança”, disse Nunes.
O professor José Roberto Ferro, fundador do Lean Institute Brasil, explica que há uma inédita combinação de fatores sociais, até então inexistentes, que vem exigindo das empresas uma busca por mudanças cada vez mais profundas nos modelos de gestão e de negócios.
Por exemplo, as inovações tecnológicas, não mais suportes às companhias, mas a essência delas. O aumento exponencial da competição entre organizações que, embora diferentes, competem pelos mesmos públicos. Uma nova expectativa dos trabalhadores que buscam assumir mais responsabilidades e aprender com o trabalho. E as recessões econômicas globais potencializadas pela complexidade de uma pandemia.
“Com isso, as incertezas e os riscos assumiram proporções nunca imaginadas por qualquer líder empresarial. Assim, apenas ‘melhorar’ as empresas já não basta. É preciso fazer mudanças profundas. Mesmo as líderes de mercado e de qualidade já perceberam que devem se transformar totalmente. Do contrário, não vão conseguir competir”, acredita Ferro.
Segundo ele, exemplo claro desse fenômeno são companhias do setor automotivo, como Toyota e Tesla, que já demonstram não ser mais suficiente “apenas” produzir e vender veículos. Estão se transformando em fornecedoras de soluções de mobilidade, o que é diferente.
O professor Flávio Picchi, presidente do Lean Institute Brasil, explica que, nesse contexto, há três tipos possíveis de turnaround. O primeiro é o “reativo”, que ocorre em organizações com graves problemas financeiros e que precisam sofrer viradas radicais para tentar sobreviver.
O segundo é o “turnaround corretivo”, quando a empresa percebe que está começando a declinar no mercado e que sofrerá consequências sérias caso não mude os rumos dos negócios.
E o terceiro é o “turnaround proativo”, o mais indicado, segundo Picchi, ao contexto atual. São companhias que, mesmo com excelentes desempenhos, fazem turnaround para se reinventar. Mudam radicalmente os processos, produtos, serviços, modelos de gestão e de relacionamentos com mercados e clientes para se tornarem melhores do que já são.
“Assim, elas conquistam novos e mais elevados patamares. Passam à frente de competidores e garantem vantagens competitivas, não só no presente, mas também para o futuro”, resumiu Picchi.
Nesse contexto, o professor José Roberto Ferro explica que há três bases fundamentais para se buscar um lean turnaround numa organização.
Intensificar o foco na agregação de valor aos clientes. Aumentar a capacidade de todos em revelar e resolver problemas. E potencializar a geração de experiências e de aprendizados.
“Ou seja, fazer com que todos na empresa experimentem diariamente novas soluções para os problemas e disseminem isso”.
Para o médico Carlos Frederico Pinto, CEO do IOV, essa transformação só ocorre se partir das lideranças, o que exige também mudanças profundas de mentalidade.
“Os líderes precisam abandonar o chamado ‘comando e controle’ e devem agir de outra forma. Precisam aprender a ir ao local onde ocorre o trabalho para, diferente de dar ordens e controlar, fazer perguntas e entender, de fato, o que acontece. E apoiar, de verdade, os liderados para que eles investiguem as falhas, encontrem as causas raízes e resolvam os problemas”, resumiu.
Os quatro especialistas concordam que a essência do lean turnaround é melhorar os processos todos os dias, com o foco principal na melhoria dos processos, visando fortalecer o que agrega valor aos clientes e eliminando o que não agrega, ou seja, os desperdícios.
“A essência do lean turnaround, para conseguir dar a ‘grande virada’, é estar o tempo todo se desafiando, questionando, experimentando e aprendendo, todos os dias”, resumiu o professor Ferro.
Website: http://www.lean.org.br
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