Contrariando a tendência de queda vivenciada por diversos setores por conta da pandemia de Covid-19, a indústria global de tatuagem superou a porcentagem prevista para bens de consumo e serviços em 2021 e alcançou um crescimento de 23.2%, conforme dados de uma pesquisa divulgada pela IBIS World. No Brasil, o setor foi além do resultado global, com uma alta anual de 25%, de acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Segundo o balanço DataSebrae, da mesma entidade, gerado com dados da Secretaria Especial da Receita Federal, há 22.568 estúdios de tatuagem e colocação de piercing no país. Destes, 21.093 são liderados por MEIs (microempreendedores individuais), 1.384 estão no formato de ME (microempresa) e 91 são EPPs (empresas de pequeno porte).
Aliás, o Brasil ocupa a nona posição entre os países com o maior número de cidadãos tatuados, conforme publicado pelo Mundo do Marketing. Para artista tatuadora, Carla Risatto, da Iron Works – empresa que atua com skincare, agulhas, pigmentos, tintas, máquinas, serviços de tatuagem e micropigmentação -, o ecossistema da indústria global da tatuagem se popularizou devido à demanda na busca por um novo estilo de trabalho, arte e cultura.
“Além de ser um trabalho informal, que só ‘cresce’ com o estilo de vida do tatuador e dos estilos de tatuagem, como micropigmentação e suas diversas opções, a ‘tattoo’ começou no underground e se tornou culturalmente aceito como um estilo de vida contemporâneo”, afirma.
Uma indústria em constante evolução
Risatto diz que os resultados positivos alcançados pela indústria de tatuagem são o resultado de inovações constantes, o que leva ao lançamento de novas técnicas e produtos. “O setor está sempre se reinventando. Entre as novidades, podemos destacar tendências como máquinas, produtos e equipamentos mais leves, que funcionam de forma mais silenciosa, como os rotativos”, explica.
De fato, muita coisa mudou desde que os primeiros povos que se têm notícia começaram a se tatuar, por volta de 3370 e 3100 A.C. Segundo uma pesquisa publicada na revista de arqueologia Journal of Archaeological Science, duas múmias egípcias de cerca de 5 mil anos foram encontradas com manchas nos braços que eram, na verdade, tatuagens. A descoberta dos pesquisadores foi comprovada por meio de uma análise com raios infravermelhos, conforme publicado pela BBC News.
Em entrevista à BBC, Daniel Antoine, curador de Antropologia Física do Museu Britânico e um dos autores do trabalho, destaca que, “com mais de 5 mil anos de existência, as múmias demonstram que as tatuagens na África apareceram mil anos antes do que as evidências mais recentes sugeriam”.
Acredita-se que os povos antigos usavam instrumentos pontiagudos feitos de bambus, ossos e pedras para fazer a aplicação de tinta vegetal ou carvão nas camadas da pele. Os equipamentos e as técnicas foram exploradas e aperfeiçoadas por egípcios, maoris, polinésios, japoneses e chineses ao longo dos anos, até que a primeira máquina de tatuagem elétrica foi patenteada em 1891 pelo imigrante irlandês Samuel O’Reilly.
A invenção de O’Reilly foi uma adaptação de um gravador de papel criado em 1876 pelo inventor e empresário norte-americano Thomas Edison, conforme informações do estudo “Assinado e selado em sangue: um ensaio socioantropológico da tatuagem e a arte”, de Arthur Ferrari Gonçalves, graduando de Artes Visuais, para a FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação), da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
De lá para cá, prossegue a especialista, as empresas do mercado têm lançado produtos inovadores, como materiais de fácil conexão, sem fio, com baterias e ainda soluções tecnológicas através do Visagismo. “Hoje, os tatuadores têm à disposição uma série de facilidades, como as ‘pens’, que são as canetas com praticidade, anatômicas e, também, com o uso de diversos cartuchos com modelos diversos de agulhas”, descreve.
“As tintas de uso para tatuagem com variedades e tonalidades de fácil aplicação, fixação e durabilidade na pele também são novidades que podem contribuir para a criação de bons trabalhos, tanto para profissionais mais experientes, como também para a nova geração de tatuadores”, conclui Risatto.
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