O ano de 2016 não tem sido bom para os profissionais da Editora Três, ao menos com relação aos pagamentos. Com histórico de atrasos frequentes, a empresa decidiu, agora, que irá parcelar em cinco vezes o 13° dos contratados da IstoÉ. A reportagem do Portal Comunique-se apurou que a situação da editora, que está em recuperação judicial, coloca em xeque a vida das publicações. Além disso, um processo trabalhista movido por uma ex-funcionária pode colocar à venda a mansão da família Alzugaray, avaliada em R$ 2,8 milhões.
Atualmente, quase todos os profissionais da redação da IstoÉ são PJs. Entre os jornalistas, apenas seis são contratados em regime CLT. A proposta do impresso é que o do 13° seja parcelado para quem é celetista, com início de pagamento em 2017. Os funcionários que são PJs estão sem saber se receberão a quantia.
Fontes afirmaram à reportagem do Portal Comunique-se que o clima na redação é de total tensão e incerteza. “Uma situação muito difícil. As pessoas têm medo de programar viagem neste final do ano e ficar desempregada nos próximos dias, ou acabar sem receber o salário. Houve atraso de pagamento ao longo de todo o ano”, revelou a fonte, que terá seu nome preservado nesta reportagem.
Em contato com o Comunique-se, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), Paulo Zocchi, falou sobre a situação e informou que a editora deve apresentar algo mais concreto nos próximos dias. “Estamos há três anos tentando formalizar o vínculo empregatício de todos. O problema de ser PJ não é só pelos direitos”. Segundo o executivo da entidade, existe um acordo informal entre os profissionais e a Editora Três que simula os direitos trabalhistas, mas isso não impede que o documento seja revogado. “O problema é que não conseguimos representar esse profissional diante da situação”.
Zocchi revelou, ainda, que existe certa ameaça em relação a temas como continuidade do conjunto de revistas, pagamento do 13° para os PJs, correção de salário e, eventualmente, manter o emprego de todos. “A direção da empresa ainda está analisando. O sindicato vai defender salário, emprego e vínculo de todos”. Em conversas recentes com a entidade, a editora se comprometeu a analisar a situação e dar feedback aos profissionais da redação. “Esperamos que nas próximas semanas a empresa fale com o sindicato sobre o que vai fazer em relação a essas incertezas”.
No ano passado, a direção anunciou que não pagaria o 13° dos PJs e que não teria recursos para fazer o reajuste salarial. Diante da ameaça de greve, a editora fechou o seguinte acordo: o 13° seria parcelado com pagamentos de maio até setembro deste ano e o reajuste seguiria o cronograma previsto. O combinado não foi seguido, de modo que a primeira parcela do décimo só foi paga em julho e a última deveria ter sido em novembro, mas ainda não aconteceu. Além disso, o adiantamento de salário da equipe, programado para 20 de novembro, foi pago em 2 de dezembro. Já o pagamento do mês, previsto para segunda-feira, 5, ainda não foi feito.
A reportagem do Portal Comunique-se tentou contato com a Editora Três para falar sobre o caso, mas ainda não teve retorno.
A mansão de R$ 2,8 milhões
Nesta semana, a Juíza da 44ª Vara do Trabalho, Thatyana Cristina de Rezende Esteves, rejeitou pedido da família Alzugaray para que a mansão de Domingos e Catia no bairro do Morumbi não fosse penhorada para pagar a dívida trabalhista com uma ex-funcionária da revista, atualmente estimada em cerca de R$ 1,4 milhão.
A Juíza afirmou na decisão que a família Alzugaray não juntou nenhum “documento que atestem o fim residencial do bem, tais quais correspondências pessoais ou contas bancárias”. Assim, o imóvel de dois mil metros quadrados, que já foi avaliado em R$ 2,8 milhões, deve ir a leilão em breve.
Advogado da ex-funcionária da revista, Kiyomori Mori avalia a situação da empresa como “lamentável”. “Infelizmente a IstoÉ sempre escolhe o caminho que mais prejudica o jornalista, como parcelar o 13º salário, mas quando casos assim chegam a Justiça e terminam em condenações elevadas, ela reclama do que chama de ‘custo Brasil’”.