No jornalismo, Dudu Camargo não pode se perder no personagem

O garoto deveria ter experiência jornalística antes de ser apresentador de telejornal,
ou poderia seguir no entretenimento

Você, leitor do Portal Comunique-se, provavelmente deve estar acompanhando os acontecimentos relacionados à mídia brasileira, até mesmo dos veículos televisivos, e o principal assunto nas telinhas nas últimas semanas é o jovem apresentador Dudu Camargo, que com apenas 19 anos apresenta telejornal em uma das maiores emissoras do Brasil.

Não vou ficar contextualizando o motivo desse texto, pelo fato dos leitores do Portal já estarem por dentro do que está acontecendo com o garoto. Portanto, o estudante de jornalismo que escreve esse texto tentará de forma direta opinar a respeito de alguns questionamentos sobre a carreira de Dudu Camargo, tentando ser o mais equilibrado e sensato possível.

Primeiramente, confesso que como estudante de jornalismo fico um pouco chateado de estudar anos e conviver com alguns colegas que, assim como eu, encontram ou vão encontrar dificuldades para conseguir emprego na área de jornalismo. Dá a sensação de desprezo ver um garoto de 19 anos começando na área, logo como apresentador, enquanto muita gente talentosa e conceituada não consegue seu devido espaço.

Ah! Eu não gosto muito do Dudu Camargo, nas poucas vezes que vi o garoto na televisão, o achei pouco forçado e artificial. Porém, com o tempo, acredito que ele possa evoluir e se tornar grande apresentador de entretenimento, pois se quiser ter credibilidade dentro da área do jornalismo, terá que tomar cuidado para não se perder no personagem que ele mesmo está criando. Não estou dizendo que ele nunca será jornalista pelo fato de ser espontâneo e tentar ser engraçado, mas Dudu Camargo não pode ficar apenas sendo figura ousada e engraçadinha, deve se preparar e adquirir conhecimento para unir o seu jeito extrovertido junto com a credibilidade ao passar informação.

Algum leitor ou fã do jovem apresentador com certeza deve estar achando que eu sou um invejoso, revoltado ou autoritário pelo fato de avaliar o garoto. Mas não há tanta revolta, são apenas algumas críticas e posições de um estudante da área de comunicação. Não sou contra uma pessoa de 19 anos fazer sucesso na TV, pelo contrário, se bem trabalhado psicologicamente pode ser oportunidade de carreira de sucesso. O que implico é com a maneira que ele começou sua trajetória dentro da área jornalística.

Começar no jornalismo, logo como apresentador, simplesmente pelo carisma e boa fala, acaba sendo menosprezo à já desvalorizada profissão de jornalista, pois passa a impressão que a área é banalizada e qualquer pessoa sem formação pode trabalhar nela.

Posso parecer um chato de galocha, mas eu tenho a convicção de que trabalhar com informações jornalísticas exige responsabilidade, ainda mais quando se está falando para grande massa, e essa responsabilidade requer convivência e experiência mais aprofundada com profissionais da área.

Tudo bem que pode existir alguém que produza o telejornal para o Dudu apenas ler. Mas, mesmo assim, a oportunidade deveria ser para algum jovem que batalhou para se formar em jornalismo. Provavelmente o SBT encontraria alguém talentoso e com formação ou bagagem profissional mais adequada para algo de grande importância. Dudu Camargo poderia até ficar apenas nos bastidores de programa jornalístico por alguns anos, para aprender com os mais velhos e ir para a TV quando concluísse algum curso de jornalismo ou chegasse a idade mais madura, para saber lidar com a importância de ser apresentador de telejornal e a repercussão que esse tipo de atividade causa na sociedade. Afinal, muita gente que está lendo esse texto não tinha tanta certeza sobre os rumos a tomar na vida com 18 ou 19 anos, não é?

“Ah! Então você é contra jovens talentos na televisão! Que autoritário!”. Não, não acho isso. Só não concordo com alguém jovem, sem formação e vivência na área jornalística ocupando já no início da carreira o espaço de quem está batalhando para conseguir emprego, ou de alguém que está há anos trabalhando de forma correta para conseguir cargo no jornalismo que tenha mais visibilidade, como o de apresentador de telejornal, por exemplo.

Trabalhar com jornalismo é coisa séria! Exige experiência e responsabilidade. Não deveria ter tanto espaço para excesso de gracinhas ou para apresentadores que acabam se transformando em personagens e se tornam mais importante do que a notícia.

O garoto Dudu Camargo pode sim trabalhar em TV, mesmo sendo jovem, mas deveria começar a desenvolver o seu talento na parte de entretenimento e em algum programa mais jovem ou descontraído, e não no jornalismo. Em atrações televisivas com conteúdo mais leve, o apresentador teria mais espaço para mostrar o seu lado extrovertido, sem arranjar tanta polêmica e discórdia entre profissionais do jornalismo. Haveria mais oportunidade para o jovem se soltar, sem diminuir a credibilidade da área jornalística de uma emissora.

Além disso, caso ele começasse a carreira como apresentador, apenas na parte de entretenimento e não se intrometesse no jornalismo, com certeza a aprovação do público seria mais positiva, pelo fato de seu estilo combinar mais com programas que buscam a diversão e o riso do que informações importantes que exigem mais responsabilidade. Trabalhando em programa de atrações mais “relax”, o apresentador pode ficar mais a vontade para animar a galera, assim a rejeição da  opinião do telespectador e da crítica, que iria entender que o programa é apenas para divertimento, diminuiria. Seria bom para emissora e para o apresentador.

Outro problema é que durante essas últimas semanas o apresentador se perdeu no personagem, se transformando em figura caricata, que busca aparecer a qualquer custo. Acredito que esse comportamento seja inadequado para quem é apresentador de telejornal. Se trabalhasse apenas com entretenimento ou humor, até que seria aceitável, mas não vejo nada de positivo alguém que trabalha com informação se submeter a situações criadas para gerar mídia e polêmica.

Nada contra se Dudu quiser manter esse estilo de “topar tudo” e se destacar a qualquer custo, desde que fique longe do jornalismo, para que não comece epidemia de contratação de engraçadinhos em busca de audiência e não cause confusão entre jornalismo e entretenimento.

O selinho na Sônia Abrão, no apresentador Emílio Surita e nas panicats, foi atitude de quem quer ser personagem do entretenimento e não de quem pretende trabalhar sério com informação jornalística. Se ele quiser seguir participando apenas de atrações descontraídas, ainda há de se perdoar essas atitudes, porém se quiser trabalhar em algo mais sério, a sua imagem já não vai passar tanta confiança ao público.

A participação do jovem no programa ‘Pânico na Band’ foi algo que gerou grande polêmica. Como disse no título deste texto, ele tem que tomar cuidado para não se perder no personagem, caso queira continuar no jornalismo. Ao participar de programa humorístico se submetendo a algumas situações, ele diminui a credibilidade no papel de apresentador de telejornal, pelo fato de deixar de passar seriedade em troca da tentativa de construção de figura popularesca.

Não quero dizer que quem trabalha no jornalismo não pode se divertir e participar de programas de entretenimento, mas a superexposição tem limite e a brincadeira da qual ele vai participar também. Não pretendo fazer discurso moralista sobre o ‘Pânico na Band’, gosto muito das entrevistas do ‘Pânico na Rádio’, concordo que na TV exageram na baixaria e deveriam deixar de fazer certas coisas. No domingo a noite, as pessoas tem o direito de rir, mas enfim, isso é outra discussão, o que importa é Dudu Camargo.

Ao participar do ‘Pânico na Band’, o garoto pode ter ganhado popularidade para apresentar algum programa descontraído no futuro, mas na hora de trabalhar como um difusor de informação séria, o personagem engraçado e “topa tudo” perde a credibilidade. Lógico que não tenho nada a ver com a vida dele, mas um apresentador de telejornal se expondo em programa de humor como se fosse um adolescente na balada faz entrar em cena o personagem Dudu Camargo e não o comunicador que trabalha com jornalismo.

O jornalista, na vida privada, pode curtir balada e se divertir, como o Dudu fez no ‘Pânico’, desde que não fique exposto publicamente e propositalmente apenas para chamar atenção a qualquer custo. Se o garoto fosse do entretenimento ou trabalhasse com humor, não haveria nenhum problema e, caso queira seguir essa área, também não há o que contestar. Mas, atualmente, ele poderia ser instruído a ter mais noção da importância da credibilidade de apresentador de telejornal. Está na hora de decidir o que ele quer.

O jovem apresentador tem potencial para evoluir, tem apenas 19 anos e deve aprender muita coisa ainda. Mas deve decidir se quer ser alguém sério e trabalhar no jornalismo, se quer fazer humor ou entretenimento, ou se pretende virar figura caricata.

*Lucas Souza Dorta. Integrante do projeto ‘Correspondente Universitário’ do Portal Comunique-se. E estudante de jornalismo das Faculdades Integradas de Jahu. E–mail: lucassouzadorta@hotmail.com.

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