Opinião

Jornalismo de soluções e ‘positividade’, caminhos para conquistar leitores cansados de tristeza

O comportamento tem nome: doomscrolling. É a palavra para descrever as pessoas que são atraídas por más notícias, uma fusão de  “doom”, de destruição, algo sombrio com “scrolling”, de rolar.

Em um artigo explicando a prática, Christian van Nieuwerburgh, professor de Coaching e Psicologia Positiva da Universidade de Medicina e Ciências da Saúde da Irlanda, explica que hábito de consumir notícias negativas é uma forma de o subconsciente reunir informações e estar preparado para enfrentar ameaças diversas.

Para o jornalismo, esta ameaça pode ser a perda de leitores ou espectadores, desanimados com o noticiário que provoca infelicidade e desesperança. São os anti-droomscrolling. 

Todas as pesquisas de consumo de notícias recentes registram índices preocupantes de pessoas que estão se desligando do noticiário, com impacto no nível de informação recebido para tomar decisões acertadas e na saúde financeira da indústria de mídia. 

Por isso, jornalistas e executivos de mídia quebram a cabeça para equilibrar os pratos. 

De um lado, a necessidade de dar as notícias mais importantes, que nem sempre são boas. E que atraem uma parcela importante de audiência. De outro, como fazer para não espantar o público?

Um dos caminhos tem sido a aposta no jornalismo de soluções. A fórmula é simples. Em vez de apenas contar um problema em tom alarmista, a reportagem deve mostrar soluções para ele. 

O jornalismo de soluções tem impacto duplamente positivo. Além de não criar uma sensação ruim, ajuda a mobilizar a sociedade para atos que de fato resolvam os problemas, de forma inspiradora. É o jornalismo exercendo o seu papel fundamental. 

Outra forma de engajar o público sensível a notícias tristes é a chamada “positividade”. Um exemplo foi apresentado pela empresa jornalística Hearst UK durante o PPA Festival, em maio. 

O encontro, realizado no Reino Unido, reúne editores e profissionais de mídia debatendo soluções para os desafios da indústria. 

Dona de marcas como Elle, Cosmopolitan. Esquire a Men’s Health, a Hearst garante que ambientes de mídia positivos podem impactar favoravelmente a conexão com públicos-alvo e parceiros comerciais. 

A equipe do Positivity Project apresentou uma pesquisa mostrando em números os efeitos de uma abordagem mais positiva no conteúdo. 

Das pessoas entrevistadas, 36% se disseram mais felizes, 28% mais animadas e 28% mais entusiasmadas depois de expostas a conteúdos elaborados com base no conceito da positividade. 

Segundo a Hearst, parte do público relatou que as emoções favoráveis se estenderam por pelo menos 24 horas após as interações com as marcas. 

Isso fornece uma janela de oportunidade para se comunicar com a audiência de maneira positiva envolvendo não apenas no consumo de notícias mas também em ações comerciais e de marketing, vitais para a sustentabilidade financeira em um ecossistema de mídia transformado pelo digital e pela multiplicidade de opções.

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Luciana Gurgel

Luciana Gurgel (@lcnqgur) é jornalista, brasileira, radicada em Londres, membro da Foreign Press Association London e Editora-Chefe do MediaTalks, site de notícias internacionais sobre jornalismo e comunicação parceiro de conteúdo UOL.

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