A comunicação e o jornalismo mudaram essencialmente. Os valores não são mais os mesmos, nem a própria concepção da notícia e da informação. De produtores, jornalistas e comunicadores passaram, gradualmente, a gestões de conteúdos informativos. De gestores e editores, passam, aceleradamente, para meros espectadores.
As “Ilusões Perdidas” de Balzac viraram “Realidades Vívidas” na contemporaneidade e na era das novas tecnologias. Sem querer parecer Profeta do Apocalipse, minhas sinceras condolências às viúvas da profissão, mas sinto-lhes, prever: o jornalismo acabou, findou-se, nesta nova era, ao menos como se pensa atualmente.
Assim como a “Vida Liquida”, analogamente, observada por Zygmunt Bauman, repensa a mudança constante, ininterrupta e abrupta dos valores mais convencionais da sociedade na pós-modernidade, o “Jornalismo Liquido” devora qualquer conceito ou ideia fixa e formatadora deste tipo de atividade profissional.
Notoriamente, não há mais necessidade, nem espaço para construtores exclusivos de conteúdos e informações. Todos são, invariavelmente, produtores e editores de si mesmos, das próprias ideias, multiplicadores e propagadores de informação.
Cada um dispõe de ferramentas, dispositivos, tecnologia, acesso irrestrito às informações e canais específicos para propagar os pensamentos. Basta um aparelho celular, uma rede de transmissão de dados e a rede particular (networking) para expandir a informação, a partir da própria concepção, para compartilhar-se conteúdos “exclusivos”, de toda a ordem e gênero – um celular é um estudo de TV, cada cidadão é um canal e meio de comunicação.
Há mais de uma década apostei num projeto (Porta) denominado Megafone, cujo conteúdo era quase todo colaborativo, inspirado no Jornalismo Participativo. Na época, ainda acreditava que comunicadores e jornalistas eram gestores públicos de informação ou editores sociais de notícias, sobrepondo a única função de operários do conhecimento. Este processo funcionou, certamente, por um tempo razoável.
Hoje, porém, com o avanço espantoso e exponencial das tecnologias e das redes sociais e a visão mais espacial e sistêmica das pessoas, o jornalismo entrou em estado líquido, segundo o próprio fluxo e a evolução da sociedade. Nada é mais certo, nada é mais estático e nada é mais natural ao momento da humanidade.
A informação corre num rio em velocidade estratosférica, as opiniões mudam a todo instante, os valores tradicionais são repaginados ou simplesmente inexistem, as verdades deixaram o absolutismo e o ser humano segue para o autodidatismo e para a autonomia intelectual. Invariavelmente, existe uma nova Ordem Mundial, pós-moderna, quando o homem deixa o centro do universo e passa a multiplicar-se em diferentes modos de pensar, atividades e competências, amparado por sistemas e ferramentas fantásticas de informação. O atual contexto propõe aos comunicadores e aos jornalistas repensar, refletir e analisar as suas novas e respectivas funções na sociedade. Sabe-se: ninguém é mais o Senhor da Informação ou o Doutor da Notícia.
Mas não resta dúvida de que todo o acúmulo de conhecimento, de informação e a bagagem de experiências acumuladas ao logo da história pessoal e profissional de cada um, abrirá novos horizontes e grandes possibilidades. Todavia, parece essencial ampliar a visão para a vida, para o mercado, para novas profissões ou atividades convergentes para evitar acordar em um belo dia e simplesmente perceber que esta nobre profissão se diluiu rio abaixo, no fluxo incessante da sociedade da informação, derretida por um novo mundo aberto, livre, democrático e destituído de concepções conservadoras e modelos centralizadores de ideias e da informação.
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