O emocionante texto da colega e professora Patrícia Paixão (“A última aula do curso de jornalismo”) fez-me recordar os anos 60 e 70, quando a alienação juvenil deu lugar à curiosidade dos acontecimentos à minha volta, prenúncio da paixão pelo jornalismo e atração pelo cotidiano registrado na história pelos periódicos da época.
Registro na história evidenciado nas palavras de um dos precursores do telejornalismo, o locutor Gontijo Teodoro, com o slogan “Este é o seu repórter Esso – testemunha ocular da história”, que cravei na memória como um norte para o que entendia como jornalismo. “Testemunha” e não parte, protagonista tão somente do registro histórico e nada mais do que isso.
Já na faculdade de jornalismo, em fins dos anos 70, o romantismo do “testemunha ocular da história” deu lugar à realidade dos primeiros alertas sobre o exercício da profissão, mais especificamente sobre a diferença entre realidade e ficção, e dos cuidados quanto ao exagero ao abordar um fato e o desafio de traduzi-lo à sua real dimensão.
Foi quando, numas das primeiras aulas, um professor – jornalista cascudo – fez conosco uma experiência, que didaticamente procurava diferençar o fato da versão, ao afirmar para nós calouros/idealistas, que somente 30% da notícia corresponderia à verdade.
Exagero, exclamei incrédulo, pois como um jornalista poderia afirmar que parte do que líamos nos jornais era falso?
Bem, tentou justificar através do exercício, que consistia em separar alguns alunos fora da sala de aula, que chamados um a um, deveriam contar, à sua maneira, uma notícia lida pelo professor ao primeiro que ouviu a história. O resultado assustou, pois verificou-se que a última versão se distanciava quase que por inteiro do relato inicial.
Para nós calouros à época, a experiência revelou o quanto somos suscetíveis a confundir, por falha de apuração inclusive, o falso do verdadeiro, o fato da versão e, trazendo aos dias de hoje, o que é fake e o que não é.
Anos mais tarde, ao passar por algumas redações, o alerta do velho mestre mostrou-se tristemente verdadeiro. Não que seja uma prática generalizada, mas muitas vezes as notícias tenderiam a um lado da história, obedecendo não só às simpatias e preferências do veículo de imprensa, mas também aos gostos, egos e vaidades de muitos jornalistas.
Não atribuo esta realidade tão somente a histórica tendência da espetacularização da notícia, muitas vezes, com o objetivo de mais impressionar do que informar. Mas, temos que admitir que alguns coleguinhas exageram na omissão de responsabilidades sobre o momento de crise de credibilidade por que passa o jornalismo atual.
A constatação que faço e que deixo à reflexão, é que o jornalismo transformou-se (ou sempre foi) num negócio como outro qualquer, o que, na minha visão, não deveria ser, onde a ambição pelo lucro e poder tomou o lugar da isenção e imparcialidade, ingredientes indissociáveis da credibilidade.
Grande risco corre o jornalismo, que outrora foi “testemunha ocular da história”.
Ganhou protagonismo, mas perdeu credibilidade. É dever refletir.
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Por Carlos Henrique da Costa Silva. Graduado em Comunicação Social (Relações Públicas e Jornalismo) e em Administração de Empresas na Sociedade de Ensino Superior Augusto Motta (Suam). Tem especialização em radiojornalismo e produção de rádio pelo Instituto Brasileiro de Radiodifusão (Ibradi) e MBA em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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