O jornalista é inimigo declarado do presidente. Nem mesmo o fato dele ter sido eleito por 48% dos votos amainou os ataques diários na mídia da capital da república. O embate inicial se dá em torno de duas visões para a economia nacional. O presidente defende uma agenda nacionalista, com uma forte participação do Estado na economia. A oposição quer uma agenda liberal com amplas possibilidades para que a burguesia brasileira desenvolva iniciativas em todos os setores. Mesmo nos considerados estratégicos, como a exploração e o refino do petróleo. A esquerda apoia o que considera uma proposta nacionalista-desenvolvimentista, que tem adeptos também nos sindicatos, meio estudantil, intelectuais e até mesmo no seio das forças armadas. Cria-se um verdadeiro cabo de guerra. Acusações são lançadas lado a lado e o jornalista explora o sentimento de ante autoritarismo, que acusa o presidente de praticar. Aproximação dos Estados Unidos é outra pedra de toque. Os yankees são chamados na mídia alternativa, panfletos, jornais sindicais, comícios partidários do imperialismo e que querem atrelar o Brasil aos seus interesses de hegemonia mundial. Não é a potência preferida pelos que apoiam o governo.
O jornalista explora temas considerados sensíveis e que possam manietar o governo. Tem o apoio da direita espalhada por partidos políticos, organizações civis e representantes das diversas atividades econômicas. Não há dia que o jornalista não publique duras críticas ao governo, aos ministros e tudo o que possa fortalecer o presidente e sua agenda desenvolvimentista. O nível de tensão aumenta quando o centro dos debates chega à corrupção, um mal que o Brasil não consegue se libertar. Assim, diz o jornalista, há propina nas obras que são destinadas aos aliados de todos os matizes. Chega mesmo a dizer que há um mar de lama que passa sob o palácio presidencial. Ele divulga com grande alarde na imprensa que o presidente desviou verbas para fundar um jornal que o apoie. Afinal há muitos que o criticam. Os artigos nos jornais, as crônicas, os editoriais diários contra o governo tem imediata repercussão no Congresso Nacional onde a oposição tem maioria de deputados e senadores. Daí para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar possíveis irregularidades no destino do dinheiro público é um passo. Os debates se acirram no legislativo com discursos agressivos, ameaças e formação de grupos para impedir que projetos provenientes do executivo sejam aprovados. No dizer de alguns, forma-se uma tempestade perfeita. Há mesmo o risco da abertura de um processo de impeachment contra o presidente.
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O foco principal contra o presidente é a imprensa. Aos poucos a população adere à manifestações e participa de atos como a marcha das panelas vazias. O jornalista é inimigo declarado do chefe do executivo. Há contra ele ameaças de morte. Grupos políticos são acusados de comunistas outros de fascistas. Há narrativas divergentes em todos os locais onde há manifestações políticas. Amigos e familiares se separam por causa de divergência sobre os rumos do Brasil e a personalidade forte do presidente. A liberdade de imprensa corre risco uma vez que em passado não tão distante havia censura nos veículos de comunicação. Ou mesmo mortes de jornalistas. Um deles sofre um atentado na capital, escapa com um ferimento no pé, mas o seu segurança, um major da Aeronáutica, morre. Carlos Lacerda é guindado a principal oponente de Getúlio Vargas. O episódio gera a abertura de um inquérito policial militar para apurar o responsável pelo atentado. A mídia abre fogo contra Vargas e acusa um dos seus seguranças, Gregório Fortunato, de ser o mandante do crime. Há uma atmosfera de deposição do presidente, semelhante a 1945, quando foi deposto pelo exército. Gregório confessa o crime. Lacerda e seus seguidores aumentam a pressão na mídia. Vargas tem duas alternativas : ou a renúncia ou o suicídio. Escolheu a segunda.
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