Um dos mais experientes repórteres de polícia do Brasil, Josmar Jozino relança dois de seus livros nesta quinta-feira, 2. Um deles é Casadas com o Crime, de 2008, que trata de mulheres que passaram boa parte de suas vidas em presídios, seja como visitantes ou como encarceradas. O outro é Xeque-Mate: O Tribunal do Crime e os Letais Boinas Pretas, de 2012, sobre a guerra entre os homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e os líderes do crime organizado em São Paulo. Ele ainda prepara uma nova edição de seu primeiro livro.
Jozino, que já recebeu três menções honrosas no prêmio Vladimir Herzog, conversou com a Abraji sobre os temas de seus livros e dos planos para 2017:
Os livros foram atualizados?
Será só uma reedição igual às primeiras edições. Mas posso contar em primeira mão: Cobras e Lagartos [seu primeiro livro, hoje esgotado e raro mesmo em sebos] será relançado pela Editora Edipro, com previsão de lançamento daqui dois meses. E esse sim será atualizado com um capítulo falando justamente da expansão do PCC nos últimos dez anos.
Aproveitando o gancho do relançamento de Casadas com o Crime, o que mudou nas questões específicas a mulheres do sistema prisional de 2008 pra cá?
Quando eu escrevi esse livro, eu já havia percebido que o número de mulheres presas estava aumentando. Eu acredito que desde aquela época deve ter aumentado muito, tanto proporcionalmente quanto em absoluto, apesar de não possuir agora dados para confirmar [informações do CNJ mostram que a população carcerária feminina subiu de 5.601 para 37.380 detentas entre 2000 e 2014, um crescimento de 567%, superior à taxa geral, de 119% no mesmo período]. E isso sinaliza que cresceu não só o envolvimento feminino com o crime organizado, mas com o crime em geral.
Recentemente você afirmou que os massacres recentes nos presídios brasileiros eram uma tragédia anunciada. Os conflitos descritos em Xeque-Mate hoje se expandiram pelo Brasil?
O livro trata de uma guerra específica do estado de São Paulo. De um lado você tinha a Rota, uma tropa de elite, à qual a Secretaria de Segurança Pública delegou poderes para poder fazer a investigação, assumindo o papel da Polícia Civil. E que cometeu vários abusos. Isso gerou um conflito no qual o PCC saiu matando a esmo e no varejo vários policiais militares. De lá para cá a facção criminosa cresceu muito. Ela já tinha raízes em outros estados – e em outras prisões – e foi esse avanço que gerou esse conflito interestadual, em busca da ampliação do tráfico de drogas. Em São Paulo até então existia o monopólio do tráfico, por isso esses conflitos eram muito menores. Mas reitero: o que descrevi foi uma coisa específica do estado e o que aconteceu recentemente tem relação com a expansão do PCC.
Há dois meses foi anunciado o começo de sua colaboração com a Ponte Jornalismo, assim como que você estava trabalhando em um quarto livro. Como tem sido este trabalho?
Tenho vários amigos na Ponte e alguns deles me convidaram. Eu gostei da proposta de trabalho voltado aos direitos humanos e aceitei. Estão me deixando bem à vontade de escrever quando eu quiser. Como eu estou envolvido com o livro, tenho feitos poucas coisas, mas pretendo me dedicar mais. É um trabalho voluntário, porém feito com muito carinho.
E “meio que em off”, livro que reunirá bastidores do jornalismo e de sua biografia?
Já está terminado, só falta fazer as últimas leituras. Estou negociando com algumas editoras e acredito que até o final deste semestre consigo encontrar uma editora que se interesse em publicá-lo.
O relançamento das duas obras ocorrerá na Rua Barão de Tatuí nº 282 – São Paulo, na Sotero Cozinha Original, às 20h.
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Por Thiago Aguiar.
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