Jornalistas combatem desigualdade de gênero com empreendedorismo

Frente a episódios machistas ao longo das carreiras, jornalistas mulheres apostam em negócios dedicado à cobertura de questões de gênero. Em comum, as iniciativas de empreendedorismo têm como mote reduzir a desigualdade no tratamento às mulheres dentro e fora das redações.

Um desses projetos é a revista AzMina, publicação on-line e gratuita feita apenas por mulheres fundada em 2015. Diretora de redação, Nana Queiroz é jornalista de formação, assim como parte da equipe fixa do veículo. A instituição que coordena a revista aposta em consultoria para marcas como forma de captação de recursos. “Nossa credibilidade é o nosso maior asset [bem]”, conta Nana.

Entre as motivações para criar a revista, Nana menciona a abordagem restrita do universo feminino na imprensa especializada, as poucas vozes de colunistas mulheres na maioria dos meios e o reforço de estereótipos para estímulo ao consumo de produtos de beleza. Para Nana, “a AzMina não deveria existir, meu sonho é que ela não seja necessária. Ela existe porque a imprensa é machista”.

A revista promoveu concurso para bolsas para reportagens de jornalismo investigativo de mulheres. Vale qualquer pauta “contra o machismo”, compromisso de sua linha editorial.

Nascido três anos antes da AzMina, em 2012, o Nós, mulheres da periferia é formado por sete moradoras de bairros periféricos de São Paulo, seis delas jornalistas. O coletivo se originou após quatro das integrantes publicarem artigo na Folha de S.Paulo desafiando a visão comum sobre mulheres de bairros mais afastados do Centro. “Nós surgimos pela falta de representação e cobertura da mulher da periferia”, conta Jéssica Moreira, uma das co-fundadoras.

O Nós é uma organização horizontal, onde todas têm voz igual de decisão. “É um modelo muito desafiador, mas ao mesmo tempo nos torna bastante plurais”, conta Jéssica.

Na quarta-feira, 8, o coletivo realizou a pré-estreia do documentário “Nós, Carolinas”. A empreitada para o cinema é resultado de processo que começou em 2015 com oficinas de educação em comunicação para quebra de estereótipos em regiões periféricas de São Paulo.

As iniciativas de profissionais mulheres não se restringem à capital paulista. Em Santa Catarina, há exatamente um ano era lançada a campanha de financiamento coletivo para o Catarinas, portal de notícias especializado em feminismo e gênero.

Clarissa Peixoto, uma das idealizadoras e editora do site, vê a necessidade de melhorar a cobertura feminina a partir do ponto de vista de mulheres. Assim como no coletivo Nós, e na revista AzMina, a redação do Catarinas é composta apenas por mulheres, a maioria jornalistas.

Outro ponto comum do portal com as iniciativas paulistanas, além das críticas à cobertura tradicional e da auto-definição como independente, é que todas as profissionais que se dedicam ao projeto possuem outra fonte de renda. “O financiamento foi direcionado à plataforma e a alguns insumos. Não conseguimos ainda pagar uma jornalista de dedicação exclusiva”, conta Clarissa.

O modelo de negócios também é semelhante ao das colegas de São Paulo. O Catarinas conta com comunidade mais próxima que pretende se ampliar como assinantes e apoiadoras.

Movimento em expansão

AzMina, Nós e Catarinas são três exemplos dentre muitos já mapeados pelo observatório de mídia feminista Nísia Floresta, formado por mulheres de Curitiba e interior do Paraná. O coletivo discute e promove jornalistas e mídias feministas de todo o mundo e preparou ação para o Dia da Mulher.

A campanha #jornalistascontraoassédio, que encerrou o 11º Congresso da Abraji, promoveu nesta quarta-feira, 8, seu primeiro encontro, em São Paulo.

A Think Olga, think tank feminista que “luta pelo empoderamento feminino por meio de informação” lançou no último dia 7 o trailer do documentário ‘Chega de Fiu Fiu’.

Abraji prepara pesquisa sobre o tema

Em parceria com a Gênero e Número, a Abraji prepara pesquisa inédita sobre assédio a jornalistas mulheres no exercício da profissão. O levantamento reunirá dados sobre o perfil das mulheres nas redações brasileiras, sejam de veículos tradicionais, sejam de novas iniciativas. O resultado deverá ser lançado no 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

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Abraji

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas. É mantida pelos próprios jornalistas e não tem fins lucrativos.

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