Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas diz que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são garantias constitucionais, mas, na prática, há muita repressão e retaliação contra quem exerce esses direitos
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) divulgou pesquisa que revela dados alarmantes para os profissionais da imprensa: somente em 2015, 8 jornalistas foram assassinados, 64 agredidos e 44 ameaçados ou ofendidos. Em razão disso, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados promoveu debate sobre o exercício jornalismo na última quarta-feira, 12.
O evento foi sugerido pelo deputado Paulão (PT-AL), que criticou a falta de segurança dos profissionais da imprensa e o desrespeito à liberdade de expressão. “O Brasil é o quinto país com mais ataques aos jornalistas, à frente, inclusive, de países em guerra civil, como o Iêmen”, destacou.
A audiência foi dividida em duas mesas com temáticas diferentes. Na primeira, os debatedores fizeram um panorama da comunicação no Brasil e discutiram sobre concentração de propriedade na mídia, censura judicial e perseguição no jornalismo.
A presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, criticou a violência contra repórteres que trabalham nas ruas e ameaças ou intimidações que outros jornalistas sofrem em redes sociais ou até mesmo onde moram. “Eles sofrem desde agressões verbais até agressões físicas. Jornalistas e radialistas estão apanhando nas ruas e isso é mais comum do que se possa imaginar”, destacou.
Maria José Braga disse que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são garantias constitucionais, mas afirma que, na prática, há muita repressão e retaliação contra quem exerce esses direitos. “Nós não podemos falar de democratização da comunicação nem podemos falar de liberdade se esses profissionais são tratados com ameaça e violência”, concluiu.
Já o jornalista David Soares, do portal Diário do Poder, disse que sofreu repressão política e censura por denunciar fraudes de políticos em Alagoas. “Inclusive, estou proibido judicialmente de mencionar o nome de um magistrado”, destacou.
Emocionado, Soares afirmou que a liberdade de imprensa não é plenamente respeitada e que isso impede jornalistas que fazem abordagens políticas de levar informação crítica para a população. “É um efeito intimidador, a censura ganhou muita força. Mexe com o nosso psicológico e, por isso, muitos se calam”, disse.
David Soares criticou os políticos que o perseguem. “Eles são covardes, pois poderiam argumentar e se defender, mas jogam sujo e forjam um conflito ético para nos prejudicar”, afirmou.
A segunda mesa debateu novas formas de comunicação, jornalismo ativista e imprensa alternativa. Também houve discussão sobre o fim da obrigatoriedade do diploma para que as pessoas possam exercer o jornalismo.
O jornalista Clayton Nobre, representante da Mídia Ninja, afirmou que a mídia independente tem mostrado o outro lado com verdade, em oposição à mídia tradicional. Ele lembrou que nem sempre a violência em manifestações, por exemplo, é causada por centrais sindicais ou pelos manifestantes, mas sim pelos próprios policiais. “Inclusive, uma de nossas militantes da Mídia Ninja apanhou de um policial até desmaiar durante uma manifestação em Belo Horizonte”, afirmou.
Já o representante da Rede Brasil Atual, Paulo Donizetti, criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar a exigência de diploma de nível superior para o exercício do jornalismo. “Houve uma precarização, e o profissional ficou desvalorizado”, avaliou.
O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT-MG) criticou a mídia tradicional. Ele manifestou uma visão pessimista em relação à repressão aos jornalistas. “Acredito que, se as coisas estão ruins agora, vão piorar ainda mais no futuro. É preciso discutir muito sobre esse assunto”, disse ele.
Na opinião do parlamentar, quando o profissional trabalha com a verdade, “há incômodo entre as classes dominantes”.
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