As tendências do jornalismo foram discutidas em seminário promovido pela Abraji na ESPM de São Paulo nesta semana. Evento contou com cônsules de Caná e EUA
O seminário “O futuro do jornalismo”, realização da Abraji em parceria com a ESPM e com os consulados canadense e norte-americano no Brasil, ocorreu na manhã de quarta-feira, 3, na unidade da ESPM em São Paulo. Com painéis sobre novos formatos de mídia e transparência e acesso à informação, o evento comemorou o quinto aniversário da Lei de Acesso à Informação (LAI) e o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Os cônsules gerais Ricardo Zuniga e Stéphane Larue, dos Estados Unidos e do Canadá, abriram o seminário destacando a liberdade de informação e sua importância para as democracias. “Estamos aqui para celebrar esse direito fundamental”, disse Zuniga. “É um direito da sociedade civil exigir informação, para ter capacidade de interpretar o mundo em que vive.” Nesse sentido, a transparência dos governos – e até mesmo o jornalismo investigativo, ressaltou – são fundamentais. “Qualquer pessoa no mundo tem sede de informação”, completou Larue, mencionando sua experiência em países fechados.
Em seguida, o professor e jornalista Andre Deak, da ESPM, moderou o painel “Novos formatos no Brasil”, que apresentou o modelo de negócio de veículos de jornalismo em ascensão, como o Nexo Jornal e a agência Volt Data Lab, e o crescente uso de narrativas em dados. A palestra contou com a presença da jornalista Karla Mendes, da co-fundadora do Nexo Renata Rizzi e de Sergio Spagnuolo, fundador do Volt Data Lab.
O jornalismo de dados foi o destaque do painel. “Acho que, hoje em dia, temos espaço para produzir”, disse Mendes. Para ela, que tem mestrado em jornalismo investigativo e de dados pela University of King’s College, o jornalismo de dados é relevante porque é empírico, permite a reinvenção do ofício, dá ao repórter independência em relação às fontes e possibilita análises variadas.
“Você pode contar histórias de forma interativa”, destacou. Spagnuolo, por sua vez, mencionou o desafio de monetizar o jornalismo de dados. Para se manter, o Volt Data Lab tem apostado na produção constante, em projetos próprios e na prestação de serviços a outros veículos — e na perseverança. “Para nós, não existe um só modelo [de negócio], mas a contínua construção de planos”, disse Spagnuolo.
Renata Rizzi preferiu destacar o projeto editorial do Nexo que, além do trabalho com dados e novas formas de narrativa, investiu no jornalismo de contexto, conseguindo espaço para se diferenciar entre veículos tradicionais. “Saber que determinado evento aconteceu é uma coisa; quando você entende o contexto, o debate se qualifica”, afirmou Rizzi. Até agora, o veículo, exclusivamente digital, tem recusado publicidade e se mantido por meio de assinaturas. Embora chegar às pessoas seja a parte difícil, a taxa de conversão de leitores para assinantes tem sido satisfatória, disse Rizzi.
O segundo painel, com mediação do jornalista Daniel Bramatti, membro do Estadão Dados e diretor da Abraji, trouxe à discussão a importância do acesso a informações de interesse público. O correspondente no Rio de Janeiro da Thomson Reuters e a americana Patrice McDermott, ex-diretora executiva da OpenTheGovernment.org, defenderam a atuação do jornalismo para promover o acesso às informações de interesse público. A.
Para McDermott, a Lei de Acesso a Informações norte-americana já está estabelecida (é uma lei de 1967), passou por mudanças que a aprimoraram, é disponível para qualquer pessoa e apresenta poucas restrições, mas ainda não vale para todas as entidades do governo federal norte-americano e enfrenta dificuldades para se fazer valer em alguns casos. “O problema é a falta de liderança [para fazê-lo funcionar efetivamente]”, disse. Ela afirmou não saber ainda como será tratada a lei na administração de Donald Trump.
Chris Arsenault contou episódios de sua carreira como repórter e ressaltou o papel dos jornalistas de sempre “dizer aquilo que alguém não quer que seja dito”, às vezes correndo riscos e nem sempre entrando “pela porta da frente”, mas trazendo luz a temas de interesse público. Nesse sentido, “a lei de acesso a informação é mais uma ferramenta na caixa de ferramentas do jornalista”, disse.
A íntegra do primeiro painel, “Novos formatos”, está disponível neste link.
*Por Mariana Gonçalves.
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