Enquanto, no Brasil, jornais e veículos de imprensa são atacados diariamente pelo presidente Jair Bolsonaro, no mundo, jornalistas perseguidos por regimes ditatoriais como a China, a Turquia e a Venezuela veem com apreensão a escalada da intolerância no Brasil. Reunidos por vídeo conferência em um evento organizado pelo Interlegis, órgão do Senado Federal, para celebrar o Dia da Liberdade de imprensa, jornalistas exilados por ditaduras alertaram para os riscos de ameaça à democracia quando um país não possui uma imprensa livre.
Can Dündar, um jornalista turco que precisou se exilar na Alemanha após denunciar planos do ditador Recep Erdoğan para armar milícias na Síria, classificou a volta de regimes antidemocráticos como “uma doença que se alastra pelo mundo”. Ele avalia que a luta pela democracia, pelo estado democrático de direito e pelo respeito aos direitos individuais são bandeiras deveriam unir a todos que desejam um país livre, independentemente de posições político-partidárias. “Fui punido por revelar segredos de Estado. O público tinha o direito de saber o que o governo turco fazia e eu reportei, e por isso fui preso imediatamente”, relembra.
Assim como Dündar, o jornalista chinês Chang Ping também se exilou na Alemanha. Escritor premiado com o Human Rights Press Awards, de Hong Kong (2014), e com o International Press Freedom Award, do Canada (2016), ele relatou como enfrentou censura e ataques dirigidos a ele, familiares e outros dissidentes políticos após publicar notícias que desagradavam o regime comunista chinês. “A censura usada pelo governo da China é sistêmica e vai além das restrições que vemos. Isso vale para todos os aspectos da vida diária do país. Até uma criança no jardim da infância sabe que não tem o direito de se opor ao partido. Eles dizem que a censura faz com que o país seja mais forte, pintam a censura como algo bom para o povo”, comenta.
O advogado e ativista pró-democracia Wilson Leung relatou que a situação da imprensa de Hong Kong – território autônomo chinês – não é muito diferente do que om colega chinês vivenciou na parte continental do país. Leung mencionou o controle do governo sobre o que é veiculado na mídia, que tem sido sistematicamente comprada por empresários aliados e pelo próprio governo. “No momento, Hong Kong tem um único jornal de oposição, que sofre para se manter ativo, pois não consegue adquirir patrocínio de grandes companhias, pressionadas a não apoiarem veículos críticos ao governo. Seu dono já foi preso e teve a casa atacada diversas vezes.”
O advogado também mencionou a restrição ao acesso e entrada de jornalistas e o severo tratamento aos que trabalham em Hong Kong, com ataques físicos, sequestros e censura às pessoas que se posicionam com informações desfavoráveis ao governo usando a violência policial. “A China usa todas as ferramentas que tem para suprimir o que as pessoas de fora podem dizer. O mundo precisa acordar para esse fato e criar uma estratégia para lidar com isso.” De acordo com Leung, o governo chinês tem lei de segurança que vai contra os direitos humanos, agindo contra a imprensa dentro e fora do território nacional e boicotando manifestações de oposição. Quem participa de uma manifestação assim perde o emprego, entre outras sanções.
O segundo painel do webinar reuniu três jornalistas da América do Sul: dois da Venezuela e um argentino. Luz Mely Reyes, co-fundadora do jornal independente venezuelano Efecto Cocuyo, contou o dia-a-dia dos repórteres que continuam no país. “Apesar da fome, da falta de combustível para trabalhar e dos blackouts de energia, nós persistimos, insistimos e resistimos porque a vacina contra esses ataques é um jornalismo cada vez maior e melhor.”
Luz Mely contou casos de jornalistas apresentados à justiça como criminosos comuns. O efeito colateral mais danoso da guerra entre governo e mídia, para ela, é o comprometimento da verdade e do direito de ser informado. Ela explicou como o discurso contra os jornalistas começou no início do governo de Hugo Chávez, que já qualificava a imprensa como sua inimiga e inimiga do projeto que ele defendia “Quando existe uma polarização política, a primeira vítima é a informação. O que importa não é o fato, mas a versão que se conta dele. Tudo se resume em “estar comigo ou estar contra mim”.
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O debate do Interlegis foi feito em parceria com o Repórteres Sem Fronteiras – RSF, Global Investigative Journalism Network – GIJN, e com apoio do Instituto Mundial para as Relações Internacionais – IR.wi. Ao abrir o evento, o senador e jornalista Lasier Martins (Podemos-RS) relembrou a censura instalada pelo regime militar no Brasil. “Felizmente, vivemos hoje no Brasil tempos democráticos, e a democracia se sustenta sobre o alicerce da liberdade de pensamento, de criação, de expressão e de informação.”
O diretor executivo do Interlegis, o cientista político Márcio Coimbra, avaliou a importância de política e liberdade de expressão andarem juntas no cenário mundial, pois representam a base fundamental da democracia. “O mundo vive um período delicado no que tange a liberdade de informar. O advento das redes sociais e o advento das noticiais falsas tem mexido de forma profunda com o jornalismo e a política. Este é um binômio do qual não podemos nos afastar, uma vez que a política e a liberdade de expressão caminham lado a lado na construção e no fortalecimento de sistemas democráticos.”
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