“Juiz chamado por presos para negociar é suspeito de ligação com facção do Amazonas”. Com esse título, reportagem do Estadão assinada por Fabio Serapião e Fausto Macedo tem o magistrado Luiz Carlos Valois, da Vara de Execução Penal de Manaus, como personagem central. De acordo com o texto do veiculado originalmente na tarde de segunda-feira, 2, a autoridade do Judiciário amazonense chegou a ser “alvo de busca e apreensão na segunda fase da operação La Muralha”, deflagrada pela Polícia Federal em junho do ano passado.
Na reportagem, o Estadão afirma que Valois se tornou alvo da PF por ser “suspeito de possuir ligação com a facção Família do Norte (FDN)”,, que tem ao decorrer dos últimos dias promovido guerras nas prisões de Manaus contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo criminoso surgido em São Paulo – visando o controle do tráfico de drogas na região. O texto sinaliza que o juiz foi “chamado pelos detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj, para negociar o fim da rebelião que terminou na morte de ao menos 56 presidiários”. O trabalho produzido por Serapião e Macedo revela, ainda, documentos da Polícia Federal em que o juiz é mencionado.
Na manhã desta terça, 3, Valois usou a página que mantém no Facebook para relatar que passou a receber ameaças de morte da “suposta outra facção” depois que a reportagem do Estadão foi ao ar. “Covardes. Estadão covarde, para quem não basta ‘bandido morto’, juiz morto também é indiferente”, publicou o magistrado – que não deu detalhes das mencionadas ameaças contra a vida dele e nem pontuou em que momento o veículo de comunicação teria se posicionado favorável a assassinatos de pessoas envolvidas com a criminalidade.
Além de garantir que foi ameaçado de morte, o integrante da Vara de Execução Penal de Manaus afirma que chegou a ser procurado por um jornalista do Estadão, com quem teria conversado ao telefone por 20 minutos. O resultado da matéria que leu, porém, não refletiu a entrevista. “Eles não publicaram nada do que falei, nem, primeiramente, o fato de que eu não era o único a negociar a rebelião”, reclamou o juiz, que disse não ter sido a única autoridade do Judiciário a ser chamada pelo governo local para negociar – no presídio – o fim da briga entre FDN e PCC.
Associação em defesa do juiz
Com o relato feito por Luiz Carlos Valois a respeito de ameaças de morte, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) se prestou apoio ao juiz da Justiça do Norte do país. Em nota assinada pelo presidente Jayme de Oliveira e divulgada à imprensa na tarde desta terça-feira, a entidade tece elogios à conduta profissional de Valois, definido como alguém que “contribuiu para a pacificação” do presídio de Manaus. A AMB afirmou, ainda, que a reportagem do Estadão “destacou uma suposta acusação” que, no entendimento da associação, “não condiz com a realidade e a seriedade do trabalho realizado pelo juiz”.
Estadão mantém informações
Apesar das críticas por parte de Valois e da AMB, o Estadão mantém no ar a reportagem que crava o juiz como suspeito de ter ligação com a FND. Ao fim da matéria, o veículo de comunicação inseriu posicionamento enviado pela defesa do magistrado. No comunicado, o advogado afirma que seu cliente “não possui qualquer envolvimento com organizações criminosas”. A defesa do juiz, contudo, avisou que – diferentemente relatado pelo magistrado no Facebook – que foram “os presos [que] solicita[ra]m sua presença tão somente por ele ser o juiz da vara de execuções penais”. O pedido por parte da secretaria de segurança não foi citado.
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