29/1/2021 –
Ainda é cedo para avaliar todas as consequências e, principalmente, todas as mudanças que a Covid-19 provocou e provocará. A pandemia causou uma reviravolta no cenário global, afetou radicalmente a vida de pessoas, organizações e países, deixou um rastro de inquietações nas mentes mais brilhantes, e também propiciou inúmeros aprendizados que já serão percebidos em 2021.
Ao fazer esse balanço do que ocorreu, Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC), destaca algumas grandes mudanças que vieram para ficar, como a da comunicação, que ganhou instantaneidade por meio da Tecnologia da Informação, e vai continuar compensando a falta de mobilidade decorrente da necessidade de distanciamento ou isolamento social.
Ele enfatiza que a comunicação e a tecnologia da informação também aceleraram a adoção do trabalho remoto, que garantiu a continuidade do fluxo de atividades, assim como o ensino a distância e a medicina remota. E completa que, de modo geral, a tecnologia abriu um espaço que só tende a crescer. Por exemplo, ele ressalta as plataformas de pagamento instantâneo, que tiveram sua implantação acelerada, a alfabetização tecnológica, que se intensificou devido à necessidade de interações remotas e a Inteligência Artificial, que otimizou processos e simulações no desenvolvimento de vacinas que normalmente têm um ciclo de cerca de 10 anos, mas que em apenas nove meses já estão em uso.
O peso da repactuação
Em sua opinião, outra mudança importante que vai permanecer é a abertura ao diálogo e à repactuação nos mais diversos níveis de relações e de setores de atividade, inclusive estimuladas pelos próprios governos, como no Brasil, onde logo foram adotadas medidas para aliviar a pressão da quebra de receita sobre pessoas físicas e jurídicas.
“Na pandemia, o foco se concentrou nas boas relações a partir da compreensão de que era melhor conversar e negociar”, analisa Sfeir, acrescentando que o setor de crédito foi um dos primeiros a propor medidas nesse sentido. Entendeu-se que era preferível repactuar a cortar o relacionamento, assim, o fluxo financeiro pode ter sido postergado e o fluxo econômico se manteve.
“Adotou-se uma política de repactuação com avaliação muito mais precisa do que em pandemias passadas, em que a incerteza inibiu o crédito, e o Cadastro Positivo foi fundamental nesse processo, para que as avaliações do momento fossem ponderadas dado o histórico de informações”, explica o presidente da ANBC. A seu ver, manteve-se o fluxo do processo de crédito de forma mais saudável, devido à manutenção das informações necessárias para avaliação de crédito e o aumento da capacidade analítica, o que ajudou a avaliar a previsibilidade do impacto do fenômeno na capacidade de pagamento dos créditos tomados.
A pandemia abalou a ideia de globalização
Os governos e as empresas estão revendo o processo de globalização e a aposta na China como provedora global. Constatou-se que é preciso evitar de se colocar produtos e serviços estratégicos em um só local, ou em país ou região de risco, como um problema sanitário. Há países avaliando dividir a produção entre a China e outro lugar, e país querendo assumir uma parte localmente e o resto em outra região, entre outras alternativas, como é o caso do Japão. A pandemia mostrou que os produtos e serviços essenciais precisam de segurança, qualidade e garantia de entrega, e que a estratégia de otimização de custos, um dos pilares da globalização, coloca em risco essa proposta.
Finalmente, Sfeir destaca que a pandemia alertou a civilização para o chamado ESG, do inglês Environmental, Social and Governance. A crise de saúde acentuou a necessidade de maior investimento em meio ambiente e sustentabilidade, maior cuidado com a governança e atuação social. A pandemia reforçou o papel do homem como participante harmônico no meio ambiente, de modo a trazer sustentabilidade natural e econômica. Com isso, muitas empresas passaram a adotar esses conceitos em suas operações de olho no futuro. “Todas as mudanças que uma crise dessas proporções deixa é um legado. O que é certo é que teremos incertezas no horizonte”, observa Sfeir. Otimista, ele acredita que as lições da pandemia serão uma herança positiva, o que já é um bom começo para 2021.
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