Ainda repercute a má cobertura da imprensa sobre a greve geral de 28 de abril. Paula Cesarino, ombudsman da Folha, uma espécie de “síndica” do condomínio, criticou no domingo, 30 de abril, a má cobertura da jornal, que se preocupou em comprar a versão do governo sobre as paralisações.
Publicamente, o Planalto busca minimizar o impacto da greve. No entanto, nos bastidores, avalia que as paralisações tiveram, sim, um impacto expressivo na opinião pública e que tem potência para afetar a imagem de um governo trôpego e frágil.
Em bom português, parte da “grande” imprensa comprou a narrativa do governo para enfraquecer a greve. Interessados na aprovação das reformas, houve pressão do empresariado que sustenta grandes jornais.
Portanto, a crítica de Paula Cesarino soa completamente vazia quando escancara o óbvio. A Folha sabe fazer bom jornalismo, mas não o fez por compor junto ao Grupo Globo e o Estadão a trinca de defensores das reformas alinhadas aos interesses dos patrões.
Contra o chapabranquismo da imprensa
Apesar do chapabranquismo da trinca, veículos independentes como The Intercept Brasil, BBC, El País, Mídia Ninja, e outros foram às ruas cobrir os atos e apresentar o que estava acontecendo no país. Ou seja, não é só uma questão de linha editorial o tropeço na cobertura dos ‘grandes’ jornais.
A curiosidade observada nessa suruba empresarial-midiática é um governo com 4% de aprovação (96% o rejeitam) conseguir vender uma narrativa para enfraquecer movimento da classe trabalhadora e parte da imprensa comprá-la.
Reitero e repito: vandalismo está para além de quebrar vidraças ou fechar ruas em protestos. Corroborar propostas que de tabela enfraquecem os direitos da classe trabalhadora também é uma forma de vandalismo.
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George Marques. Jornalista, especializado em comunicação política. Foi assessor parlamentar e, desde 2014, acompanha os bastidores dos três poderes em Brasília. É repórter da versão brasileira do site The Intercept e 2º maior influenciador de política no Twitter no país, segundo levantamento da Stilingue.