Opinião

Mais de 200 jornalistas foram agredidos no Brasil em 2018

Os principais agressores identificados pela Fenaj foram eleitores/manifestantes. Eles foram responsáveis por mais de 20% dos casos de agressões contra jornalistas brasileiros em 2018

Por Alessandra Monnerat. Conteúdo publicado originalmente no site do Knight Center for journalism in the Americas

Os casos de agressões a jornalistas no Brasil cresceram 36,7% de 2017 a 2018. É o que aponta relatório recente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). A entidade contabilizou 135 ocorrências de violências — entre elas um assassinato — que vitimaram 227 profissionais.

Os principais agressores identificados pela Fenaj foram eleitores/manifestantes. Eles foram responsáveis por 22,2% dos casos de agressão — no ano passado, o Brasil viveu uma campanha presidencial polarizada. Os partidários do presidente Jair Bolsonaro foram os que mais agrediram jornalistas, de acordo com a Fenaj: eles foram responsáveis por 23 das 30 ocorrências que envolviam eleitores/manifestantes.

Parte das agressões ocorreu durante dias de votação e comemorações da vitória. Bolsonaro não mantém uma boa relação com a imprensa. Repetidamente, o presidente usa sua conta no Twitter para reclamar de matérias críticas a sua administração. Organizações de defesa à liberdade de imprensa já demonstraram preocupação com o novo governo.

Outro acontecimento importante de 2018 no Brasil, a greve dos caminhoneiros também contribuiu para o aumento das agressões contra jornalistas. Dezenas de profissionais foram impedidos de cobrir as paralisações e violentados verbal ou fisicamente. Segundo a Fenaj, 17% dos agressores dos casos registrados eram caminhoneiros, ou 23 casos.

(Imagem: divulgação/Fenaj)

prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi estopim para violência contra jornalistas. A Fenaj contou sete casos de agressão em protestos contra a condenação e encarceramento do ex-presidente. O episódio motivou dois ataques por parte de policiais militares e uma ocorrência de censura — quando o Supremo Tribunal Federal impediu que a imprensa entrevistasse o ex-presidente.

Perfil dos agressores

A Fenaj destacou a mudança no perfil do agressores. De 2013 a 2017, os principais perpetradores de violência contra jornalistas haviam sido policiais militares ou guardas municipais, que ficaram em terceiro lugar no número de ocorrências em 2018.

A presidente da entidade jornalística, Maria José Braga, escreve no relatório de que o fato de eleitores, manifestantes e caminhoneiros terem contribuído para o crescimento da violência contra profissionais da imprensa “é uma demonstração inequívoca de que (estes) grupos e segmentos não toleram a divergência e a crítica e não têm apreço pela democracia”.

Comunicadores assassinados

A Fenaj também ressaltou um caso de homicídio, em Rondônia. A federação não registrou nenhuma morte em razão do exercício profissional em 2017.

O jornalista Ueliton Bayer Brizon, dono do site Jornal de Rondônia, foi assassinado no dia 16 de janeiro de 2018. Segundo a Fenaj, o vereador Euzébio Brizon (PMDB), conhecido como Zebim Brizon e primo de Ueliton, é investigado pelo crime, em razão de um conflito familiar.

A entidade contou outros quatro casos de homicídio em uma categoria separada, se tratarem de radialistas: Marlon Carvalho de Araújo, morto na Bahia em 16 de agosto; Jefferson Pureza Lopes, morto em Goiás em 17 de fevereiro; Jairo Souza, morto no Pará em 21 de junho; e Severino Faustino Almeida, morto na Paraíba em 24 de outubro.

Perfil das vítimas

A maior parte dos jornalistas violentados no ano passado foi vítima de agressões físicas (24,4% das ocorrências), seguido de ameaças e intimidações (20,7%) e agressões verbais (20%). Os impedimentos ao exercício profissional tiveram um aumento significativo e chegaram a 14,8% dos casos em 2018.

A região Sudeste do país foi onde se contabilizou o maior número de ocorrências (39,2% do total), com destaque para o estado de São Paulo (20,7% do total). A região Sul ficou em segundo lugar na quantidade de violências (28,1%), sendo a maior parte no Paraná (16%), onde o ex-presidente Lula está preso.

Apesar de serem maioria na profissão (67%), as mulheres jornalistas não foram os alvos mais frequentes de ataques. A maior parte das vítimas (46,2%) era do sexo masculino, uma tendência registrada pela Fenaj desde a década de 1990.

As equipes de televisão foram mais frequentemente alvo de violência, sendo 39,2% do total de vítimas. Em seguida, estão os profissionais da mídia impressa, que totalizaram 20,9% das ocorrências.

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Knight Center

O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin é um programa de extensão e capacitação profissional para jornalistas na América Latina e no Caribe. Organiza programas de treinamento que já beneficiaram milhares de jornalistas e professores de jornalismo nas Américas. O Centro Knight também ajudou a criar uma nova geração de organizações jornalísticas independentes. Essas organizações têm desenvolvido programas de treinamento auto-sustentáveis com o objetivo de aumentar os níveis éticos e profissionais do jornalismo, contribuindo assim ao aprimoramento da liberdade de imprensa e da democracia no hemisfério. O Knight Center publica um blog trilíngue em português, espanhol e inglês que cobre temas ligados ao jornalismo e à liberdade de imprensa na América Latina e no Caribe.

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