Relatório divulgado nesta semana revela que um jornalista brasileiro morreu a cada 2,2 dias vítima da Covid-19. No total, ao menos 314 profissionais de comunicação foram mortos pela doença de abril de 2020 a fevereiro de 2022. Os dados foram levantados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), no âmbito do Departamento de Saúde e Segurança, e publicados na edição atualizada do dossiê “Jornalistas vitimados pela Covid-19”.
O documento é resultado de buscas diretas em jornais e sites de diversas partes do país, de informações fornecidas por sindicatos estaduais da categoria e de relatos de colegas da profissão. No relatório, o diretor da Fenaj Norian Segatto destaca a possibilidade de os números estarem subestimados e, dessa forma, não expressarem a real dimensão da tragédia no Brasil — líder do ranking de países em que mais morreram jornalistas devido à covid-19, segundo a Press Emblem Campaign. Até agora, a pandemia já vitimou mais de 658 mil brasileiros.
O levantamento inclui dados de repórteres fotográficos e cinematográficos, mas não abarca informações acerca de radialistas e outros comunicadores. O gráfico abaixo mostra os números de profissionais vítimas em cada mês do período analisado.
O período de março a julho de 2021 caracteriza-se como o mais crítico para os profissionais de imprensa, concentrando 51% das mortes registradas. Quanto à média de mortes, o ano de 2021 foi o pior: uma morte a cada 1,6 dia (222 óbitos no total). O ano de 2020 teve a média de uma morte a cada 3,4 dias (81). Até o momento, 2022 registra, entre profissionais da imprensa uma morte a cada 5,3 dias (11).
São Paulo, o estado mais populoso do país e com o maior número de jornalistas, é o líder do ranking dos estados em que foram verificados mais casos de vítimas fatais, com 42 mortes por Covid-19. O dado corresponde a 33,7% do total registrado. Em seguida, também em relação a números absolutos, está o Rio de Janeiro, com 33 casos. Na sequência, aparecem: Pará (24), Paraná (24) e Minas Gerais (20).
O governo brasileiro trabalhou para a disseminação do vírus, apostando, equivocadamente, na chamada ‘imunização de rebanho’
É possível conferir no relatório quantos casos foram registrados por mês em cada unidade federativa, além de dados sobre faixa etária e com perspectiva de gênero. A lista com os nomes das vítimas também está disponível no documento.
O dossiê sobre jornalistas vítimas de Covid-19 no Brasil ressalta o papel da vacinação na preservação da vida dos profissionais de imprensa. Segundo o documento, em janeiro e fevereiro deste ano foram registrados 11 casos fatais. No mesmo período do ano passado foram contabilizadas 42 mortes. A queda expressiva deve-se ao início e, sobretudo, ao avanço da campanha de vacinação contra a doença no país.
Para a presidente da Fenaj, Maria José Braga, os óbitos de jornalistas são reflexo do elevado número de casos e de mortes de brasileiros pela Covid-19 que poderia ter sido evitado. “O governo federal poderia e deveria ter tomado as medidas sanitárias necessárias para conter a disseminação do vírus no país e não o fez. Pelo contrário, o governo brasileiro trabalhou para a disseminação do vírus, apostando, equivocadamente, na chamada ‘imunização de rebanho’”.
Um ponto a ser observado a partir da melhora do cenário de óbitos de jornalistas diz respeito às sequelas dos profissionais que tiveram Covid-19, como dificuldade de concentração e problemas de memória e do trato respiratório. A presidente da Fenaj defende que os jornalistas com sequelas da doença devem ser apoiados pelas empresas para as quais trabalham para que acessem tratamentos de recuperação.
“Os sindicatos de jornalistas podem apoiar os profissionais para o reconhecimento da Covid-19 como doença do trabalho. É uma garantia de que não haverá demissão até o restabelecimento da saúde do trabalhador”, declarou Maria José Braga.
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