A semana não acaba com apenas boas notícias para jornalistas de Alagoas. Depois de verem a Justiça validar a reivindicação que culminou em greve de 9 dias, em luta contra a possibilidade de ter o piso salarial diminuído em 40%, alguns desses comunicadores entram para a lista de milhões de desempregados do país. Na quinta-feira, 4, a TV Gazeta, afiliada da Rede Globo no estado, promoveu demissão em massa. Ao todo, o passaralho atingiu 15 funcionários. Uma das mais prejudicadas durante o movimento grevista, tendo de exibir reportagens gravadas e exibidas há meses, a emissora pertence à Organização Arnon de Mello, que é administrada pelo ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello e seus familiares.
Os cortes da TV Gazeta foram direcionados a jornalistas que aderiram à greve que durou de 25 de junho a 3 de junho. Alguns dos comunicadores foram demitidos assim que chegaram à sede do canal, em Maceió, no momento em que se preparavam para retomar suas atividades, conforme informa o site Observatório da Televisão. Os desligamentos, contudo, podem ser revertidos ao decorrer dos próximos dias. É que ao validar o movimento grevista, vetando a diminuição do piso salarial da categoria, o Tribunal Regional do Trabalho ordenou estabilidade. Dessa forma, nenhum profissional envolvido na paralisação poderia ser dispensado ao decorrer dos próximos três meses. A decisão judicial era relativa à emissora de Collor e das afiliadas de SBT (Ponta Verde) e Record TV (Pajuçara) em Alagoas.
As demissões na TV Gazeta logo após fim da greve de comunicadores foi contestada para além dos limites de Alagoas. Em nota oficial, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) contestou a decisão por parte da empresa de mídia. A entidade sinaliza que buscará os meios legais para que os 15 demitidos voltem a trabalhar normalmente. “[Solidarizamo-nos] com os jornalistas demitidos e se soma ao Sindicato dos Jornalistas de Alagoas na luta para que mais essa arbitrariedade e ilegalidade cometidas pela OAM seja revertida. Com o apoio decisivo de toda a categoria – que mostrou coragem, firmeza e disposição para a luta durante a greve e reafirmou sua altivez na assembleia realizada nesta quinta-feira – a luta em defesa dos demitidos e de toda a categoria será igualmente vitoriosa”, afirma a instituição.
No mesmo passo que o dado pela Fenaj, os responsáveis pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal) ressaltou que está apoiando os comunicadores demitidos nesta semana pela empresa controlada pela família Collor. A entidade informa que “está atuando, junto aos seus advogados, com todas as providências jurídicas possíveis e adotando todas as articulações que o caso requer”. Além dos cortes na TV Gazeta, grupos de mídia estariam pondo em prática ações que vão contra as regras trabalhistas, denuncia o Sindjornal. “Companheiros e companheiras que estão sofrendo, nas empresas, medidas retaliativas – demissões ou mudança de funções – que configuram perseguição e assédio moral, em decorrência de participação na justa greve”, pontua.
Se na política brasileira, Fernando Collor de Mello entrou para a história por ser um péssimo presidente, saindo do poder por meio de impeachment em 1992, algo similar pode ser dito em relação à sua trajetória enquanto executivo de veículo de comunicação. À frente da TV Gazeta e de toda Organização Arnon de Mello, sua gestão é alvo de críticas por parte da Fenaj não apenas pela decisão de demitir jornalistas que lutaram em prol de seus salários. Para a entidade, o passaralho de agora é só “mais uma demonstração da forma autoritária e abusiva com que o grupo trata seus trabalhadores e trabalhadoras”. De acordo com a Fenaj, os cerca de 40 demitidos pelo grupo em novembro do ano passado não receberam até hoje as verbas rescisórias. Tanto Collor quanto a empresa não se pronunciaram a respeito.
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