A quarta-feira, 25, não foi um bom dia para os militantes políticos responsáveis pelo Movimento Brasil Livre (MBL). O grupo alinhado com pensamentos da extrema direita se viu no centro da operação de combate às fakes news liderada pelo Facebook. Fan pages ligadas à entidade foram excluídas da plataforma, conforme noticiou a Reuters em reportagem de Brad Haynes e Laís Martins.
Foram eliminadas páginas consideradas como disseminadoras de notícias falsas. A empresa de Mark Zuckerberg afirma que a decisão ocorreu a fim de desmantelar “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas”. Entre as contas apagadas estão “marcas” que com frequência eram compartilhadas pelo MBL – que conta em sua fan page principal com mais de 2,7 milhões de curtidas. São os casos de veículos focados em boatos no espectro da política nacional, como Ceticismo Político, Jornalivre e O Diário Nacional.
Em sua própria defesa, o MBL passou o longo das últimas horas divulgando postagens para criticar o trabalho do Facebook contra as fake news. Insistindo no discurso de vítima de censura, o movimento acusou a rede social de agir contra organizações de direita. “Já há muito o Facebook tem sido alvo de atenção internacional, por conta de viés político e ideológico”, acusou o grupo em nota oficial. A entidade de Kim Kataguiri e companhia ainda garantiu que, diferentemente da plataforma norte-americana, é defensora da liberdade de expressão e da democracia.
Em vídeo divulgado no canal do MBL no YouTube, o fundador do grupo, Renan Santos, lamentou a decisão do Facebook. Ele disse que a ação simbolizava um “dia negro para a liberdade de expressão” no Brasil. O líder do movimento político, que chegou a ter o próprio perfil excluído da plataforma, também acusou a rede de agir contra organizações alinhadas com pensamentos socioeconômicos de direita. Chegou, ainda, a chamar de “esquerdista” o jornalista da Reuters responsável pelo furo jornalístico. “É um ataque sorrateiro e vagabundo”, lamentou o militante político.
O Facebook, porém, não foi o único a ser criticado pelos posicionamentos do MBL. Sobraram ataques à imprensa – além de compartilhamentos de colunistas defendendo o grupo, como Rodrigo Constantino, garoto-propaganda do serviço de assinaturas da Gazeta do Povo. A entidade chegou a se colocar como expoente do bom jornalismo, servindo – segundo eles – para exercer o “importante papel de denunciar as fake news da grande mídia brasileira”. O movimento ainda disse que os veículos de comunicação estariam “comemorando a derrubada“.
A atitude de eliminar páginas consideradas propagadoras de fake news fez com que o Facebook fosse questionado por autoridades. Em ofício publicado no fim da tarde de hoje, o procurador Aílton Benedito de Souza, do Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO), cobrou a rede social. Ele quer que a empresa norte-americana divulgue a lista completa com os nomes das fan pages excluídas. Ele também pede que os donos das contas eliminadas sejam devidamente notificados, com “justificativa fática”. O prazo para isso será de 48 horas.
O MPF-GO não foi o único órgão a questionar a decisão tomada pela rede social. Jornalista especializado na cobertura dos bastidores do poder diretamente de Brasília, George Marques, do site Metrópoles, informa que há movimentação para se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a conduta da companhia estrangeira. A criação da “CPI do Facebook” foi ideia do deputado federal Jerônimo Goergen (PP/RS). “[Ele] confirmou que logo após o recesso parlamentar pretende colher assinaturas (171 exigidas por lei) para dar entrada no pedido”, informa o comunicador.
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