Grande mídia segue devorando com facilidade petistas e dando panos quentes para tucanos. Mas algo parece ter azedado no novo relacionamento com o “gestor”.
O final de semana não foi generoso com João Doria Jr. Parece que o “gestor que não é político” teve uma lua de mel encerrada com a imprensa. Começou na sexta-feira com críticas duras do ex-governador Alberto Goldman, que o chamou de incompetente. Doria devolveu um vídeo chamando-o de “velhaco”. A coisa não parou ai.
A pesquisa Datafolha divulgada no dia 8 de outubro mostrou que só 15% dos consultados querem João Doria Jr. candidato ao Planalto no lugar de Geraldo Alckmin, seu mentor político. A maioria dos pesquisados, 63%, querem que Doria permaneça no cargo de prefeito.
A aprovação da gestão de João Doria também caiu de 41% para 32%. O prefeito culpou o “rombo” da gestão Fernando Haddad. A paulada não veio somente do instituto de pesquisas do jornal Folha de S.Paulo.
O Estado de S.Paulo criticou duramente Doria no editorial “Cidade Linda só no nome”. “O prefeito deve uma explicação aos paulistanos. Mas ela certamente não é fácil para ele, porque deveria começar pela sua pouca presença à frente da administração da cidade. Doria hoje, como é notório, cuida muito mais de política – logo ele, que se elegeu apresentando-se como ‘gestor’ – do que de administração, de olho numa possível candidatura à Presidência em 2018. Se conseguir, o que fará com sua fama de mau prefeito?”, diz o jornal da família Mesquita.
O blog antipetista O Antagonista, de Diogo Mainardi e Mario Sabino, também não poupou críticas ao prefeito paulistano. “Doria é um caso de síndrome de Hutchinson-Gilford na política. Envelheceu 100 anos em dez meses. Se é para ser um Geraldo Alckmin, ainda existe o original”, diz o site.
O ex-prefeito Haddad ironizou o atual gestor no Twitter. “Estadão chateado com o Doria. Puxa. O Antagonista também está chateado com o Doria. Onde isso vai parar?”. As brincadeiras de Fernando Haddad tem um fundo de razão. Talvez a forma como a grande mídia adora demonizar o PT e apagar os erros do PSDB.
A imprensa, no entanto, parece não querer mais proteger João Doria.
Fernando Haddad publicou em junho, na revista Piauí, um artigo chamado “Vivi na pele o que aprendi nos livros”. Deu um balanço de sua gestão em São Paulo, falou do impeachment de Dilma e dos rumos do PT. Relembrou que foi atacado desde o primeiro dia de sua gestão.
“Em relação a mim, a Jovem Pan não fazia propriamente jornalismo, mas algo como uma campanha persecutória. Basta ir aos arquivos da emissora para constatar. Villa resolveu utilizar seu tempo para me difamar diariamente a partir de uma análise pedestre da agenda institucional do prefeito. Diante da recusa da JP em considerar os dados oficiais sobre minha jornada de trabalho, adotamos um procedimento didático que desmoralizou nosso acusador (…). Ele mordeu a isca e fez os comentários raivosos de praxe para me desqualificar. Então informei o trote pelo Facebook. Até aí, só bom humor. Inconformado, entretanto, o comentarista cobrou no ar, ensandecido, providências do Ministério Público. E elas chegaram na forma de uma ação de improbidade, da qual já fui absolvido, e de um inquérito criminal, em curso”, afirma no texto.
Haddad também foi criticado pela mídia de esquerda por seu posicionamento alinhado com o governador Geraldo Alckmin durante os protestos contra o aumento das passagens em 2013. No entanto, a porrada mais sentida pelo petista veio da mídia mainstream. A grande imprensa tem um histórico de rejeição ao PT.
O ex-prefeito contou 413 editoriais do Estadão contra a figura dele e de sua gestão. João Doria não tem nada remotamente parecido, mas agora, nove meses depois de pura ineficiência, parece sentir na pele o que os petistas sentem o tempo todo.
Embora Doria se venda como um político “do mercado”, o que é na verdade é um marqueteiro; Um homem da publicidade.
E não existe inferno pior para um prefeito-marqueteiro do que tomar porrada de todos os lados da mídia.
*Artigo originalmente publicado na rede social Storia.
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