Com 175 corridas cadastradas no site “Corrida de Rua”, Minas Gerais está na segunda posição entre os estados que mais realizam esta atividade, perdendo apenas para São Paulo, com 366. No dia da pesquisa, o site contava com 1482 corridas catalogadas. O estudo mais abrangente sobre o segmento, o “State of Running 2019”, mostra que desde 2016, o crescimento anual de participantes em corridas de rua foi de 20%. A pesquisa foi divulgada pelo site da Run Repeat com base em 70 mil eventos analisados entre 1986 e 2019. Em dez anos, o número de praticantes aumentou 57% no mundo.
Em Uberlândia, cidade de pouco mais de 700 mil habitantes no interior de Minas Gerais, a Corrida do Cerrado chega a 11ª edição neste mês, que celebra os 10 anos do bairro planejado e os 135 anos da cidade. Com trajetos de 5km e 10 km e circuitos de 300m e 600m para crianças a partir de 6 anos de idade, a prova homenageia também a árvore Flamboyant, que faz parte da paisagem do bairro. José Inácio Pereira, diretor superintendente do Granja Marileusa, avalia a participação das famílias como o principal chamariz para a Corrida do Cerrado e reforça que não é um evento para toda Uberlândia. “Como um bairro planejado, incentivamos atividades coletivas esportivas e temos recebido nestes eventos diferentes perfis de atleta, do amador ao profissional, com suas famílias”.
A categoria “Kids” desde o ano passado não tem pódio com troféu, mas tem medalha para todos os participantes. A psicóloga Lindiana Salvador explica que apesar de o mundo estimular a competitividade, é preciso pensar em soluções e atividades coletivas. “Quando fazem atividades juntas, sem o peso de um lugar no ranking, as crianças aprendem sobre inclusão e pertencimento, com foco no esforço e não no resultado, e isso ajuda na diminuição, inclusive, da ansiedade”. Para ela, nas atividades ao ar livre como a corrida, as crianças aprendem e exploram mais o processo, porque não estão preocupadas em ganhar. Querem uma aventura numa nova modalidade na qual uma é companheira da outra e desenvolvem apoio, acolhimento, criam memórias afetivas e melhoram a autoestima.
O educador físico e personal trainer Anderson Cruz explica que a corrida amadora ou para pessoas que não almejam a competição tem vários benefícios, os principais são o aumento de gasto calórico auxiliando no emagrecimento e diminuição das gorduras no fígado e do colesterol ruim, fortalecimento dos músculos dos membros inferiores e abdômen, maior vascularização diminuindo o risco de doenças cardíacas. “A corrida ainda ajuda no aumento dos bons hormônios como a endorfina trazendo bem estar e auxiliando nos tratamentos da depressão e ansiedade, além da socialização com outros indivíduos com os mesmos interesses”.
A corrida tem trechos no asfalto e na terra, ponto em que passa dentro do Parque Bike, que está em uma Área de Preservação Permanente (APP) e é usado para a prática de mountain bike. Ricardo Lopes, da Apuana Esportes, organizadora do evento, começou a empreender também há 10 anos, quando muitos acreditavam que a corrida de rua era uma “febre, uma modinha”. O que não se confirmou. “Nesses dez anos vimos a popularização do esporte, o número de provas subir de quatro para 40 e o amadurecimento do atleta local”, explica.
Histórias de superação
Edina Gouveia correu na edição de 2022 e para ela, nada é mais valioso do que as histórias que se constroem em eventos como este. “Conhecemos pessoas com histórias de superação por meio do esporte que pode transformar vidas”.
Um exemplo dessa transformação é a família de Rafael Mamede. Quando era mais novo, ele queria ser nadador. Mas com dois tímpanos perfurados teve que desistir do esporte. Entre 1988 e 1990 foi atleta do futebol amador. As contusões fizeram com que partisse para a corrida, em 2011. Entre uma volta e outra no Parque do Sabiá, com aval de um médico, começou a treinar, e sua estreia em corridas de rua foi na primeira Corrida do Cerrado. “Foi gradual, comecei com 2k, 5km, 10km e realizei até o sonho de correr na São Silvestre”, comentou Mamede.
O filho, Bruno Mamede, diagnosticado com autismo aos 3 anos, de tanto ver o pai correr, seguiu o mesmo caminho. “Ele gostou de correr. Nosso desafio era fazê-lo correr sem mim e foi assim que surgiu a nossa dupla”. Em 2019 Rafael, depois de um exame de rotina, soube que precisaria de uma angioplastia. A pausa para recuperação fez com que a ansiedade de Bruno aumentasse, mas seis meses depois, eles já estavam de volta às pistas. Atualmente correm, pedalam e frequentam a academia. A dupla tem centenas de medalhas Ao chegar ao número 200, Bruno a recebeu no estádio do Parque do Sabiá. Na 11ª Corrida do Cerrado Rafael e Bruno terão a companhia do sogro de Rafael. “É mais um da família que trouxemos para o mundo das corridas”. E tudo pode ser acompanhado pelas redes sociais deles.
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