Quando eu era criança eu queria ter altura pra alcançar a Rádio Jornal do Brasil AM. Era uma uma rádio tão elevada… acho que até hoje não tenho roupa pra ouvir aquilo.
Fui moleque de conhecer o pop dos anos 80 pela rádio Cidade de locutores como o Luiz Carlos Jr., depois ali a música dos DJs com o Memê. A Fluminense, loba da estepe, me embalou na direção do rock, do reggae, do metal, do jazz, das bandas novas que só na Fluminense eu conseguiria ouvir. Na rádio Imprensa do Simon Khouri eu ouvia de tudo.
No supermercado Três Poderes da velha Barra da Tijuca eu abracei a música ultrapopular brasileira pelas rádios Manchete e FM 98, e muitas vezes levei as duas bregamente pra casa, sobretudo quanto tinha o Good Times e a tradução do amigo Robson Castro.
Curti o estilo e a comunicação da rádio Panorama (em 90,3!), que pouquíssimos conheceram. E ouvi intensamente a Globo FM, circa 1995: programação musical sensacional, locução classuda e moderna, programas especialíssimos como o latino da Belinha Almendra.
A rádio Tropical me divertia demais. Era “música, notícia e futebol”, mas eu ficava só com a música – e quem ouviu samba naquela rádio vai sorrir só de lembrar.
Guardo com orgulho a lembrança da qualidade musical e do jornalismo da rádio Alvorada, na qual aliás tive a honra de trabalhar como repórter e editor do noticiário cultural em 1997.
Narrei e comentei do Cariocão à Copa do Mundo pela rádio Família entre 2013 e 2014. E, no dial do meu coração, futebol é na Tupi com Doalcei, para sempre.
Todas estas rádios acabaram. Como negócio e como bandeiras, emissoras de rádio acabam. Em toda parte do mundo. Aqui, daqui a pouco o AM vai acabar. Mundo afora, o FM já está acabando.
O encerramento da MPB FM é lamentável, sobretudo com o modo como se deu. Traz bom momento pra lembrar que tem música brasileira sendo apresentada, com sua grande diversidade, na Roquette Pinto, na MEC AM (e nas redes, e nas ruas). A música brasileira continua aí, uma rádio a menos e muitos sons a mais, em lugares muito mais afeitos à pluralidade e ao acesso descomplicado.
Só lamentar o fim das rádios não adianta. Fico triste pelos profissionais e ouvintes perdidos com o fim da MPB FM, mas é um alento ver que, para além da questão de orfandade, algumas vozes estão se levantando querendo refletir bastante sobre o sistema no qual o rádio brasileiro está (a)fundado. Pouca coisa tende a melhorar se não se desenhar um novo sistema de permissões e um modelo inteligente de financiamento para que tenhamos volume de produção com qualidade e diversidade. Um processo similar teve início no setor audiovisual com resultados muito expressivos e a construção, em menos de dez anos, de um cenário completamente novo para a produção, distribuição e exibição de conteúdo. Para o rádio? É possível, se começarmos.
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Edison Viana. Carioca, 41 anos, formado em Comunicação Social – Rádio e TV – pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde iniciou em 1994 trajetória na criação e gestão de projetos de indústria criativa e do entretenimento. No rádio, tem trabalhos como repórter, editor de conteúdo, apresentador, narrador e comentarista de esportes. Teve atuação executiva na indústria fonográfica, de edições musicais e de shows, bem como na concepção e realização de projetos culturais. Desde 2005 atua no campo do audiovisual, colaborou com o setor público e o setor privado na elaboração, financiamento e gestão de projetos e investimentos.
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