As jornalistas Carla Jimenez, editora-executiva do El País Brasil, e Silvia Fonseca, editora-executiva de O Globo, se uniram para falar sobre ‘Mulheres no Poder’. Com moderação de Letícia Duarte, repórter do jornal Zero Hora, a conversa aconteceu durante o 11° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado em São Paulo na última semana. Durante o debate, elas falaram sobre cargos de liderança e assédio no ambiente de trabalho. Para as palestrantes, avaliar o sucesso profissional pelo cargo é errado. Elas falaram, ainda, que a função do repórter é sempre a melhor dentro de uma empresa de comunicação.
Com opiniões bem parecidas, as duas profissionais abordaram o tema assédio nas redações após série de perguntas dos participantes, em sua maioria mulheres, que lembraram o caso da jornalista do iG, que foi demitida após denunciar o cantor de funk Mc Biel por assédio sexual. A editora do portal, que escreveu a matéria sobre a violência, também foi demitida dias depois. As editoras-executivas relataram que ao longo de suas carreiras não foram vítimas de assédio e nem se sentiram prejudicadas por serem mulheres.
“Penso muito sobre essa questão de gênero. Tenho cargo de chefia desde 2004 e não acho que é mais difícil estar nessa posição por ser mulher. Não posso reclamar da minha carreira. O fato de eu ser mulher me beneficiou ou prejudicou? Não sei. Acredito que existem dificuldades em todas as profissões e idependem de gênero. Precisa aprender a driblar”, aconselha Carla.
Silvia tem a mesma sensação e lembra que quando começou a trabalhar em O Globo, há 30 anos, as mulheres já usavam calças e que de lá para cá poucas coisas mudaram. “Não acho que ser mulher faz diferença e não considero que tive dificuldades no meu trabalho por isso. Vejo muita discussão sobre poucas mulheres em cargos de liderança. Em O Globo, já tivemos épocas em que todas as editorias tinham mulheres na liderança, exceto a de esportes. Em redação, não é o gênero que faz diferença, mas quem é bom de verdade. O bom repórter é que vai se destacar”.
As duas jornalistas acreditam que não existem reservas de mercado para gêneros. Carla ainda lembrou que muitos homens pensam sobre a justiça dentro das redações e que é preciso tomar cuidado para “não ficar com aquela coisa maniqueísta”. “Existem bons chefes homens e mulheres, assim como existem ruins”, reforçou a editora do El País.
Em meio ao debate, a jornalista homenageada da edição de 2016 do Congresso Abraji, Elvira Lobato, contribuiu com sua experiência. Ela estava na plateia e conversou sobre o tema com os participantes. “Comecei no jornalismo nos anos 1970, quando a mulher era minoria. Vi as redações enchendo de mulheres e medir a valorização pelo cargo é um erro. O sucesso é ser chefe? Eu discordo. A presença da mulher no jornalismo é grande e acabamos nos colocando em lugar de vítima. Durante a minha carreira, fiz pauta em delegacia, subi morro e não vi diferença”. Elvira disse que é evidente que a profissão passa por crise, mas o problema é de desemprego e de recessão, não de gênero.
Moderadora do painel, Leticia Duarte relatou que no início de sua carreira chegou a não fazer uma das pautas propostas, pois o superior teria acreditado que seria arriscado para uma mulher. Passado algum tempo, ela retornou com a ideia e foi assim que nasceu o especial “Filho da Rua”, grande reportagem apurada ao longo de três anos. A produção foi reconhecida em diversos prêmios, entre eles o Esso Nacional de Reportagem e o Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
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