O campo da criatividade também foi alcançado pelas mulheres. Aos poucos, a presença feminina está se tornando forte e recorrente no mercado publicitário. Diversas iniciativas fomentam a participação da mulher na indústria da propaganda, como o Cannes Lions Festival Internacional de Criatividade, que exige que pelo menos 30% de suas cadeiras de júri sejam ocupadas por executivas.
A reportagem do Portal Comunique-se conversou com três brasileiras do júri de Cannes que avaliaram o comportamento da indústria em relação às mulheres e ressaltaram a competência feminina no mercado publicitário nacional: a sócia-fundadora da A10, Margot Takeda; a presidente da Dentsu Aegis, Claudia Colaferro; e a presidente da Momentum, Maria Laura Nicotero.
As três executivas avaliaram a cota estabelecida pelos organizadores do festival como oportunidade positiva para as mulheres ganharem espaço. Maria Laura diz que a ideia é que a indústria olhe, cada vez mais, para o talento das líderes femininas, chamando atenção para dar luz ao trabalho desenvolvido por elas.
“Cannes é a grande vitrine onde todos param e observam. Quando você levanta bandeira assim, provoca discussão dentro da sua empresa, da sua casa e de você mesma, se perguntando como constrói e lidera sua equipe. Projetos como esses são maravilhosos porque quebram as diferenças. Mesmo que os resultados surjam a médio e longo prazo, é extremamente positivo”, afirmou a presidente da Dentsu.
Margot declara que o mundo inteiro passa pelo processo de crescimento da percepção do valor das mulheres no negócio. No Cannes Lions não é diferente, as representantes femininas ganham espaço não apenas pela regra, e sim pela competência e capacidade fazer bom trabalho.
Para a sócia-fundadora da A10, ser jurada na premiação é grande responsabilidade, não só perante aos criativos, como também ao mercado. “É uma oportunidade positiva. Vou pela primeira vez pelo júri, na categoria Design, área que está crescendo no Brasil e que está trazendo soluções cada vez mais inovadoras focadas em estratégia de marca”, disse.
Claudia Colaferro diz que a porcentagem é positiva para iniciar a participação da mulher tanto no festival quanto nas empresas. Ela é uma das representantes do grupo “Mulheres do Brasil”, que busca a inserção de cotas femininas nos conselhos das empresas brasileiras.
“Tanto em Cannes ou no mercado brasileiro existem barreiras que precisamos transpor. As cotas, neste primeiro momento, ajudam nessa situação. Antes disso, existiam duas questões: de fato tínhamos mais homens nessas profissões e as mulheres se envolviam em tantos outros assuntos que, eventualmente, não lutaram por estarem lá. Agora, isso está mudando”, analisou Claudia.
Mercado brasileiro
No Brasil, a participação feminina na publicidade também luta por espaço. Para Maria Laura, o que falta é “dar tempo ao tempo”. Segundo ela, há várias iniciativas de grandes empresas que tendem a melhorar o cenário para as profissionais.
Claudia dá o exemplo da Dentsu Aegis, onde sempre que é aberta vaga sênior – “que é onde faltam mulheres”, diz a executiva – é selecionado o mesmo número de candidatos dos dois gêneros. Ao fim do processo, a escolha é feita com base nas competências.
Ela avalia que o comportamento masculino também está mudando. “O homem quer ir pra casa, ver os filhos e estar com sua esposa”, disse. Para ela, este fato somado a possibilidade de home office – graças à evolução da tecnologia – faz com que as mulheres desenvolvam trabalhos melhores e, naturalmente, cheguem mais longe.
Representante do mercado de design, Margot afirma que em grandes corporações e empresas globais da área há muitas mulheres ocupando cargos de direção, criatividade e comunicação. “No mundo, não só nesta indústria de criatividade, a relação entre homens e mulheres mudou. Não existem mais negócios masculinos ou femininos, existem negócios poderosos criados em conjunto”, declarou.
*Com edição e supervisão de Anderson Scardoelli.
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