Na mira de Moro, Glenn Greenwald recebe apoio

Fundador do site The Intercept Brasil parece ter entrado na mira da Polícia Federal, que está sob o guarda-chuva de Sergio Moro e do Ministério da Justiça

Situação tem feito com que o jornalista Glenn Greenwald conte com rede de apoios, de jornalistas a agentes da política — e passando por entidades da imprensa e de outros setores

Texto assinado por Claudio Dantas em O Antagonista na tarde de terça-feira, 2, destaca que a Polícia Federal pediu relatório ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as movimentações feitas pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil. “O objetivo é verificar qualquer movimentação atípica que possa estar relacionada à invasão dos celulares de integrantes da Lava Jato”, informou O Antagonista com a marcação de “exclusivo” sobre a solicitação por parte da PF, que está vinculada ao Ministério da Justiça, que é comandado pelo ex-juiz federal Sergio Moro.

A possível ação por parte da PF contra Glenn Greenwald foi vista por profissionais da imprensa, entidades do setor e até políticos como ato de revanchismo orquestrado por Moro. Isso porque o site criado pelo jornalista norte-americano radicado no Brasil tem publicado série de reportagem batizada de #VazaJato. Baseados em trocas de mensagens enviadas pelo aplicativo Telegram, os conteúdos apresentados ao público pelo The Intercept Brasil mostram, entre outros pontos, que o então juiz federal — e hoje ministro da Justiça — chegou a orientar os procuradores responsáveis pela acusação contra o ex-presidente Lula.

Moro tem sido personagem central da série #VazaJato, do site The Intercept Brasil

Com isso, há quem relacione a solicitação da Polícia Federal ao Coaf como forma de tentar impedir o livre trabalho da imprensa. “É importante salientar que o site The Intercept Brasil está fazendo jornalismo. E o que é fazer jornalismo? É buscar informações de interesse público e reportar essas informações de interesse público para a sociedade […]. O jornalista de qualquer veículo, ao ter conhecimento de uma informação importante para a vida nacional, para o debate público, a sua obrigação reportar essa informação para toda a sociedade”, disse em entrevista ao Sputnik a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga.

Recém-empossado presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo também assinou carta em defesa do trabalho do jornalista norte-americano e do site The Intercept Brasil. Também conhecido por Pagê, ele demonstrou preocupação com a segurança do comunicador e de sua família. Externou, assim, “profundo repúdio e indignação diante da inaceitável e odienta campanha”. “Tal campanha, orquestrada pelo que há de mais atrasado politicamente na sociedade brasileira – saudosos da censura, das prisões e torturas de jornalistas, que caracterizaram os 21 anos de ditadura militar – tem por objetivo tentar criar um clima de medo e impedir que os profissionais da imprensa desempenhem, de forma livre, a sua função social de informar e esclarecer a sociedade”, reforça o presidente da ABI.

Entidades internacionais se posicionam

Antes mesmo da informação sobre o pedido da Polícia Federal contra Glenn Greenwald, entidades internacionais já tinham saído em defesa do criador do site The Intercept Brasil. Texto de Vinícius Segalla para o Diário do Centro do Mundo destacou na segunda-feira, 1º de julho, que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram atitudes por parte de autoridades do Brasil em relação aos desdobramentos da série #VazaJato. “As ameaças, desqualificações por parte das autoridades e as intimidações recebidas pelo jornalista Glenn Greenwald da agência de notícias The Intercept Brasil, bem como com seus parentes, após a divulgação de informações e denúncias de interesse público”, afirmaram as duas entidades em comunicado conjunto.

Apoio de colegas nacionais e internacionais

A notícia mostrando que Sergio Moro pode estar colocando Glenn Greenwald em seu alvo, jornalistas do Brasil e do exterior demonstraram indignação e saíram em apoio ao colega que tem no currículo um prêmio Pulitzer. “Assustador. O tipo de coisa que você espera da China autoritária de Xi Jinping, não uma das maiores democracias do mundo”, escreveu, ao discorrer sobre o assunto, o comunicador britânico Tom Phillips. “É um dos maiores ataques à liberdade de imprensa já feitos. E um total abuso de poder”, ponderou Eliane Brum, que colocou que o caso precisa ser confirmado. Em conteúdo para a Folha de S. Paulo, Nelson de Sá se baseou em posicionamento da Freedom of the Press Foundation para destacar o “ataque ultrajante”.

Políticos de esquerda também criticaram o ex-juiz federal e defenderam o jornalista. Entre eles, dois dos candidatos derrotados na disputa pela presidência da República no ano passado. “Isto é intolerável! Vou pedir ao PDT que procure na Justiça impedir esta violência. Sergio Moro, você está se comportando como um irresponsável!”, reclamou Ciro Gomes. O petista Fernando Haddad foi pelo mesmo caminho do pedetista. Para o político que disputou o segundo turno de 2018 contra Jair Bolsonaro, a atitude do atual ministro da Justiça não combina com democracia. “Moro age para intimidar o jornalista que o investiga. Prática é comum em ditaduras. Glenn disse que não recua, apesar das ameaças. Moro, na Câmara, reconhece ‘algumas’ das mensagens divulgadas”.

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Texto editado em 5/7/2019, às 17h40 = inserção do posicionamento por parte da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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