Não sou DJ, mas trabalho com fone de ouvido – por Edson de Oliveira

“Do barulho dos colegas fiquei longe, da mesma forma que eles, imagino, do meu, depois que a vida me mandou trabalhar em casa”. Portal Comunique-se publica mais um artigo do revisor de textos Edson de Oliveira

Antes que o último fone de ouvido que peguei emprestado de minha mulher me deixe na mão, preciso comprar outro, de preferência, tão bom quanto um dos que havia no departamento de tradução e legendagem da empresa onde trabalhei mais tempo em minha carreira de revisor de texto, o qual era tão disputado pelos colegas que seu plugue adaptador era desparafusado e guardado, por quem, imagino, não queria ver o fone nas mãos, ou, melhor, nos ouvidos dos outros, como se ele fosse de ouro.

Do metal nobre mesmo só eram a cor e o brilho do adaptador.

Mas não eram este detalhe nem a maciez da espuma do fone que o faziam ser tão procurado, era o estado vergonhoso dos outros fones, uns com áudio baixo ou fios com mau contato, outros caindo aos pedaços, como eu podia ver toda vez que ia fazer controle de qualidade dos vídeos já legendados, anotando os inevitáveis erros de tradução, marcação e, os piores, de revisão, embora eu me incomodasse menos com o defeito dos equipamentos do que com o barulho que os colegas faziam quando, sem se darem conta de que iriam atrapalhar o trabalho dos tradutores, dos marcadores, dos revisores e, “last but not least”, do chefe, puxavam alguma conversa para relaxar um pouco, afinal, ninguém era de ferro.

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Do barulho dos colegas fiquei longe, da mesma forma que eles, imagino, do meu, depois que a vida me mandou trabalhar em casa, mas, do barulho de minha família, conversando ou assistindo à tevê com o volume alto, meus vizinhos, ligando suas furadeiras, e até dos carros que passam pela rua da casa onde moro, buzinando desenfreadamente, só na madrugada, a melhor parte do dia que encontro para revisar ou transcrever sem sofrer mais do que já sofro para, independentemente de problemas, cada um com os seus, como falta de eletricidade, dificuldade de conexão com a internet, quebra de equipamento, áudio ruim, ser mal pago etc., entregar o trabalho dentro do prazo esperado pelo cliente.

“Já sofro para, independentemente de problemas, cada um com os seus, como falta de eletricidade, dificuldade de conexão com a internet, quebra de equipamento, áudio ruim, ser mal pago” (Edson de Oliveira)

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Edson de Oliveira

Revisor há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio, textos jornalísticos e acadêmicos, é editor dos blogues “Café Elétrico” e “Blogue da Revisão”.

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