São Paulo – São Paulo 24/8/2020 – A solução em tempos de pandemia é ficar atualizado, mas mantendo o controle sobre a exposição a notícias ruins.
Pesquisas recentes revelam que a exposição repetida a notícias ruins, como em tempos de pandemia, pode levar ao aumento da ansiedade e das respostas ao estresse, o que pode acarretar comportamentos inadequados de proteção à saúde e busca por cuidados médicos.
Segundo o psiquiatra Cyro Masci, isso não quer dizer que a culpa é da imprensa, por provocar medo. “Notícia é notícia. Nenhum jornalista briga com fatos, é sua obrigação divulgá-los, sendo impensável uma imprensa que não seja livre num país democrático e pluralista. É apenas tomando ciência dos acontecimentos que podemos mudar nossas realidades. O problema é esquecer que o ser humano tem um cérebro com algumas peculiaridades”, afirma o médico.
Os humanos primitivos só sobreviveram à custa de muita antecipação de perigos. “Quem dormia no ponto corria sério risco de vida, já que o ambiente sempre foi cheio de riscos. Como resultado, o cérebro foi primorosamente adaptado para armazenar situações perigosas”, explica Cyro Masci.
Memória emocional
De acordo com o psiquiatra, a memória do ser humano é bastante influenciada pela interpretação das sensações físicas. “Se há desconforto diante de algo ou alguém, tal sensação é rapidamente armazenada como informação importante para a sobrevivência. E a partir daí a memória emocional será ativada em todas as situações iguais ou semelhantes”.
É exatamente o que acontece quando a pessoa toma contato com notícias ruins. “Imediatamente há desconforto físico, que rapidamente é interpretado como situação perigosa, e de modo totalmente desapercebido, armazenado em áreas do cérebro responsáveis pela sobrevivência biológica”.
Expectativa de vida
Esse ciclo vicioso de desconforto interpretado como perigo pode em grande parte ser rompido se a pessoa começa a pensar objetivamente nos fatos. A cada ano vive-se mais tempo que antigamente. Se o ser humano for deixado à própria sorte, dificilmente passaria dos 40 anos, que era a expectativa de vida nos idos de 1800. “Com a melhoria da nutrição, houve um salto para um pouco mais de 50 anos a partir de 1900, pulando para algo em torno de 60 anos com o advento dos antibióticos na década de 1940. Com as vacinas, mudanças nos hábitos de vida e melhor assistência médica, rapidamente os índices ultrapassaram a expectativa de se viver 70, 80 ou mais anos”, diz Cyro Masci.
É bem verdade que para boa parcela da mídia, notícia boa é notícia ruim. Parando novamente para pensar um pouco, esse fato é culpa dos próprios leitores. Afinal, qual leitor nunca se questionou se havia alguma coisa interessante na imprensa escrita, na TV ou na internet? Na ausência de catástrofes, segundo o psiquiatra, a resposta no geral é um muxoxo de que “não tem nada de bom”.
Novamente é um fenômeno do cérebro antigo. Os antepassados dos seres humanos adiantavam-se o tempo todo aos perigos, e essa característica foi herdada. O resultado é que quando não há problemas, a pessoa acaba criando um! E por via das dúvidas presta muita atenção a todo tipo de catástrofe, seja parando para ver um acidente na rua, seja para comentar com espanto uma calamidade, seja para absorver as notícias presentes na mídia.
“A solução em tempos de pandemia é manter-se atualizado, mas mantendo o controle sobre a exposição a notícias ruins. Uma leitura rápida nas manchetes, duas ou três vezes ao dia, pode ajudar na seleção do que é informação necessária daquilo que pode ser mera curiosidade mórbida. Manter-se informado requer seleção das áreas superiores do cérebro, e não deixar sob o comando e seleção das áreas de alarme e sobrevivência, o que só levará à inundação de catástrofes, com consequências bem ruins para a saúde”, aconselha Cyro Masci.
Fonte: Cyro Masci, médico psiquiatra em São Paulo, autor dos livros “Síndrome do Pânico: Psiquiatria com abordagem integrativa” e “Biostress: Novos caminhos para o Equilíbrio e a Saúde”.
Outras informações: https://bit.ly/34mE498
Website: https://www.masci.com.br