Nos últimos sete anos (2016-2022), o Brasil sofreu com sucessivos reajustes fiscais que visaram o equilíbrio das contas públicas, afetando diretamente os investimentos em ciência e tecnologia. Embora 2014 também tenha trazido resultados econômicos negativos e PIB muito abaixo do esperado, foi a partir de 2018 que se notou profundas reduções e contingenciamentos de recursos no campo da ciência.
A nova ministra da Ciência e Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, declarou que a ciência será prioridade no país e destacou a necessidade de investimentos em ciência básica para o desenvolvimento tecnológico do país. Ela apresentou suas prioridades, incluindo a recomposição do orçamento da área, a execução integral do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e o compromisso com a expansão e consolidação do Sistema Nacional de CT&I e com a priorização do retorno de programas de bolsas de estudo para pesquisa.
A diminuição dos recursos para a área de tecnologia
Os cortes recentes mais significativos na pasta do MCTI foram nas bolsas do CNPq e no FNDCT, devido à Medida Provisória 1.136/2022, que contingenciou esses recursos. De acordo com o indicador nacional de ciência tecnologia e inovação do MCTI (2021), houve queda no dispêndio público em C&T e em P&D desde 2015, tanto em valores brutos quanto em relação ao PIB.
O cenário de pandemia da COVID-19 contribuiu ainda mais para que medidas emergenciais congelassem investimentos em diversos setores da economia, mas também enfatizou a necessidade de investimentos em ciência e inovação e seu efeito direto no âmbito da saúde.
Em junho de 2022 uma pesquisa conduzida pelo Observatório do Conhecimento – plataforma criada em 2019 por associações e sindicatos dos professores das universidades públicas e que defende as pautas de educação e pesquisa em prol do desenvolvimento socioeconômico do país, identificou que o orçamento em pesquisa científica perdeu mais de 80 bilhões nos últimos 7 anos, e que representava em junho de 2022 apenas 38% do que era investido em 2014.
O cenário atual e a falta de profissionais especializados
A atual ministra, Luciana Santos, em reunião com o presidente Lula no último dia 13 (sexta-feira), conversou sobre o orçamento da pasta e sobre a contingência do FNDCT. Ela afirma que esses cortes impactam a geração de conhecimento e ciência no país e defende também o reajuste das bolsas de pesquisa tanto do CNPq (pertencente ao MCTI) quanto da Capes (pertencente ao Ministério da Educação).
Luciana pontuou a necessidade de formar mão de obra especializada em tecnologia da informação e comunicação (TIC). Ao citar o caso do Porto Digital do Recife, que possui mais de 2 mil vagas em aberto para atender demandas de prestação de serviço tecnológico, ela demonstrou a importância de formar profissionais para atuar no setor.
Reportagens recentes comentam a onda de demissões e reajustes financeiros e de negócios das principais empresas de tecnologia do mundo, as “Big Techs”, que são formadas pelas gigantes do mercado, tais como Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft e Meta. Essa informação pode causar a falsa sensação de que o mercado não precisa de mão de obra global em TI, mas, segundo relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a expectativa é que a demanda por esses profissionais salte de 70 mil vagas para 329 mil vagas até o ano de 2024 somente no Brasil.
Se por um lado a maior consultoria do mundo, Mckinsey, estima que a automação possa fazer com que 45 milhões de pessoas sejam realocadas ou percam seus cargos, por outro existem grandes possibilidades de tornar máquinas e pessoas colaboradores e não competidores dentro do cenário de revolução da Inteligência Artificial (IA), como afirma artigo recente publicado pela Stanford.
Desafios e objetivos para os próximos anos
André Moro Maieski, especialista em inovação e sócio da Macke Consultoria, afirma que os investimentos em ciência e tecnologia são fundamentais para o desenvolvimento econômico de uma nação. Ele destaca que, apesar de ocupar a 10ª posição no ranking mundial de investimentos em tecnologia, o Brasil investe apenas 1% do PIB em P&DI e ocupa apenas a 54ª posição no ranking mundial de inovação (IGI). Para crescer economicamente e competir com países mais desenvolvidos, é imprescindível aumentar os investimentos em ciências, pesquisa e formação de recursos humanos nas áreas estratégicas.
O especialista também cita o relatório da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI), no qual é visível que o setor privado é quem tem liderado o aumento dos investimentos em P&D no país. No entanto, ele afirma que é importante que o setor público volte rapidamente a priorizar esses investimentos. “Os projetos mais relevantes e atrativos para investidores são os que mais necessitam de profissionais altamente capacitados”, finaliza Maieski.
O desafio da nova ministra será o de, pelo menos, retomar os investimentos em ciência e tecnologia ao patamar prévio aos ajustes fiscais dos últimos anos. Para empresas privadas que querem começar ou continuar investindo em inovação, uma alternativa viável e que segue crescendo em número de inscritos são os mecanismos de fomento do governo, como a Lei do Bem (Lei 1.196/06), Lei de Informática (Lei nº 8.248/1991) e FINEP, que podem ser utilizados na formação de competências tecnológicas geradas a partir de recursos humanos alocados em projetos de inovação.
Maieski, que vivencia o setor há mais de 20 anos, vê como grande o potencial do país e afirma que a demanda por profissionais especializados na área de TI tende a aumentar ainda mais com o avanço tecnológico e força da Inteligência Artificial (IA). Ele reitera que investir em ciência base e qualificadora de mão de obra é essencial para o desenvolvimento socioeconômico e para que o Brasil passe de coadjuvante para protagonista no setor.
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