A ciência reconhece como melhor estratégia para manter a saúde, prevenindo doenças e aumentando a expectativa de vida, a vacinação. As vacinas estimulam a produção de anticorpos contra vírus e bactérias causadoras de algumas das doenças mais graves, sendo primordiais para evitar ou combater epidemias e pandemias, como foi o caso da COVID-19 no Brasil e no mundo. Ao mesmo tempo, o planeta tem observado na última década a queda da cobertura vacinal e retorno de doenças preveníveis, como é o caso do Sarampo no país. De acordo com o Ministério da Saúde, em balanço divulgado neste ano, desde 2019, são vinte vacinas disponíveis abaixo da meta no Brasil.
A vacina contra BCG caiu de 95,55 milhões de doses em 2016 para 78,78 em 2022, a Poliomielite de 84,43 milhões para 72,05 no mesmo período, e a Tríplice viral D1 (contra Sarampo, Caxumba e Rubéola) de 95,41 milhões para 76,69 milhões. A Sociedade Brasileira Imunizações (SBIm) destaca, entre as doenças infecciosas imunopreveníveis, a redução da vacinação contra o HPV, que pode resultar no aumento, a médio e longo prazo, do contingente de indivíduos desenvolvendo câncer de colo de útero, vagina, pênis e ânus. Em 2020, portanto durante a pandemia, a primeira dose dessa vacina foi aplicada em cerca de 70% das meninas de 9 a 15 anos, e em pouco mais de 40% dos meninos de 11 a 14 anos. Já para a segunda dose, os índices foram ainda mais baixos, de aproximadamente 40% e 30%, respectivamente.
Se por um lado a baixa cobertura vacinal preocupa, pelo outro a expectativa pela chegada de novas vacinas ao arsenal existente é grande, principalmente com relação a duas delas, contra dengue e uma reforçada, de alta dose, contra influenza. Para o Dr. Renato Kfouri, Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e Primeiro Secretário da Sociedade Brasileira de Imunizações, “o cenário de novas vacinas é uma constante com o avanço da ciência; a inclusão de novas vacinas em programas públicos não é automática em nenhum país. É preciso entender o impacto e o custo na introdução e distribuição”.
Com relação à dengue, de acordo com o Ministério da Saúde, houve aumento de mais de 53% nos casos em todo o Brasil de janeiro deste ano até agora, em comparação ao mesmo período em 2022. Com isso, o Dr. Kfouri expressa positividade em relação à chegada da vacina contra essa doença que afeta o país como um todo. “A vacina contra a dengue foi licenciada recentemente para o público entre 4 a 60 anos. Uma vacina que mostrou uma eficácia de 80-90% e muito provavelmente vai ser introduzida no PNI (Programa Nacional de Imunização), porque temos um impacto enorme quando observamos o tamanho do problema da dengue. A possibilidade de prevenção que temos agora com a vacina é um grande alento, já que o controle do vetor (o mosquito) é algo muito difícil de ser alcançado”, afirma. O doutor ainda complementa que os grupos prioritários e quantidade de doses ainda serão definidos, mas acredita que as pessoas com condições crônicas não transmissíveis (CCNTs), como condições cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma e diabetes mellitus não deverão ser priorizadas por não existir evidência no risco aumentado da dengue nessas populações.
Já para a vacina em alta dose contra a influenza (gripe), o Dr. Renato Kfouri aponta sua prioridade para pessoas acima de 60 anos, mas ressalta que ela ainda precisa ser avaliada para ser implementada em larga escala. “É uma vacina que tem uma performance um pouco maior em idosos, 24% a mais dos desfechos mais graves da doença. Ela precisa ser analisada, pois tem uma concentração maior de antígenos. Nós temos a produção da vacina no Brasil pelo Butantan e é uma prioridade nossa que a vacina do PNI passe de trivalente para quadrivalente”.
E nesse ponto, a discussão sobre as novas vacinas serem acessíveis a toda a população através do Sistema Único de Saúde (SUS) sofre alguns entraves. “Não há uma previsão de quando isso vai acontecer; temos várias prioridades dentro do PNI, incluindo a vacina da poliomielite injetável, a vacina contra a coqueluche acelular, o aumento da faixa etária da vacina contra a gripe para mais pessoas, a passagem da gripe trivalente para quadrivalente, a incorporação da vacina do herpes zoster. Temos muitas prioridades e essa avaliação sempre é feita dentro desse olhar como um todo”, ressalta o Dr. Renato Kfouri, que também afirma a possibilidade de “as vacinas serem recomendadas em grupos específicos nos atendimentos nos CRIE (Centro de Referências para Imunobiológicos Especiais). Claro que se não temos para todos, escolhemos aqueles mais vulneráveis”.
Por fim, o Dr. Renato Kfouri apresenta novidades na parte de vacinas para pessoas com CCNTs e que podem ser incorporadas a curto e médio prazo. “Há também vacinas novas para o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que é uma infecção viral que acomete muito as pessoas com condições crônicas, além da vacina contra Herpes Zoster”. O VSR causa doenças respiratórias, principalmente em bebês, enquanto a herpes zoster, conhecida também como cobreiro, é uma infecção na pele que acomete com mais facilidade pessoas com o sistema imunológico enfraquecido.
Para o Dr. Mark Barone, Coordenador Geral do FórumDCNTs, é fundamental informar tanto a população quanto os profissionais de saúde, e combater as fake news, para que as estratégias bem-sucedidas de imunização voltem a patamares seguros. O Dr. Barone menciona que o FórumDCNTs tem se dedicado a organizar encontros de especialistas e produzir materiais sobre o assunto, enfatizando o risco aumentado da baixa cobertura vacinal para pessoas com CCNTs e orientando sobre as vacinas extras indicadas para essas pessoas nos CRIE e em clínicas privadas.
Mais informações estão disponíveis em www.ForumDCNTs.org.
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