O que existe hoje é um autoritarismo de opinião, de versão, de posição. Se divergente do politicamente correto (que não é sempre correto porque foi sequestrado por alguns grupos desse autoritarismo do qual reclamo), é massacrado
Ainda sobre o discurso do presidente Temer, acerca do papel da mulher, sobre o qual ainda não havia me manifestado, eu não vi problema.
É uma visão. E ele valoriza o papel da mulher, como única até, no papel de guardiã da educação dos filhos e da economia da feira, do supermercado. Acho que, se tomarmos o conceito e o generalizarmos, exagera, meio que sob o clima de festividade do dia. Mas creio que, diante do quadro real de preconceito sobre a mulher, o exagero presidencial até busca provocar uma reação maior e mais rápida da sociedade nos guetos onde a desigualdade na oportunidade persiste.
E é aí que me atenho. No senso de oportunidade, repito a palavra, de usar o fato desgastado pelo politicamente correto para explicitar a hipocrisia do falso ativismo de algumas mulheres e de grupos em prol da mulher que o criticaram.
Qual é o drama da sociedade hoje que não passa pela educação dos filhos? Ter a proeminência nisso, convenhamos, é um enorme elogio, mesmo que eu não me ausente em expor e criticar a eventual omissão do pai no processo longo e extenuante da educação. Suponho que as mulheres rejeitem o heroísmo na lida de educar a família querendo muito mais que pais ausentes se façam presentes e dividam com ela, porque justo, a árdua tarefa. Até, compreensivelmente, se revoltem quando ficam sozinhas. Mas, diante da realidade, não ter seu trabalho reconhecido por algo tão importante é que seria ofensivo.
Vou ao segundo ponto, o da sapiência econômica da feira, do supermercado.
Onde é que ter controle financeiro da situação na hora de comprar comida, que deixa a família em pé, é valor menor? Que preconceito chinfrim é esse? Feminista que não sabe comprar batatas e acha isso uma virtude é mesmo um porre. Aprender não faz mal. Em algum momento você vai precisar comprar batatas, cozinhar, lavar, passar, ir ao supermercado. Vai que aquela mulher que você faz de empregada e realizadora de “trabalhos de causas menores”, precise faltar pra lavar, passar, cozinhar e ir ao supermercado pra família dela. Já pensou nisso?
Ao diminuir tarefas humanas e sociais de imensa magnitude como as que descrevi acima, as queimadoras de sutiã do século 21, envergonham as predecessoras que lutavam por igualdade e respeito na oportunidade, reivindicação por si só de justiça inegável.
O que é que ser a educadora inquestionável dos filhos e sabedora-mór da economia real da oferta e da procura impede a mulher de ter posições, salários e respeito em outros cargos e carreiras semelhantes ou superiores aos dos homens? A dupla jornada? Basta olhar pro gajo que dorme ao lado e fazer o moço se mexer. Eu me mexo desde que me entendo por gente e estou vivo e sei quanto custa o detergente que lavo a louça.
Ter acesso a outros cargos exige discussão verdadeira, não diminuição do valor de outras tarefas. A posição machista unilateral que impediu salários melhores às mulheres é tão estúpida quando o feminismo grosseiro e falastrão que o combate. Inteligência e ativismo consciente sempre estão nas melhores receitas de bom senso e ação eficaz.
Por fim, eu ainda afirmo que a generalização de supremacia das tarefas de cuidar dos filhos e das contas da casa para a mulher é um gracejo, não uma verdade absoluta. Mas tomando o elogio pelo valor de face, porque algumas o merecem, ser a guardiã dos filhos e da economia fazem das mulheres o esteio de um sociedade que se quer melhor, com pessoas mais educadas, e uma economia que se pretende mais justa e viva que, neste país, nos é urgente.
Há um movimento de falsos líderes masculinos e femininos – “todos e TODAS” – por reduzir a nenhuma importância coisas absolutamente necessárias em nossas vidas.
Valores e costumes, habilidades e talentos, têm sido preteridos, revelando, aí sim, um preconceito que beira à mais pura estupidez travestida de peça verborrágica por luta de direitos iguais. Não passam de pretensiosos, mas enganam muita gente.
E isso tem ofendido mulheres de verdade e homens de verdade que se ajudam, se permitem, se unem, se dão. É o mesmo raciocínio temerário que, sob o argumento de defender, pune gente do campo, estrangeiros, outros de outras culturas que fazem da diferença a essência de uma sociedade diversa.
O que existe hoje é um autoritarismo de opinião, de versão, de posição. Se divergente do politicamente correto (que não é sempre correto porque foi sequestrado por alguns grupos desse autoritarismo do qual reclamo), é massacrado.
E massacre é, no mínimo, ignorância. Mas pode ser também despotismo, violência, ditadura, fascismo, etc.
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Adalberto Piotto. Jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba com especialização em economia pela Fipe-USP. Apresentador do ‘Cenário Econômico’, programa fruto da parceria da TV Brasil com a BM&FBOVESPA. É diretor e produtor do filme-documentário “Orgulho de Ser Brasileiro” (2013), de sua autoria, que disseca o estilo de ser do brasileiro com todas as suas nuances e oscilações de sentimento enquanto cidadão. De 1999 a 2011, foi âncora da CBN em São Paulo, onde começou como repórter. Em 2014, de julho até o início de dezembro, foi âncora do ‘Jornal da Manhã’, noticiário transmitido pela Jovem Pan. É palestrante nas áreas de economia, realidade social brasileira e jornalismo.
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