Fã de J. R. Duran, cujo trabalho eu curtia nas revistas de moda, na “Irisfoto” e na “Playboy”, eu havia convidado meu amigo Gabriel Front para ir ao vernissage (assim mesmo) de “18 Photos”. Quando chegamos ao endereço onde o fotógrafo (nascido Josep Ruaix Duran, em Barcelona, em 1952) iria realizar a pré-estreia de seu álbum, muitos famosos e desconhecidos já esperavam sua vez de, sem cerimônia, falar com ele e lhe pedir um autógrafo, como fiz eu, que arranquei a página da qual mais gosto de “As Melhores Fotos/The Best Photos”, coletânea lançada em 1988, pela Sver & Boccato Editores, para ele assinar.
A festa estava boa, mas, com outra na mesma data, 5 de abril de 1991, precisávamos colocar o pé na estrada, ou, melhor, no ônibus, o que fizemos assim que tomamos uma cerveja em um estabelecimento perto da casa do lançamento do livro. Nunca me saiu da cabeça que foi por causa da bebida que, no ônibus, acabei cochilando mais do que deveria, pois, mal desembarcamos no terminal da Vila Mariana, notei que havia perdido a carteira. Sem dinheiro e sem documento, não me restou outra saída a não ser esquecer a festa eletrônica (leia-se electronic body music) perto da Editora Abril e tentar convencer o cobrador do coletivo que ia pela Paulista a nos deixar passar por baixo da catraca e o pessoal da Treibhaus, uma casa noturna gótica que existia na região dos Jardins, a noite lá, conforme Front lembra a seguir:
“Você economizou muitas palavras nesta aventura, pois aconteceram pelo menos três fatos memoráveis neste dia, a começar pela forma como adentramos na vernissagem. O espaço era uma casa de cuja localização não me recordo, mas sim da cara do recepcionista ao tentar localizar nossos nomes na lista. Nem preciso dizer que não havíamos sido convidados. Uma vez no recinto, o primeiro choque: o perfume daquelas pessoas não era normal e a beleza de algumas mulheres, também não. Na linha do se arrependimento matasse, vi uma garota que dava até falta de ar só de ficar perto.
Ela merecia uma foto, ali, naquele momento, mas, ao confabular com meu amigo FM, decidimos que as poucas fotos que poderíamos tirar com nossa Yashica deveriam ser reservadas ao dono da festa. No dia seguinte, imagine nossa surpresa ao ver estampada na capa do caderno de cultura da ‘Folha’ ninguém mais, ninguém menos do que Alexia Dechamps representando as beldades presentes na vernissagem, sim, exatamente a economia do click.
Para fecharmos a noite, fomos agraciados pelo senso de humor ímpar de Duran, que respondeu nosso questionamento sobre ele ser muito parecido com o ator Mickey Rourke: ‘É ele que se parece comigo!’. Dali, fomos pisando nas nuvens para um desses inferninhos góticos de Sampa com a sensação de dever cumprido”.
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