Todo final de algum ciclo da nossa vida somos acompanhados por reflexões em nossa mente. Os pensamentos navegam no nosso cérebro chacoalhando nossas ideias nos levando a refletir sobre o que fazemos e deixamos de fazer, o que será do futuro, o que mudamos e se tudo valeu a pena.
O que cada ciclo tem em comum durante seus últimos momentos é a capacidade de trazer sensações de nostalgia, ficamos assustados como tudo passou tão rápido e senti essa sensação quando terminei minha faculdade de jornalismo. Parece que o tempo na graduação voou em uma velocidade tão grande que nem tivemos tempo para perceber o quanto as experiências do mundo atual são rápidas.
Como assim? Já acabou? E agora? Parece que 2014, ano que eu ingressei no curso, começou esses dias e na realidade já faz três anos. Quando entrei na faculdade nem imaginava o clima tenso que estaria o Brasil e o mundo durante o período derradeiro do meu curso.
Foram quatro anos de convivência e aprendizado com alunos e professores, pessoas com diferentes gostos e histórias de vida que me ajudaram a expandir minha visão de mundo. É interessante ressaltar que cursei jornalismo em um dos períodos mais intensos do Brasil. Entre 2014 e 2017 vi meu país receber Copa do Mundo e Olimpíadas, acompanhei uma das eleições mais apertadas da história que causou esse ambiente polarizado, assisti a uma crise política e econômica que resultou na polêmica queda de uma presidente, além das ascensões de grupos fundamentalistas e conservadores que levaram a um aumento da intolerância.
Por um lado foi interessante estudar jornalismo em anos que marcaram a história do Brasil e do mundo, foi um privilégio observar os acontecimentos nos momentos em que pegava gosto pela comunicação e também aumentava meu senso crítico da sociedade e da mídia, porém isso custou sair da zona de conforto e observei o quanto os fatos podem ser transmitidos de uma forma desonesta e como a luta pelo poder financeiro ou político pode corromper a sociedade e a comunicação. O lado ruim de me formar em jornalismo durante um período de tensão no Brasil e no mundo foi o fato das incertezas da humanidade. Está virando algo banal ver cenas de guerras e atentados, ou de líderes políticos “brincando” de ameaças de guerra nuclear. No Brasil vou entrar para o mercado de trabalho em um momento de retrocessos sociais e incertezas na política em que não sabemos nem o cenário de amanhã e com uma sociedade que grita e bate panelas contra um único partido, mas fica calada quando há em jogo a retirada de direitos que envolvem os trabalhadores e que podem afetar a classe jornalística.
Caso eu consiga emprego na área vou ter que encarar um país polarizado, com debates de níveis baixíssimos e com consumidores de notícias querendo ler apenas àquilo que lhe convém, além disso, tenho ficar preparado para enfrentar um período em que os discursos emocionais podem ser mais atrativos do que um jornalismo com credibilidade.
Garanto que durante os meus quatro anos de estudos eu mais ganhei do que perdi e faria tudo novamente. Posso dizer perdi alguns momentos de lazer e diversão, não foi fácil ver amigos se divertindo enquanto eu ficava me dedicando aos estudos, mas isso valeu a pena e não fico nem um pouco arrependido, pelo contrário, toda escolha da vida tem dois lados e estudar o que gosta infelizmente ainda é um privilégio para poucos no Brasil. Todo sacrifício serviu para ganhar conhecimentos que me transformaram em uma pessoa muito melhor.
Ao longo dos quatro anos tive que ganhar a capacidade para enfrentar a timidez, algo que me deixava inseguro ao ingressar em um curso de comunicação, continuo tímido, mas muito menos do que quando eu entrei na faculdade, aos poucos fui perdendo a vergonha e comecei a me expressar mais durante as aulas, também acabei perdendo o medo de se posicionar em algum assunto que envolve comunicação, política e sociedade.
No curso perdi um pouco da esperança na sociedade, mas paciência, é o preço de sair da zona de conforto. Percebi o quanto a luta pelo poder político e econômico pode deixar os indivíduos insensíveis e manipuladores e o quanto isso é comum na de comunicação. Passei a enxergar o quanto os grupos sociais de classes baixas da pirâmide sofrem com a falta de voz na mídia e que as bombas das grandes crises e problemas sempre explodem para o lado dos mais fracos com muita gente da mídia incentivando que seja desse jeito.
O principal ganho com a faculdade foi o fato de ter saído da zona de conforto, isso não me deixou mais ou menos inteligente, mas sim distante do senso comum e das respostas prontas e fáceis para tudo. Graças a convivência com alunos e professores passei a dar mais valor nos assuntos que envolvem mídia, política e sociedade, não que antes eu não era interessado, mas a relação com as pessoas do curso me proporcionou a oportunidade de aprender e conhecer mais sobre esses temas que em outros círculos sociais da vida eu não tive a chance ter conversas mais aprofundadas. Sai com a certeza de que ainda é possível debates legais mais fundamentados e menos fundamentalistas, mesmo em um mundo polarizado, cheio de bolhas sociais e algoritmos digitais em que as pessoas querem abraçar totalmente um lado comprando todas as ideias sem questioná-las.
Nos estudos de jornalismo comecei a entender mais os motivos de algo funcionar de determinada maneira, mesmo que isso não signifique se conformar com certos absurdos do mundo. Aprendi a lidar com pessoas que tem gostos, ideias ou estilos de vida diferentes do meu. Antes eu convivia com pessoas diferentes, mas agora perdi o costume de querer julgar tudo a todo o momento, entendi que tudo tem um motivo para alguém ser de determinada maneira, só não acho aceitável a discriminação.
Tenho a certeza que adquiri a capacidade de ser um profissional com muito mais calma para encarar determinadas situações, pois os prazos, trabalhos e desafios da faculdade me deixaram uma pessoa muito mais madura, principalmente por entender a importância de um bom diálogo nas atividades em grupo e de uma equipe entrosada com bom relacionamento.
Antes de começar a faculdade eu me via um jornalista que fosse apenas trabalhar com veículos impressos, mas hoje entendo que devo estar disponível para atuar nos mais diversos tipos e plataformas de mídia, acredito que o jornalista do futuro tenha que saber trabalhar com a multimidialidade e nem sempre será possível escolher onde quer atuar, por isso quero estar disposto a aprender sobre os mais diversos formatos jornalísticos, sempre ficando atualizado.
Não acredito que um único jornalista possa mudar o mundo radicalmente, mas sim que os profissionais da área podem se unir para transformar seu campo de atuação e seu nicho de trabalho. Se os grupos de jornalistas tentarem transformações dentro de seu círculo profissional, com certeza as atitudes para melhorar a sociedade serão expandidas para outros setores pelo fato da comunicação ter o poder de influenciar pessoas.
Acredito que como jornalista posso ser um meio para mostrar os problemas da sociedade para alguém tentar resolver, apurar os fatos e mudanças para levar informação com credibilidade, sei que terei o papel de responsabilidade social ao ajudar prestar serviços para população, exibir problemas do cotidiano, dar voz para população e fazer os indivíduos terem uma visão mais crítica, enfim, esse pode ser nosso legado para o mundo. Caso eu trabalhe na área imagino ter novos conhecimentos a cada dia.
Com o fim da faculdade encerro mais um ciclo da minha vida. Não sei o que vai acontecer na minha carreira. Pode ser que eu alcance o sucesso pode ser que não. Tudo vai depender de vários fatores, alguns relacionados a mim e outros nem tanto. O futuro causa incertezas e a incerteza causa medo.
Como falei em ciclos, quero encerrar o texto com um trecho da música “Aquarela”, do Toquinho, pelo fato do som dessa obra lembrar parte dos primeiros ciclos educacionais da minha vida quando conheci essa música, e o trecho falando sobre futuro pode ser utilizado para todo final de ciclo que envolve questões educacionais. Quero utilizar aquilo que escutei na infância no início da vida escolar para esse momento de amadurecimento que foi a formação no ensino superior.
“E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
Depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar”
*Lucas Dorta. Jornalista formado pelas Faculdades Integradas de Jaú (FIJ).
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