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O impacto do fotojornalismo

Luis Henrique Franco (**)
Começou, na quarta-feira, 23, a 10ª Semana de Fotojornalismo que, em seu primeiro dia, contou com a presença do professor da USP, Wagner de Souza e Silva, do repórter e fotógrafo do Estadão, Armando Fávaro, do fotógrafo da National Geographic, João Marcos Rosa e do professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rodrigo Rossoni. A mesa debateu sobre o ”Impacto do fotojornalismo”.
Para tratarem do tema, os palestrantes trouxeram exemplos de trabalhos realizados por eles, nos quais as imagens carregavam todo o significado da produção. Identificaram seus sentimentos e objetivos ao realizarem seus trabalhos. João Marcos iniciou a apresentação com alguns de seus trabalhos pela National Geographic, contando sobre seu amor pela fotografia e sua busca por narrar histórias por meio de imagens. Também destacou a importância de o fotógrafo propor histórias ao editor, e não ficar esperando que ele enviasse uma história.
Entre seus trabalhos, Marcos deu bastante destaque ao projeto Harpia, sua primeira grande matéria, que depois se tornou livro de fotografias sobre a maior ave de rapina das Américas, que até então poucas pessoas conheciam, segundo ele. “Toda a questão de construção da narrativa se colocou diante de mim pela primeira vez, que era a de entender como eu contaria aquela história com imagens”, afirmou. “Eu não poderia ter somente fotos bonitas do bicho, fotos da paisagem… eu tinha que incluir dentro dessa história o trabalho dos pesquisadores”. João defendeu a necessidade de a foto não ser apenas bonita, mas fazer sentido dentro da narrativa que se pretende construir.
Armando Fávaro dedicou sua fala aos seus projetos pelo Estadão e ao dia-a-dia de um fotógrafo, as condições que este tem que se submeter para conseguir efetuar boa cobertura e as sortes que podem atingir o profissional. Como exemplo, contou o caso em que um garoto o levou até o local onde estava Pelé por 10 reais e que, por ter conversado com ídolo por todo o caminho até a Vila Belmiro, conseguiu entrar no vestiário do time.
“Fui conversando com o Pelé até a Vila Belmiro, e os seguranças acharam que eu era chapa dele e deixaram eu entrar no estádio”, afirmou. Entre outras de suas coberturas, estavam viagens para a Amazônia, pelas quais ele sempre brigava, os trabalhos na fronteira Brasil/Venezuela/Colômbia e viagem ao Irã durante a crise do urânio. Armando também ressaltou a importância de se manter atento a tudo o que acontece ao seu redor, pois as fotos se revelarão a você: “as coisas acontecem na sua frente e você tem que estar atento ao que acontece”. No caso do palestrante, a foto de dois meninos jogando bola na Marginal ganhou a primeira capa do jornal.
Rodrigo Rossoni compôs a mesa no lugar de Monica Zarattini, que não pôde comparecer ao evento. O fotógrafo abordou, em sua apresentação, a maneira como a narrativa de uma foto muitas vezes é mais complexa e profunda do que a narrativa escrita. Seu primeiro trabalho era sobre a exploração do trabalho infantil no Espírito Santo, e as fotos tiradas, segundo ele, contavam melhor a situação dessas crianças do que qualquer texto, pois mostravam suas feridas, seu sofrimento, suas marcas físicas, seus olhares, seu futuro comprometido.
Rossoni destacou também, através de fotos das crianças de acampamento do MST, a importância de um trabalho para a mudança de um ponto de vista já estabelecido. “Os fotógrafos e documentaristas também produzem imagem estereotipada do movimento social”, afirmou ao tratar do movimento dos sem-terra, onde contou também sua experiência em deixar que as próprias crianças do MST tiraram fotos de sua vida no acampamento, mostrando visão íntima do que era importante para ela e desconstruindo a imagem já existente do movimento.
Também foi debatido o futuro do fotojornalismo em um mundo com muitos novos canais e meios de captura e propagação de imagens, e se o fotojornalismo deveria dar mais atenção a fotografia mais despretensiosa e que também fornece leitura prévia do que pode ser contado, sem tantos preconceitos e estereótipos como nas imagens mais profissionais.
“Quando, hoje, você vê um cara fotografando algo totalmente fora daquele contexto, ele pode ser facilmente rebatido”, defendeu João Marcos Rosa, alegando que imagens mais íntimas poderiam impedir esses enganos e histórias fantasiosas. Todos os palestrantes também defenderam que é mais importante para o fotojornalista ter boa visão do mundo ao seu redor do que bom equipamento. Armando Fávaro disse que boa câmera e equipamento profissional são importantes, mas que é muito mais interessante que se tenha “Atenção, ação e emoção” ditos por ele como os três pilares do fotojornalismo, junto com a criatividade.
Esses foram os acontecimentos do primeiro dia da Semana, que possuirá atividades durante todos os dias entre 21 e 25 de novembro. No dia de hoje, uma nova palestra acontecerá às 19 horas na Casa de Cultura Japonesa, sob a mediação da professora Simonetta Persichetti, da Cásper Líbero, e com a presença de palestrantes vindos do Coletivo Garapa e da Mídia Ninja, para discutirem a respeito das novas tecnologias empregadas no fotojornalismo.
(*) Estudante de jornalismo da USP e integrante do projeto Correspondente Universitário do Portal Comunique-se.
(**) Conteúdo publicado originalmente no site Jornalismo Junior.

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