O país das notícias velhas – por Carlos Brickmann

As questões envolvendo notícias velhas na política brasileiras pautam novo artigo assinado pelo jornalista Carlos Brickmann

Lula informa em entrevista que aceita ser presidente do PT. Quando, desde que Lula é Lula, ele deixou de ser, de direito ou de fato, o presidente do PT? Quem é que manda no PT: Mercadante, Falcão, Mantega, Dilma?

Alckmin informa que gostaria de ser candidato à Presidência em 2018. E quem é que não sabia disso há anos? Ele quer, o Aécio quer, o Serra quer – até agora, quem não os quis foram apenas os eleitores.

O prefeito João Dória, com alto nível de aprovação, garantiu que não é candidato à Presidência, e que apoia Alckmin. E que é que queriam que ele dissesse? Se admitisse ser candidato, o governador Alckmin passaria a tratá-lo como adversário. Os demais candidatos mobilizariam suas tropas de choque para desgastá-lo. Os seguidores de Aécio, Alckmin e Serra no PSDB lutariam para inviabilizá-lo no partido. Dória conhece a importância da máquina de Alckmin para lançá-lo e elegê-lo. Ele pode ser candidato se Alckmin desistir; se o PSDB se convencer de que, com Aécio ou com Serra, vai perder de novo; e que, com Dória, pode ganhar.

A defesa do presidente tenta anular o processo contra a chapa Dilma-Temer, alegando que foi alimentado por vazamentos irregulares e é, portanto, ilegal. Pode ser; mas quem é que não sabe que boa parte das doações ia mesmo para o caixa 2? De novo, só os detalhes. Mas sempre se soube que nossos líderes são os melhores que o dinheiro pode comprar.

Fernando Henrique explica

O financiamento de campanhas nunca deixou de ter aspectos ocultos (embora menos escandalosos do que agora, em que até governos estrangeiros foram pixulecados para favorecer empresas brasileiras). Mas todos conheciam o caminho das pedras. Agora Fernando Henrique recebe espaço nos noticiosos para contar aquilo que, se os cisnes do Palácio da Alvorada falassem, grasnariam para qualquer maluco que conversasse com eles. O fato é o seguinte: nos meios políticos, arrecadar dinheiro irregular para a campanha é um fato da vida, um deslize menor. Mas pegar parte do dinheiro para enriquecer é corrupção, um crime. O político honesto é o que usa na campanha tudo aquilo que arrecada, sem apropriar-se de nada.

Fernando Henrique está certo, mas diz o óbvio. Quem não sabia disso?

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Carlos Brickmann. Jornalista. Editor do site Chumbo Gordo. Texto reproduzido em diversos jornais brasileiros.

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