O patético editorial do Estadão defendendo Temer

O jornal dos Mesquita toma partido da situação nacional elencando uma pesquisa mambembe da FGV que não leva em consideração a crise estrutural provocada pelo PMDB

A família Mesquita escreveu um editorial inacreditável em seu jornal, O Estado de S. Paulo, publicado neste dia 31 de outubro, Dia das Bruxas. Sob o título “O custo da governança”, a centenária publicação resolve que é uma boa defender o governo Michel Temer.

“A oposição ao governo de Michel Temer costuma acusar o presidente de ‘comprar’ o apoio de partidos e parlamentares com verbas e cargos, já que, com baixa popularidade, não conseguiria governar de outra forma. Teria sido assim, segundo essa acusação, que Temer obteve os votos necessários na Câmara para escapar das denúncias de corrupção. Tal versão procura caracterizar o governo de Temer como essencialmente dependente do fisiologismo do Congresso – dependência que, conforme dizem os opositores, faz o presidente gastar mais com deputados corruptos do que com as necessidades do País”, diz o jornal.

E o Estadão emenda: “O custo da governança de Temer – isto é, o quanto o presidente precisa gastar, em verbas e cargos, para obter os votos necessários para aprovar os projetos de interesse do Executivo ou impedir ações da oposição – foi até aqui muito mais baixo do que o de Lula e de Dilma Rousseff. Foi a conclusão a que chegou o cientista político Carlos Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas, que ajudou a desenvolver um método para mensurar a eficiência do governo na sua relação com o Congresso. Carlos Pereira expôs os resultados de seu estudo em artigo na Folha de S.Paulo”.

E o jornal centenário cita um estudo mambembe da FGV, que calcula uma média composta pela quantidade de Ministérios disponíveis, pelos recursos que o governo aloca entre os Ministérios que acomodam integrantes da coalizão e pelo valor das emendas dos parlamentares ao Orçamento que o presidente libera.

De acordo com o Estado, o resultado é um Índice de Custos de Governo (ICG), de zero a 100 pontos. O governo de Michel Temer, até aqui, teve média de 15,4 pontos, o nível mais baixo da série histórica proposta por Carlos Pereira. Com Dilma Rousseff, o ICG médio foi de 58 pontos no segundo mandato e de 88,1 pontos no primeiro. Já Lula – aquele que se queixa de que Temer gasta mais com deputados do que com educação – chegou a 90,6 pontos no primeiro mandato e a 95,2 pontos no segundo.

O editorial conclui então que Temer é “mais eficiente” do que Dilma e Lula.

As patéticas contradições dentro do próprio jornal

(Imagem: Fotos Públicas)

A família Mesquita deveria consultar seus próprios repórteres. No dia 25 de outubro, Felipe Frazão publicou no Estadão que Temer aprovou R$ 32,1 bilhões em emendas para barrar as denúncias no Congresso. O dinheiro teria agradado os deputados e evitado revoltas que desestruturariam o governo depois das delações premiadas de Joesley Batista e Lúcio Funaro.

O mesmo Estadão publicou no dia 26 de março de 2017 que Temer liberou mais verbas de emendas à base aliada do que Dilma Rousseff. A reportagem de Isadora Peron aponta que o presidente do PMDB liberou R$ 5,8 bilhões em verbas para deputados e senadores em 2016. O valor é R$ 2 bi maior do que Dilma em 2015, que liberou R$ 3,4 bilhões.

A desconsideração com as delações premiadas

Embora Lula esteja com diversas acusações na Operação Lava Jato, sobretudo após a delação da Odebrecht, Temer foi delatado por Joesley e Funaro, enquanto Dilma não foi atingida por nenhuma delação conectada diretamente por valores. O mais próximo de atingir a petista refere-se ao depoimento do casal Mônica Moura e João Santana.

O centenário jornal do estado de São Paulo deveria fazer um balanço antes de defender efusivamente o governo. Mas sabemos que o aquário não gosta de conversar com a reportagem se isso envolve pagar suas contas com dinheiro público, não é?

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Texto publicado originalmente no site TopBuzz.

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Pedro Zambarda

Jornalista e escritor. Teve experiência na Editora Abril (Exame.com) e Globo.com (TechTudo). Atualmente, é editor dos projetos DigiClub, Drops de Jogos e Geração Gamer, além de ser repórter do site Diário do Centro do Mundo (DCM), onde também apresenta vídeos e entrevistas no canal no YouTube.

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