O poder da ciberdemocracia – por Wellington Johann

Vou começar este artigo citando dois casos mais recentes como exemplos: o passageiro arrastado em voo da United Airlines e a expulsão do médico Marcos Harter do Big Brother Brasil deste ano. A ideia não é julgar o certo e o errado e sim a importância do digital nos desdobramentos dos fatos.

Ambos os casos servem para mostrar algo que muitos ainda teimam em aceitar. Que não há separação entre digital e o “mundo real”. A internet é a nossa vida e também reflexo da sociedade. Querer separar um do outro é inaceitável e impossível.

O filósofo francês Pierre Lévy e o doutor em sociologia André Lemos citam no livro o Futuro da Internet as significativas mudanças sentidas nas manifestações sociais na rede, transformando as formas de interação e manifestação de opiniões. Ou seja, as pessoas encontraram na internet um lugar para expressar e dar força para as suas opiniões. E com a multiplicação de redes sociais, a vontade coletiva ganhou ainda mais força.

Porém acredito que há uma necessidade de compreensão de todos de que as redes sociais não são um ser com vontade própria. Afirmar que Marcos saiu do Big Brother por causa da pressão nas redes sociais ou que as pessoas na internet não perdoaram a resposta do CEO da United Airlines para o caso do passageiro arrastado para fora do voo está correto. Mas ainda mais adequado é dizermos que as pessoas conseguiram essas mudanças. Elas são as responsáveis por mudar uma determinada situação ou posição.

A força do digital é clara. Se no passado a sociedade discutia localmente ou demorava para impulsionar determinadas mudanças, hoje a internet permite que qualquer mudança seja possível em tempo real. É o imediatismo que surge com a ciberdemocracia. Sim, a internet existe para ser democrática. Não, assim como no olho no olho, as pessoas ainda engatinham para compreender o significado de democracia.

A ciberdemocracia e estes dois casos mais recentes provam a importância da revitalização da relações democráticas. A internet tem a emergência e a participação direta do cidadão como características fundamentais. Se quisermos reclamar de algo ou manifestar uma crítica, basta acessar as redes sociais e compartilhar com milhares de pessoas. Pode ter certeza que muito rapidamente teremos o apoio de centenas de pessoas. Se a insatisfação for com algum órgão público, político ou instituição privada, ainda há o poder da comunicação digital direta. Acredite, o retorno será tão rápido quanto tentar formalizar a reclamação pessoalmente. Eis o poder da urgência digital.

Como nenhuma moeda possui apenas um lado, a maioria da população ainda engatinha quando falamos sobre o impacto da onipresença digital para a vida pessoal e profissional. Assim como a imagem do CEO da United e do ex-BBB ficará arranhada com os casos recentes, todos os dias milhares de pessoas esquecem que as redes sociais são um reflexo para as suas vidas pessoais e profissionais. Emitir opiniões e compartilhar o que bem entender traz algumas consequências inevitáveis. A opinião de um empreendedor passa a ser também a opinião do seu negócio. A presença de uma pessoa na internet também será avaliada por amigos, empregadores, recrutadores e disponível para a opinião pública. Eis o poder do digital.

No Brasil ainda caminhamos para a compreensão  do que é democracia e que vivemos em sociedade. Logo, existem regras que devem ser respeitadas na internet, ruas, trabalho, convívios pessoal e familiar. Para que não ocorra erro de compreensão é necessário assimilar que a internet é hoje o principal meio de comunicação. Amplo, democrático e instantâneo. Mas com as mesmas regras e código de ética que empregamos no convívio diário.

* Wellington Johann. Jornalista da Talk Comunicação e especialista em marketing na internet pela Universidade de Aveiro, Portugal.

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