Se somadas, as carreiras de Clóvis Rossi e Elvira Lobato no jornalismo têm mais de 90 anos. Os dois profissionais acumulam vasta experiência como repórteres, além de muitos prêmios que reconhecem a trajetória. É por toda a história que eles foram convidados para o 12° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. Durante o encontro com estudantes de comunicação, os jornalistas falaram sobre os conselhos que gostariam de ter recebido quando eram focas. O bato-papo em tom informal foi mediado pelo também jornalista Rosental Calmon Alves, do Centro Knight para Jornalismo nas Américas.
“Seja humilde e reconheça que você não sabe de tudo”, Elvira Lobato
Durante a conversa, Elvira compartilhou particularidades da sua relação com a profissão, como o medo. “Por muitos anos, toda vez que tinha uma matéria muito importante para sair no jornal, eu era tomada por um medo muito grande de errar, de não estar correta. O jornalismo requer muita responsabilidade para não acabar com a vida de alguém e eu sempre carreguei esse pensamento”. A jornalista conta que quando as suas grandes reportagens eram veiculadas, ela não lia o jornal. “Não sei explicar, é algo muito curioso. Eu só lia o jornal dois dias depois. Esse negócio de ter algo publicado, definitivo, me deixava muito nervosa”.
Elvira ainda falou sobre a fragilidade da profissão. “O jornalista não pode nunca achar que sabe de tudo, pois ele se perde. Quando você acha que sabe de tudo, o tombo é grande. É uma área que você não pode confiar em si mesmo”. Elvira reforça que a humildade faz um bom jornalista e que não se pode ter medo de perguntar o que não se sabe. Sobre os conselhos que gostaria de ter recebido, a repórter revela que muitas coisas são aprendidas apenas no dia a dia, mas algo muito importante que poderia ser dito a ela quando era foca tem relação com a curiosidade. “A pessoa que não tem curiosidade não pode ser repórter. Não dá para se conformar com o que você sabe. E ninguém nunca me falou isso”.
“Há vida além da redação”, Clóvis Rossi
Existe vida além da redação. Era isso que Clóvis Rossi gostaria de ter escutado há mais de 50 anos quando iniciava sua carreira na profissão. O jornalista revela que foi um jovem profissional que recentemente o fez pensar neste ponto. “Ele me disse: ‘Há vida além da redação, Clóvis’. No começo, pensei que ele estava me ofendendo, mas depois vi que era verdade”. O repórter conta que sempre viu o jornalismo como algo muito importante, maior que uma questão de vida ou morte. “Almoçava, jantava, dormia e acordava jornalismo. Ao longo da minha vida, li menos livros do que deveria, vi menos filmes, fiz menos carinho, cuidei menos dos meus filhos. Para mim, não existia o ‘fora da redação’. Eu só fazia coisas que me ajudavam nas reportagens”.
Rossi revelou que anos depois se deu conta que deveria “desintoxicar” da notícia e assim o fez. “A primeira viagem internacional que fiz com meus filhos aconteceu muito tarde e somente foi realizada porque estava indo a trabalho”, conta aos risos. “Agora, com meus netos em idades mais jovens que os meus filhos na época, viajei e fui para me divertir, fui por lazer. É muito diferente”.
Rossi e Elvira continuam na profissão, mas certamente de maneira bem diferente da época de foca. Repórter especial e colunista da Folha, Rossi trabalhou em outros diversos veículos, cobriu o golpe militar no Chile, a queda do Muro de Berlim e a Guerra do Golfo. No Brasil, participou da cobertura do golpe de 1964, da campanha das Diretas Já, da eleição e morte de Tancredo Neves e de todas as sucessões presidenciais desde então. Além disso, Clóvis é Mestre do Jornalismo no Prêmio Comunique-se na categoria Nacional Mídia Escrita. Elvira trabalhou por 27 anos na Folha e também passou por outras marcas, como Jornal do Brasil. É especializada em economia, tecnologia e telecomunicações, vencedora do Prêmio Esso 2008 pela reportagem Universal chega aos 30 anos com império empresarial, e o Prêmio Comunique-se 2009 e 2011 na categoria Repórter Mídia Escrita.
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