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O que esperar dos meios de comunicação em 2017?

2016 durará mais que um ano. Suas cicatrizes se revelarão em cada movimento de 2017, cuja chegada gera uma expectativa que se expande como ar. Essa sensação, tão típica de 31 de dezembro, já contagiou todos os outros dias. A vida poderia ser medida em cisões por minuto. E a comunicação tem muito a ver com isso.

Poucos setores mudam tão incessantemente quanto o de mídia. Tal dinamismo seria até natural num mercado sustentado pela venda de segundos, centímetros e pixels. Entretanto, com o perdão do trocadilho, parece que os veículos trafegam por uma pista que muda de traçado a todo instante. Antes, atingir simultaneamente uma grande massa de público era caminho seguro que levava para grandes faturamentos. Hoje, nem tanto. Primeiro porque, em se tratando de audiência, termos como “grande” ou “pequeno” são cada vez mais relativos diante da profusão de nichos. Segundo porque o consumidor mudou e, mesmo inserido numa comunidade maior, ele deseja sentir que seu gosto e sua rotina são respeitados.

O on demand é o coração da revolução digital que rompeu o modelo de negócio da mídia tradicional. Cada um a seu modo e a seu tempo se enxerga na tela das smart TVs e dos smartphones. Não que eles sejam as tais “caixas de pandora” definitivas que alguns chegaram a pensar que fossem os computadores desktop. Continuarão existindo diferentes devices para diferentes circunstâncias. Contudo, não se pode ignorar a força de atração de conteúdos e pessoas que esses aparelhos têm. Ao entregarem tudo quando, onde e como os consumidores querem, eles obrigam as empresas de comunicação a mudarem tão rapidamente quanto você digita uma mensagem no WhatsApp. Este será o ritmo de 2017.

Todas essas mudanças geram conflitos. Alguns deles serão aprofundados neste ano que começa. Um dos mais fortes é aquele travado entre as redes sociais, notadamente o Facebook, e os veículos tradicionais. A mudança no algoritmo do feed de notícias ‒ onde informações falsas mereceram altos níveis de engajamento ‒,  a queda na relevância das fan pages ‒ como que forçando seus administradores, incluindo os veículos, a pagarem para encorpar seus números ‒, além da falta de transparência da empresa com relação a suas práticas e métricas, compõem um cenário explosivo. Além disso, a priorização dos vídeos tem forçado mídias como rádio, jornal e revista a investirem num tipo de produção que não lhes é familiar, criando um custo cujo retorno ainda é incerto. Caso o Facebook não responda bem a essa pressão que ele próprio tem criado, pode deteriorar ainda mais a sua relação com as empresas de conteúdo, provocando impactos a médio e longo prazo na forma como as pessoas se informam e se divertem pelas redes sociais.

Outro conflito se dá entre os usuários e as prestadoras de serviço de banda larga, insumo maior para tudo o que discutimos neste texto. São necessários novos e maiores investimentos em infraestrutura, a fim de que as operadoras consigam atender plenamente aos milhões de clientes que elas próprias atraíram ao longo dos últimos anos e permitam ao Brasil se desenvolver melhor em tecnologias como a realidade aumentada, a realidade virtual e a internet das coisas. Estas tecnologias poderão ser o embrião da renovação do negócio de mídia.

A crise política e econômica do país agrava todas essas tensões e a situação de empresas que há muito tempo balançavam, mas não caíam. Mais do que nunca antes, 2017 exigirá de todos os profissionais de comunicação a capacidade de serem empreendedores de si mesmos, encarando seus empregos, seus freelas e suas relações on e offline como as peças de um quebra-cabeça que, quando montado, revela a imagem que o mercado tem deles. Quanto mais bonita for esta imagem, melhor será a porta profissional que se abrirá, dentro ou fora de um grande veículo de comunicação.

Conforme escrevi num artigo para o jornal O Globo, “2017 tem tudo para ser o ano da comunicação”. Nunca a humanidade se informou tanto e isto prosseguirá. Mais do que delinearem nossas rotinas, as notícias ajudam a construir nossas crenças e definir quem somos. Devemos lutar para transformar tanta oportunidade e tanto valor em armas na luta contra os desafios que se apresentam, a fim de que todas as pessoas possam continuar se beneficiando do trabalho daqueles que são especialistas em levar o mundo até elas.

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Fernando Morgado. Professor da FACHA e professor convidado de instituições como Universidad Autónoma Metropolitana do México, ESPM e PUC-Rio. Consultor da Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (FENAERT). Autor do livro biográfico Blota Jr.: a elegância no ar (Matrix, 2015). Tem outros cinco livros como autor, coautor e colaborador. Palestrante, já falou para empresas e entidades como SBT, ABERT e Grupo de Mídia. Mestrando em Gestão da Economia Criativa, pós-graduado em Gestão Empresarial e Marketing e graduado em Design com Habilitação em Comunicação Visual e Ênfase em Marketing pela ESPM.

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