Publicitária, jornalista e radialista, Mara Régia Di Perna é a voz de centenas de mulheres do país. No comando do ‘Viva Maria’, programa da Rádio Nacional da Amazônia que tem mais de 35 anos no ar, e do ‘Natureza Viva’, prestes a completar 25 anos, ela redescobre o Brasil profundo por meio das cartas que recebe de vários ouvintes. Com foco nas questões de gênero, cidadania e meio ambiente, ela leva informação às mulheres da Amazônia, com dados sobre saúde, direitos reprodutivos e combate à violência doméstica.
“ O ‘Viva Maria’ representa esse compromisso com as mulheres”, destaca a jornalista em entrevista ao programa ‘Conversa com Roseann Kennedy’, exibido na noite de segunda-feira, 13, pela TV Brasil.
Para Mara, muitas delas estão imersas na dor e no silêncio e precisam ter uma alavanca, alguém que esteja dizendo todo dia: “Olha, você não tem que sofrer calada. Bater, xingar, rasgar documento, tudo isso é violência e você não tem que aceitar isso”.
O seu inconformismo em relação à violência vem desde os tempos de criança. “Infelizmente, eu tive um pai agressor por causa da doença do alcoolismo. Por isso, passei minha infância chorando a dor de ver a minha mãe apanhar em casa. Isso me marcou muito, eu tinha uns 8 anos de idade, quando diante de mais uma das surras, eu, meu irmão e minha mãe tivemos que sair com pijama, às três horas da manhã, para a rua porque ele não queria nossa presença em casa. Foi muita dor, muito sofrimento. Aí eu fechei os olhos e falei: ‘eu quero crescer para fazer alguma coisa para que as mulheres nunca mais tenham que apanhar””.
Ao comentar algumas reportagens sobre violência sexual no país, Mara faz uma revelação dolorosa de um outro episódio vivido por ela. “Estupro é um capítulo da violência contra a mulher que, para mim, é muito caro, porque eu também já fui vítima dessa violência”. E lamenta que, ainda hoje, muitas mulheres vítimas do estupro sejam colocadas no banco dos réus.
Feminista, mãe e avó, Mara Régia é uma das vozes mais ouvidas e queridas dos povos da floresta. É intensa na luta pelos direitos humanos e está na lista das mil mulheres do mundo indicadas ao Prêmio Nobel da Paz em 2005.
Há quase 30 anos ela faz programas de capacitação no rádio usando a sua experiência em comunicação comunitária para realizar oficinas com as mulheres amazônicas.
Mara conta que sente orgulho de sua luta e das parcerias que fez ao longo da vida. “Quando você tem esse presente da vida de encontrar uma Maria da Penha e, junto com ela, lutar para fazer uma lei de enfrentamento à violência doméstica, você justifica a sua existência. Porque a mulher é matriz. É na mulher onde os ciclos da vida se fazem de uma maneira mais contundente e se refletem na humanidade”.
Não há assunto complicado para Mara Régia que passa informações de forma aberta e simples pelas ondas do rádio. Para isso, ela conta causos, inventa radionovelas, dramatiza e brinca com a própria voz, que atravessa igarapés, curvas de rios, matas e cachoeiras até chegar às comunidades mais distantes.
Mara define o rádio como o ar que ela respira. Por meio dele, ela cultiva uma relação profunda de respeito com a natureza, com os rios e os povos da floresta, dando visibilidade ao Brasil pouco conhecido, das parteiras, ribeirinhas e mulheres anônimas.
O programa ‘Conversa com Roseann Kennedy’ vai ao ar às segundas-feiras na TV Brasil, às 21h30.
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