Dez de janeiro de 2017. Chicago. Primeiro ato. “É bom estar em casa. Hoje é minha vez de dizer obrigado. Todos os dias, aprendi com vocês, que fizeram de mim um presidente melhor e um homem melhor”. Com estas palavras, Barack Obama deu início ao último discurso oficial como governante dos Estados Unidos, saudando o público de mais de 20 mil pessoas que lotou o McCormick Place, mesmo local de onde, em 2008, fez o pronunciamento da vitória.
No discurso de quase uma hora, Obama fez uma avaliação dos oito anos à frente da Casa Branca. Falou às pessoas e aos meios de comunicação norte-americanos e mundial. Houve aqueles que adoraram e também quem criticou o teor emotivo, otimista e cheio de esperança da fala presidente. Uma coisa, no entanto, parece ter sido unanimidade: a excelente performance do comandante da maior potência do mundo (no palco e diante das câmeras). Barack Hussein Obama II sabe, como ninguém, entreter uma plateia.
Onze de janeiro de 2017. Nova Iorque. Segundo ato. “Sua empresa é horrorosa. (Já) vocês publicam notícias falsas”, disse Donald Trump a Jim Acosta, repórter da CNN, acusando a emissora de divulgar o suposto relatório de inteligência indicando que a Rússia manteria um dossiê secreto e comprometedor contra ele. Aos berros, Acosta alegou que o seu veículo estava sendo atacado pelo presidente eleito e que exigia o direito de resposta. “Você está despedido”, bradou o republicano, fazendo piada alusiva ao seu antigo programa de TV. Detalhe: a cena aconteceu na primeira entrevista coletiva oficial do novo governo, prenunciando o que certamente vai ser o relacionamento da Casa Branca com a opinião pública nos próximos quatro (ou oito) anos.
De volta a Obama: o agora quase ex-presidente (que deixa o cargo oficialmente no próximo dia 20) foi um dos melhores oradores que passou por Washington nos últimos anos. Dinâmico e carismático, soube monopolizar atenções como candidato e presidente e não desperdiçou uma boa oportunidade de mídia, conquistando a simpatia de parcela significativa dos públicos ianque e estrangeiro. Conta-se nos bastidores que, certa vez, durante uma viagem ao exterior em 2014, o democrata foi ao fundo do avião fazer uma “declaração em off” aos jornalistas. Brincando, Obama teria dito que a sua política externa era “não fazer nenhuma merda”. Os repórteres, claro, ficaram encantados com a confiança, sentindo-se “os homens do presidente”.
Tudo, claro, não passou de encenação. Um ato milimetricamente ensaiado e parte de uma estratégia macro de relacionamento com os meios de comunicação. Obama não foi o pioneiro: segundo pontuou a jornalista Susan Milligan em artigo para a Columbia Journalism Review, “John Kennedy já realizava conferências frequentes com a imprensa. Jimmy Carter jogava softball com repórteres. E Bill Clinton chegou a participar de um jantar não-oficial com jornalistas afro-americanos na casa do então correspondente da Casa Branca William Douglas”.
Donald Trump, todavia, tem se mostrado o oposto. Um verdadeiro “anticase” de relações públicas: xinga repórteres, humilha pessoas com deficiência, demoniza a imprensa e faz piada fora de hora. “Odeio algumas destas pessoas (jornalistas). Eu os odeio. Mas nunca iria matá-los. Eu nunca faria isso”, afirmou na época da corrida eleitoral à presidência. Segundo Gene Policinski, diretor do Instituto Newseum e do Institute of the First Amendment Center, na história ianque pouquíssimos políticos desafiaram a mídia tão abertamente.
Nos dias de hoje, porém, de acordo com o diretor, ficou “menos prejudicial” deflagrar guerra contra os veículos de comunicação porque, diferente do passado, hoje os mandatários conseguem atingir diretamente a população via mídias sócias. “Ter em um grande partido um candidato que tantas vezes desprezou o papel dos meios de comunicação e atacou a figura do repórter é prejudicial. Banir importantes veículos de mídia, impedindo seu direito de informar, é ameaçador”, destacou Policinski em entrevista a O Globo.
Obama é um excelente case de media training. Em cena, atua como protagonista. Trump, ao contrário, estar mais para personagem antagônica – fico imaginando os calafrios que deve dá no time de RP. Na “arena das relações públicas”, no teatro da política, ambos estão em lados opostos.
Na última entrevista concedida antes de deixar o governo, ao “60 Minutos”, cuja audiência é uma das maiores audiências da TV norte-americana, Barack Obama abordou a questão. Durante a conversa, que vai ao ar no próximo domingo (15) na CBS, o democrata reconheceu que nem sempre ganhou a batalha das relações públicas, mas que, no geral, conseguiu imprimir um estilo favorável à gestão do país. “Fazemos parte da primeira administração da história moderna que não houve um grande escândalo na Casa Branca. E fomos muito eficazes na formação da opinião pública”, disse.
É, Trump, o palco é grande é há um longo caminho pela frente. Sendo você, contratava o Obama como consultor de RP e facilitador de media training. Eu sei que não é fácil. Mas tente, experimente, consciente. Afinal: “yes you can”.
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