Os fãs de hoje são os linchadores de amanhã

“Os fãs de hoje são os linchadores de amanhã”, disse Cazuza em “Vai à luta”, década de 1980.

Ano passado, o ano do Impeachment, Reinaldo Azevedo era quase onipresente. Estava (e ainda está) na TV, na web, rádio, jornal, lançando livros. Seus seguidores se jogavam aos seus pés. “Petralha”, definição criada por ele, entrou de vez na boca dos brasileiros – gostando ou não.

Hoje, vá aos comentários dos vídeos, textos e programas de rádio pra ter um pequeno raio-x dos “linchadores de amanhã”.

Reinaldo mudou, dizem alguns. Reinaldo é um petista travestido, escrevem outros.

Isso tá rolando não só com Reinaldo. Além de articulistas, independentes de suas matizes filosóficas, perceba os veículos.

Se uma parte sai daquilo que é esperado, a porradaria estanca. Se uma parte não escreve exatamente o que é desejado, a porradaria estanca. Se uma parte não coloca letras garrafais no que o outro acredita que deveria ter, tipo editor, a porradaria estanca.

Nessa birutice, O Globo já foi acusado de golpista por quem apoiou o impeachment. Procure os comentários. A Veja já foi criticada por não dar capas ao Moro – isso por quem levava a revista para protestos. Procure os perfis.

Outros exemplos são fáceis de serem conseguidos.

Muitos veículos – os grandes ainda resistem – estão seguindo perigosamente o efeito manada: precisam entregar o que seu público quer, esquecendo que os fãs de hoje podem ser os linchadores de amanhã.

Com isso, o debate plural vai perdendo cada vez mais força. Chegaremos logo em somente grunhidos, como antecipara José Saramago.

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Thiago S. Gomide. Apresentador na empresa Rádio Roquette Pinto FM e fundador da fan page Tá na História.