Os jornais que eu vendia e não lia

A notícia de que o “Jornal do Brasil”, centenário diário carioca que havia deixado de ser impresso em 2010, voltou, no último 25 de fevereiro, me deixou tão surpreso – uma vez que o periódico retorna já sabendo que o jornalismo impresso está com os dias contados, passará a existir apenas na internet – quanto me fez lembrar de que nunca sujei tanto as mãos de tinta do que na época em que vendia jornais na rua. Quando, entre 1976 e 1979, minha mãe e meu padrasto me disseram que não estavam gostando nem um pouco de me ver à toa na vida, só assistindo televisão (na casa dos outros), brincando (na rua) e lendo gibi, ficou bem claro para mim que já estava na hora de fazer alguma coisa para ajudá-los a pagar as despesas da casa, ou, melhor, do cômodo. Fui vender jornais para o dono da banca que ficava na avenida Getúlio Vargas e, depois, para o da que ficava na esquina da Costa e Silva com a Médici, em Osasco, com a diferença de que, na primeira, as vendas eram feitas não só na rua, no fim de semana, mas também na banca, depois que eu voltava da escola. Não me lembro de quantos exemplares ajeitava embaixo do braço, mas, pela quantidade de ruas pelas quais tinha de passar para não voltar com nenhum jornal e pelo peso do “Diário Popular”, de “O Estado de S. Paulo” e da “Folha de S.Paulo”, de cujo caderno infanto-juvenil, “Folhinha de S.Paulo”, eu me apoderava quando não tinha dinheiro para comprá-lo para usar nas aulas de leitura e interpretação de texto, deixando algum exemplar incompleto, sei que “A Gazeta Esportiva”, o “Popular da Tarde”, irmão do “Dipo” e concorrente da “Gazeta”, e a “Folha da Tarde”, de propriedade da Folha da Manhã, mesma empresa que publicava a “Folha” e o “Notícias Populares”, matutino sensacionalista que, como se dizia, se torcesse, saía sangue, eram os que eu mais levava, dos quais só a “Folha” e o “Estadão” ainda existem.

Edson de Oliveira. Revisor de textos há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio e textos jornalísticos, é editor dos blogues EFMérides e Blogue da Revisão.

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Edson de Oliveira

Revisor há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio, textos jornalísticos e acadêmicos, é editor dos blogues “Café Elétrico” e “Blogue da Revisão”.

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