Em um cenário econômico global caracterizado por frequentes oscilações cambiais, empresas importadoras e exportadoras enfrentam desafios significativos para manter a estabilidade financeira e a competitividade no mercado. As flutuações do câmbio têm impacto nos custos de importação, afetando diretamente a margem de lucro das empresas.
A falta de proteção adequada pode resultar em prejuízos consideráveis, especialmente para as importadoras de menor porte, que possuem capacidade limitada para absorver perdas financeiras.
A magnitude do problema pode ser ilustrada por meio de uma simulação realizada pelo Ouribank: uma empresa importadora negociou uma compra no valor de US$ 100.000 no início deste ano para pagar em junho de 2024. Em janeiro, a cotação média do dólar era de R$ 4,90, com a conversão totalizando R$ 490.000. Já em junho, data do pagamento, o dólar subiu para R$ 5,35, elevando o valor para R$ 535.000. Se a empresa não se protegeu, enfrentou um gasto 9,2% maior do que havia projetado anteriormente.
Segundo Raphael Coracini, Gerente de Mesa de Câmbio e Derivativos do Ouribank, boa parte das empresas brasileiras de pequeno e médio portes, no entanto, não utiliza os mecanismos de proteção existentes no mercado, como as travas cambiais, para negócios realizados em moeda estrangeira. Isso porque muitos empresários desconhecem o que é hedge e têm receio de perder recursos, quando, na verdade, os instrumentos existem para evitar perdas.
“O hedge é uma estratégia financeira que permite às empresas fixar uma taxa de câmbio para suas transações futuras, protegendo-as das flutuações cambiais. E esse instrumento não está restrito apenas a companhias de grande porte. Pequenas e médias empresas também podem se beneficiar enormemente dessa prática, garantindo uma gestão mais eficiente e segura de seus recursos. Para as importadoras menores, a implementação de hedge é vital para estabilizar os custos e planejar com mais precisão suas operações financeiras,” explica Coracini.
Benefícios do hedge
Previsibilidade de custos: Com o hedge, as empresas conseguem prever com maior precisão os custos de importação, o que facilita a gestão do fluxo de caixa e o planejamento orçamentário.
Mitigação de riscos: Ao proteger-se contra variações cambiais, as importadoras reduzem o risco de perdas financeiras, mantendo a estabilidade de suas operações.
Competitividade: Empresas que utilizam hedge podem oferecer preços mais estáveis e competitivos no mercado, aumentando a confiança dos clientes e parceiros comerciais.
Planejamento estratégico: A previsibilidade proporcionada pelo hedge permite um planejamento estratégico mais eficiente, possibilitando investimentos e expansões com maior segurança.
“A adoção de estratégias de hedge é essencial para enfrentar as variações cambiais e assegurar a sustentabilidade financeira do negócio. Investir em proteção cambial também fortalece a posição da empresa no mercado, criando um ambiente mais seguro para o crescimento e a expansão dos negócios”, completa Coracini.
Opções e estratégias
Existem várias opções de hedge que as empresas podem utilizar, incluindo contratos a termo (trava de câmbio), contratos de diferença (NDF) e opções de câmbio. Segundo o especialista, a escolha da melhor estratégia de hedge depende de diversos fatores, como a natureza da exposição cambial, o horizonte temporal da transação e a tolerância ao risco da empresa.
Trava de câmbio: Semelhante à operação de câmbio padrão, mas com liquidação em uma data futura específica. Esse método requer a apresentação de documentação que comprove a transação de importação e permite à empresa fixar a taxa de câmbio para uma data futura.
Contratos de diferença (NDF): Uma operação de derivativo que não exige a apresentação de documentos de câmbio no momento da contratação. Ideal para empresas que ainda não tem a data de pagamento exata, pois nessa modalidade é possível realizar a liquidação da operação previamente. O NDF oferece proteção contra a variação cambial, compensando a diferença entre a taxa de contratação e a taxa de vencimento.
Opções de câmbio: Permitem à empresa comprar o direito de trocar moeda a uma taxa específica, oferecendo flexibilidade para se beneficiar de quedas na taxa de câmbio enquanto ainda se protege contra aumentos desfavoráveis.
“Para escolher a melhor estratégia, é essencial realizar uma análise detalhada da exposição cambial e dos objetivos financeiros da empresa. Consultar especialistas financeiros pode ajudar a identificar a combinação ideal de instrumentos de hedge, garantindo uma proteção eficaz e eficiente”, conclui Coracini.