O processo de reconhecimento da cidadania italiana poderá ser bem-sucedido se houver uma documentação que legitima a descendência. Em casos nos quais exista a dificuldade em reunir informações de antepassados, seja por não encontrar o ascendente italiano, não ter certeza sobre sua origem, ou ausência de algum campo ou dado referente ao nascimento, casamento ou óbito dos descendentes, é imprescindível o serviço de pesquisa genealógica.
A pesquisa genealógica não é simples, pois envolve curiosidades históricas, geográficas e sociais da Itália. Para o bom desenvolvimento desse processo de busca, é necessário conhecer os eventos que moldaram o país, e também os motivos que levaram famílias inteiras migrarem para outros países, incluindo o Brasil.
Um levantamento histórico foi realizado por Fernando, pesquisador da Simonato Cidadania, dá conta que na época da unificação italiana, em 1861, existia uma região entre as regiões norte e sul do país. O norte italiano possuía maior nível de industrialização e de alfabetização, enquanto o sul sofreu de forma significativa com a crise na segunda metade do século XIX. As dificuldades financeiras, fome e as poucas oportunidades de trabalho fizeram que muitos italianos optaram por buscar uma vida melhor em outras nações, como o Brasil.
Os registros de italianos no Brasil
As primeiras famílias italianas chegaram ao Brasil em 1870, com maior fluxo entre 1880 e 1990. Os imigrantes vindos de regiões rurais da Itália foram trabalhar em lavouras nas regiões sul e sudeste. Com alta taxa de analfabetismo no país a época e escrivães com pouca instrução, erros ocorreram nos registros de nomes e sobrenomes dos primeiros descendentes dos italianos.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Itália estava com sua economia estagnada. O país estava dividido e empobrecido. A insatisfação dos italianos rendeu um novo fluxo de migração para o Brasil. Essa segunda fase da imigração trouxe mais esclarecimentos em relação ao registro dos imigrantes, também por serem responsáveis pelo seu cadastro, o que favorece o processo de busca neste período.
O pesquisador da Simonato Cidadania pontua que essa confusão é uma das grandes dificuldades encontradas no processo de pesquisa genealógica, quando trata-se de uma família que descende de um imigrante desse período.
A terceira fase da imigração italiana no Brasil ocorreu durante o período da Primeira República. Neste período, os italianos imigraram para latifúndios paulistas, mineiros e fluminenses e colônias no sul do país durante o período de 1889 e 1903. Essas pessoas só chegaram aqui pois tinham uma carta-convite em mãos, e só poderiam embarcar se fossem convidados e possuíssem uma residência firmada. Os registros desta época são facilmente encontrados se comparados aos fluxos anteriores de imigração.
A busca pela origem dos sobrenomes
Para o pesquisador Fernando, dificuldades no processo de busca por registros surgem quando o italiano muda o nome e o sobrenome. No caso de órfão de pai e mãe, a pessoa assume o sobrenome dos pais de criação. “Pode ser por ignorância em não saber reproduzir na escrita o sobrenome corretamente ou por usar simplesmente uma alcunha durante a vida e assim ser conhecido mais por esta alcunha do que pelo nome verdadeiro”.
A tecnologia é uma grande aliada no processo da pesquisa genealógica. Sites como o FamilySearch ajudam na busca pelo acesso aos documentos e registros de imigrantes italianos. No entanto, a procura não envolve apenas digitar em um campo de busca o sobrenome italiano e localizar os registros de forma simples. Em muitos casos, é necessário pesquisar a origem e a história do nome da família, para que seja possível localizar o italiano.
Outra dificuldade encontrada é quando os atos civis ou religiosos foram realizados em zonas não pesquisáveis de maneira online. “O que torna a dependência do detentor dos registros originais muito alta, ficando deste modo a mercê de sua boa vontade”, esclarece o pesquisador da Simonato Cidadania.
A importância da paleografia na cidadania italiana
Muitas vezes a identificação dos documentos ocorre de forma rápida, mas pode ser necessário solicitar à região o acesso ao registro. E por depender de terceiros, o prazo pode se estender por meses. Em caso de divergência entre nomes e sobrenomes, é necessário solicitar a fotocópia do livro. E a dificuldade aumenta, pois a maioria dos registros de batismo são escritos à mão, pelo pároco.
Fernando conta que é comum que o escrivão não tenha conhecimento de paleografia, que é o estudo da escrita antiga, e não consegue identificar as letras, grafadas antigamente de formas diferentes em cada região da Itália. “O processo é complexo e cheio de nuances. Não basta encontrar o registro, é necessário entender o que ele diz”, ressalta.
Quando o sobrenome é muito específico de uma região, logicamente tudo é mais fácil, porém a maior dica é não confiar 100% na grafia que constam nas certidões de italianos fora da Itália, aponta Fernando. Segundo ele, deve-se analisar o conjunto de certidões, e se é possível localizar mais registros de familiares em primeiro grau deste italiano. Sobre o processo mais desafiador de sua carreira, ele afirma que que muitas vezes o registro encontrado não tem nada a ver com os nomes e sobrenomes solicitados.