Se para empresas baseadas em escritórios, a mudança para o home office durante a pandemia exigiu muito da comunicação interna, imagine para aquelas que têm colaboradores no chão de fábrica. Essa foi a experiência vivida pela Pirelli.
Basta fazer um paralelo entre os dois perfis para entender o grau de dificuldade. Você, que é profissional de comunicação, está acostumado à realidade dos 22,7% dos trabalhadores brasileiros que tiveram a possibilidade de, durante a pandemia do Covid-19, trabalhar de casa. Os dados são do El Pais. Isto significa que o acesso a ferramentas como email, intranet e WhatsApp se manteve inalterado.
Acontece que a comunicação com o trabalhador que fica lá na ponta, dentro da fábrica, é normalmente feita por outros meios, quase sempre físicos ou interpessoais. Quando eles tiveram de ser enviados para suas casas para se proteger do coronavírus, por tempo indeterminado, o desafio veio à tona: como manter a comunicação ativa?
Esta pergunta foi feita a Fernanda Barazal, especialista de comunicação interna sênior da Pirelli. A resposta está em formato de podcast no final deste post. Mas o extrato, você pode ler nos parágrafos a seguir.
Se de repente a empresa não pôde mais enviar um comunicado que chegasse a todos os colaboradores de uma só vez, o jeito foi fazer com que o recado fosse passado adiante.
“A gente acabou usando os supervisores e os líderes para descer essa comunicação de uma forma mais rápida e ágil. Eles usaram os próprios grupos de WhatsApp para se comunicar com as equipes. Por mais que a comunicação interna faça um papel de disseminação, quem conhece pessoalmente as equipes são os supervisores e os líderes diretos”, detalha Fernanda.
Em outras palavras, foi um grande telefone sem fio. O curioso é observar como de repente a teoria acontece na prática.
No caso, estamos falando da Teoria dos Sistemas, que nasceu nos anos 50 a partir das ideias do sociólogo americano Talcott Parsons e foi aprimorada na década de 70 pelo alemão Niklas Luhmann. Suas aplicações são muitas, especialmente no campo da Comunicação, mas o que nos interessa aqui é o desenho abaixo.
Em tese, antes da pandemia a comunicação interna da Pirelli praticava o modelo centralizado, o que é até natural dentro de uma empresa. Ou seja, a mensagem saía de um ponto e chegava a todos os demais.
A solução descrita por Fernanda foi partir para o modelo descentralizado, em que os supervisores e líderes cumprissem o papel de redistribuidores da comunicação.
Uma curiosidade: note que, se você apagar todas as linhas dos três desenhos, os pontos ocupam as mesmas posições relativas.
Talvez, em algum momento, a comunicação dentro da Pirelli possa até se tornado distribuída, seguindo o modelo do desenho mais a direita, em que todos conversam entre si: colaboradores de todos os níveis e empresa, inclusive.
Aliás, recentemente publicamos um outro post, também com podcast incorporado, contando que o McDonald’s lançou um app de celular com o intuito de descentralizar a comunicação — e isso acabou sendo útil na pandemia.
No caso da Pirelli, a descentralização foi necessária porque a conta era aflitiva: dos cerca de 2,6 mil colaboradores, cerca de 2 mil não tinham a possibilidade de trabalhar em regime de home office. Isso representa 80% da força de trabalho. Mas isso não significa que a descentralização seja o único caminho. A comunicação segue a sua rotina de informar e educar os colaboradores, aproveitando inclusive o aprendizado de unidades de outros países.
Fernanda lembra que não só a empresa, mas o mundo inteiro foi pego de surpresa. Como algumas unidades da Pirelli — presentes na China e na Itália — sentiram o impacto do coronavírus antes de chegar ao Brasil, foi possível observar algumas medidas para promover a comunicação interna com segurança.
É claro que, para isso, foram necessários alguns ajustes pontuais aqui, no Brasil, já que as decisões relacionadas ao distanciamento social não seguiram uma diretriz federal, mas estadual.
Além disso, por conta das diferenças nos sindicatos entre estados brasileiros, a Pirelli agilizou a compreensão de cada cenário para repassar aos funcionários as respectivas regras com o auxílio do setor de RH. Complementarmente, ações de engajamento foram idealizadas, como:
Isso tudo permitiu que a comunicação de toda a empresa fosse não apenas eficiente, mas engajada nos cuidados de saúde (física e psicológica) dos profissionais — estando em home office ou não.
Para os profissionais do chão de fábrica, a Pirelli também investiu em uma remodelação na rotina, demarcando espaços nos veículos fretados e também no restaurante, para que o distanciamento social fosse respeitado, além de orientações para o uso e descarte correto da máscara facial.
Para Fernanda, muitas mudanças ocasionadas pela pandemia podem ser mantidas durante o pós-pandemia, quando efetivamente tivermos uma vacina.
O home office é uma delas. A necessidade de uma viagem de profissionais e até mesmo o uso de instrumentos de saúde, como a própria máscara, são algumas medidas que podem vigorar para promover mais saúde e qualidade de vida aos profissionais — além de reduzir custos para a empresa.
Por exemplo: com mais home office, que já era implementado em dias previamente agendados, não há necessidade de um espaço físico tão grande para esses setores. Cabe também a reflexão para todos nós sobre o que vai se adotar não apenas nos hábitos de rotina, como para a vida em geral.
A conversa com Fernanda Barazal foi tema da 223ª edição do Podcast-se, que foi ao ar em junho de 2020 — e que você ouve abaixo.
O Podcast-se é o podcast oficial do Grupo Comunique-se. Está no ar há mais de três anos e já tem mais de 200 episódios no ar. Figura entre os top-10 podcasts de Marketing do Brasil segundo o ranking de audiência do Chartable. Está disponível nas principais plataformas, como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras.
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